O guitarrista Kiko Loureiro concedeu uma nova entrevista ao canal Raul Ferreira Netto Sem Limites e foi convidado a falar sobre as suas influências na música. Kiko disse:
“Nas músicas, há uma influência de Metal, de quando eu era moleque. Estudei no colégio Rio Branco, em São Paulo, Higienópolis, tradicionalzão, né. Teve o Kiss aqui no Brasil e depois teve o Rock In Rio, em 85, eu fiquei fascinado com aquelas bandas, Iron Maiden, Queen, Ozzy Osbourne, AC/DC, e na biblioteca do colégio tinham os discos de vinil lá pra gente pegar e ouvir. Então eu fui pegando Deep Purple, Scorpions, Pink Floyd, essas bandas, então eu fui descobrindo esses álbuns à partir da biblioteca.
Quando dava, eu ajuntava um dinheirinho e comprava um outro álbum. Comecei com a guitarra quando tinha uns 14 anos e eu queria tocar aquelas músicas lá que eu ouvia. Fiz violão clássico um pouquinho, mas foi dois aninhos só. Mas violão clássico não fiz como tem que ser, como é com a galera que vai para o violão clássico mesmo. Com seriedade. Meu início é no violão, só que meu início no violão é aprendendo os primeiros acordes e a tendência é que se vá pros livros de música clássica, pras primeiras peças de violão e etc. Então eu fiz isso, aprendi a ler partitura, mas não era bem aquilo que eu queria por que eu tava ouvindo os caras que tocavam guitarra, e meu próprio professor de violão na época, ele falou ‘vai pra guitarra que você é mais um cara da guitarra’.
E aí eu comprei uma guitarra, que era o que estava ouvindo, fui ter aula de guitarra mesmo pra aprender os solos do Led Zeppelin, do Van Halen. Então esse é meu começo. E aí eu entro de cabeça não só nas bandas de Metal, mas eu começo a ouvir os guitarristas de música instrumental. Os virtuosos. E tem toda uma linha de música nesse início de caras virtuosos que fazem músicas instrumentais assim como tem no piano e outros instrumentos.”
Questionado se Joe Satriani seria um desses virtuosos, Kiko responde afirmativamente:
“Joe Satriani seria um dos ícones dessa época aí. Músicas super legais, bonitas melodias na guitarra. E assim, tem isso no piano, no mundo da bateria, todo instrumento tem seus grandes instrumentistas e tem seus álbuns, suas músicas e você entra nesse mundo e pira em cima disso. Você tem as bandas que tem os grandes guitarristas, o Van Halen com o Eddie Van Halen, o Led Zeppelin com o Jimmy Page, você tem isso e você vai ter os caras da música instrumental. Eu fui muito pra esse lado, então eu fiz meus álbuns muito nessa linha, do instrumental, do virtuoso, do guitarrista…”
Neste momento, Kiko foi questionado se todo esse processo não depende de letras de música. Ele disse:
“Exato, no caso, é música instrumental, é como a música erudita, também não tem letra, como tantas músicas não tem letra, as próprias óperas do Tom Jobim quando ele começou também não tinham letra, depois foram letradas por outras pessoas. Então, a música instrumental é muito forte, até por que o que comove mesmo as pessoas é a música. A letra nem sempre. Se não fosse assim, não tava cheio de brasileiro ouvindo música americana que não entende nada do que está sendo falado. Chorando e se emocionando, sem entender nada do que tá sendo falado. Então a letra é um componente importante, mas a gente vê como exemplo que a gente ouve música estrangeira muitas vezes sem saber o que os caras estão falando.”
Nesse momento, Kiko faz uma leitura dos motivos que fazem a música regional ou doméstica de um país, ser mais forte naquela região e muitas vezes não alcançar públicos muito grandes em outras localidades que falam outros idiomas. Ele disse:
“Por isso que a música doméstica é geralmente mais forte no seu país, a música brasileira, aqui, é mais forte que uma música estrangeira, ainda né. Um sertanejo, por exemplo. No Japão também a música doméstica vai ser, nos Estados Unidos, óbvio, França, Itália, você vai ter os grandes artistas locais que a gente não fica sabendo quem são, mas eles são fortes na música doméstica. Na Finlândia também tem, mas na Finlândia os caras já começam com uma postura quase americana, os caras já pensam, ‘vou ganhar o mundo’, já vai pro inglês.
O americano ele já tá lá, a língua é o inglês, já tem uma cultura imperialista mesmo de ‘o mundo é meu’, culturalmente tudo ajuda, os produtos estão lá, são distribuídos pelo mundo, os McDonalds, Starbucks e tal, Fenders e Gibsons, tipo, os produtos já estão no mundo, por que uma banda não vai estar também? É meio que natural essa possibilidade. Um país como o Brasil não tem essa vocação.”
Opinião Mundo Metal
É um pensamento absolutamente correto. Costumamos brincar internamente que muitos já começaram a ouvir e gostar muito de determinadas músicas e depois descobriram que a letra era boba ou ruim. Mas o contrário não é verdade, ninguém começa a gostar de uma música ruim por conta de uma letra boa.
Obviamente, aqui no Brasil temos dois problemas principais. Um deles é a mentalidade impositiva de alguns headbangers que querem enfiar regrinhas bobas no Metal e tentam fazer com que essas regras desçam goela abaixo na marra. Isso ocorre quando determinada banda defende abertamente determinados princípios ideológicos e, muitas vezes, faz militância em prol desses princípios. Há quem queira te obrigar a gostar ou desgostar da música desses artistas por conta de concordar ou não com o que está sendo dito nas letras.
Um outro problema, e apesar de mais generalizado, está muito de acordo com as falas de Kiko Loureiro, é que realmente a música regional tende a ter um peso muito maior culturalmente falando. A maior parte dos brasileiros não tem acesso, não falam outros idiomas e tendem a se identificar com uma música sendo cantada em português. O fator problemático ao nosso ver é o que é alçado ao mainstream e, dessa forma, é vendido como música brasileira de sucesso.
Escassez intelectual
Não há mais grandes discursos ou letras realmente críticas e inteligentes. O Rock nacional dos anos 80 fazia isso muito bem. Mas o que está “na boca do povo” hoje em dia são geralmente músicas do chamado Sertanejo Universitário. Elas abordam invariavelmente assuntos como “dor de corno”, “amores não correspondidos” ou “vingancinhas de gente traída”. Isso para não mencionar o funk e