O que dizer de uma banda que mesmo antes de lançar seu primeiro álbum de estúdio já está envolvida em uma polêmica que envolve grande gravadora, censura, ideologias nefastas e a defesa do Heavy Metal?
O Defenders Of The Faith é o mais novo projeto direcionado ao Heavy tradicional formado pelo guitarrista e líder do Therion, Christofer Johnsson. O músico pretende dessa forma homenagear todo o estilo com o lançamento do seu primeiro disco de inéditas intitulado “Odes To The Gods”. O registro tem previsão de lançamento para o próximo dia 27 de junho, mas curiosamente, chegará às lojas e plataformas de streaming de forma independente.
O projeto representa um sonho de juventude para Johnsson, como você certamente irá perceber no relato abaixo. O primeiro single se chama “Darkside Brigade” e foi disponibilizado no último dia 19 de fevereiro no canal oficial do Therion. Você pode conferir a música através do link abaixo:
Tudo estava indo muito bem, até que ocorreu uma situação no mínimo bizarra envolvendo a banda e uma grande gravadora. Não vamos desperdiçar o seu tempo tentando explicar o que aconteceu, ao invés disso, fizemos a tradução do relato completo feito pelo músico. Percebam o nível de alienação e insanidade ao qual a sociedade atual está mergulhada.
Com vocês, Christofer Johnsson em um dos episódios mais surreais dos últimos tempos:
“Originalmente eu estava planejando lançar o álbum do Defenders Of The Faith na minha própria gravadora. Mas porque estou financiando 4 gravações de álbuns ao mesmo tempo e até paguei algumas gravações que vão culminar em álbuns do Therion em 2028/29, eu estava exagerando com minhas finanças. Eu também não esperava muito ter que lidar com todos os problemas em torno da fabricação e distribuição física. Ou todo o trabalho de ter que marcar entrevistas com revistas, comprar anúncios, etc. Então olhei em volta para ver se alguma gravadora queria licenciar o CD/vinil, para deixar de lado alguma carga de trabalho que pudesse me aborrecer, diminuir algumas despesas e, em vez disso, receber um adiantamento que eu poderia usar para aumentar um pouco o orçamento de gravação e aumentar a promoção digital. O plano funcionou muito bem, consegui um contrato com um dos maiores selos de Metal e tudo estava bem.
Tínhamos nosso primeiro single digital que sairia dentro de uma semana e estávamos planejando lançar a capa do álbum, o tracklist e também anunciar a gravadora que assinou com a banda. Seria um grande anúncio, um boom (é assim que essa gravadora prefere). Eles também queriam ter fotos promocionais para o anúncio, mas como os membros vem de todo lugar do planeta, não podemos voar para nos encontrar só para tirar fotos. Então, teríamos que fazer isso quando estivéssemos todos juntos para as gravações dos videoclipes, que seria depois desta importante data de anúncio.
Então nós decidimos que eu faria algumas fotos solo por enquanto e tiraria fotos da banda completa mais tarde. Fui instruído que a gravadora não queria fotos chatas, mas sim algo “na linha de Les Fleurs Du Mal”. Então, algo atraente. Muito bem. Tive a ideia de misturar algumas impressões dos anos 80 que significavam muito para mim naquela época. Naqueles tempos, as bandas muitas vezes posavam com um instrumento, então peguei a guitarra. Eu também pensei em fazer um pouco de pose, muitos artistas que significaram muito para mim posariam assim; WASP, Dee Snider, Rudolph Schenker, Venom e muitos mais.
Três capas de discos que me causaram uma enorme impressão nos meus primeiros anos de Metal foram:
Saxon – “Saxon”, estreia com o guerreiro selvagem com a espada
Motörhead – ”Bomber”, com a banda num avião de ataque fictício a lançar uma bomba enquanto Animal Taylor dispara uma metralhadora.
Accept – ”Russian Roulette”. Quando eu era criança, na época dos meus 14 anos, achei que era uma capa muito legal e lembro-me que uma vez deixei minha mente flutuar para longe e fiquei pensando quem seria atingido se eles tivessem jogado o jogo da capa com uma arma de verdade (claro que Jörg Fischer acabaria estourando a própria cabeça, o cara menos legal da banda).
A ideia foi tirar fotos da banda com armas. Em parte porque combina com o nome da banda. E em parte porque sou um atirador tático, então tenho toneladas de armas que podem ser usadas como adereços. Então eu tentei fazer algumas fotos combinando looks zangados de WASP em 1984 em combinação com aquelas capas de discos que mencionei e usando minha amada guitarra Flying-V. Eu vesti uma camiseta do Saxon, do “Wheels Of Steel” (um dos meus álbuns favoritos de Heavy Metal + também há uma música chamada “Machine gun” que combinava). Também é visualmente uma ótima camiseta, porque é elegante e nítida, fica ótima numa foto.
Havia muitos sorrisos e gargalhadas entre as sessões para essas fotos, elas foram realmente feitas com um tom de desprezo e só foram feitas para serem usadas no início para chamar alguma atenção, talvez mais tarde como algumas fotos adicionais.
Para minha grande surpresa, a gravadora respondeu que recusou essas fotos. Explicando que “a águia na camiseta tem semelhanças com a águia alemã dos anos 30/40” e eles pensaram que alguém poderia ficar triste e zangado vendo uma arma na foto sendo que “agora há guerra e miséria na Ucrânia e em Gaza”. Não é como se eles estivessem expressando as suas próprias opiniões, eles tinham MEDO do que os outros poderiam dizer. Eu fiquei… atordoado. Pelo amor de Deus… Além do fato de que os romanos usaram essa águia desse mesmo jeito por mais de 1000 anos e o Saxon usa há 45 anos. Nas suas 3 capas de álbuns mais populares e como uma enorme decoração brilhante de palco que desce sobre a banda. Em frente a 80.000 pessoas em festivais. Na Alemanha. Com um membro da banda vestindo exatamente esta mesma camiseta. Então, como é que alguém no seu perfeito juízo pode ter a ideia na sua cabeça de que isto pode ser problemático??!? E depois a arma… É tão estúpido que me faltam palavras.
Reprodução/Facebook
Em vez dessas fotos, eles propuseram que eu pudesse vestir-me de cavaleiro e fazer uma versão mais familiar. Qualquer pessoa que realmente me conhece não ficaria muito surpreso que eu, claro, nunca iria me curvar e fazer algum tipo de versão Disney da banda. ESPECIALMENTE não estou a fim de mijar no meu próprio material agora que estou realizando um sonho de infância. Heavy Metal nos anos 80 era considerado “perigoso”. Tinha pessoas sentadas em programas de TV suecos falando sobre proibição de bandas, queriam censurar álbuns nos EUA e em Malta (onde moro agora), era proibido importar álbuns satânicos ou muito violentos. O Heavy Metal naquela época era X-rated e nós éramos rebeldes, muitas vezes desafiando nossos pais ao ouvir músicas que eles consideravam barulho tocado por lunáticos. Na minha escola era proibido usar camiseta do WASP. O que, claro, significava que você era o garoto mais foda da escola se usasse uma camiseta dessa debaixo de outra coisa, mostrando-a em segredo aos teus amigos. DESAFIANDO os adultos que queriam ditar quais camisas de banda você pode vestir. Então eles descobriram que não há uma maldita chance de alguém me dizer que camiseta de banda posso vestir quando tenho 52 anos e estou fazendo um álbum celebrando esses primeiros dias de glória.
Eu disse a eles, as fotos ficam e vocês podem viver com isso ou largar a banda. Então, no ano de 2025, uma enorme gravadora de Metal (lançando bandas de Death e Black Metal com letras extremas e, com certeza, deixando muita gente religiosa triste) decide deixar uma banda que acabaram de assinar (e cujo álbum eles realmente gostaram), uma semana antes do primeiro single ser lançado… porque é muito controverso para eles… usar uma camiseta do Saxon?
Então é por isso que estou lançando o álbum de forma independente. Nada demais nisso, esse era o plano original. Mas agora isso foi bem repentino e dado o fato que vou devolver o adiantamento que me pagaram, vou ter que pagar pela prensagem do álbum e toneladas de outras despesas para as quais não fiz orçamento, isso meio que estraga o meu fluxo de caixa. Não quero atrasar os lançamentos previamente calculados, então pensei em ver se alguém está disposto a algum financiamento ao estilo crowdfunding para me tirar da confusão temporária (alguns já fizeram, um grande Obrigado!) e vou apenas pedir emprestado o resto do dinheiro que falta. O vinil pode sair ligeiramente atrasado devido à situação, mas os lançamentos digitais e CD permanecerão dentro do prazo.
Como resultado de toda a situação, aquelas fotos que pretendiam ser um pouco divertidas agora transformaram-se em coisas sérias. Músicas como Twisted Sister – ”You can’t stop rock n’ roll” e Keel – ”The Right To Rock”, acabaram de passar de canções antigas e datadas (com videoclipes ainda mais datados) para uma inspiração para defender o seu direito de soar e fazer o que quiser e não deixar ninguém dizer o que você tem que fazer. 2025 acabou de se tornar 1984 para mim. Nunca esperei que essa viagem nostálgica ao Heavy Metal fosse tão literal, ha ha!
Então decidi fazer uma camiseta para homenagear aquela foto que seria a foto que a banda ia ser lançada. Ainda não tivemos a oportunidade de fazer um design completo para ela, mas vamos escrever algo arrogante na parte de trás. Esta camiseta só estará disponível até o prazo limite para impressão a tempo de pegar o lançamento do álbum. É um manifesto de luta contra a censura, cultura do cancelamento e a estupidez que alguns querem te impor em geral. Dado o quão preocupadas, sem humor e aborrecidas as pessoas estão hoje em dia, acho que aquelas 15 pessoas (possivelmente) que realmente vão encomendar e vestir uma camiseta dessas podem se sentir muito fodas com isso. É como estar no pátio da minha escola em 1984 e usar uma camiseta do WASP e recusar-se a tirá-la ou escondê-la.”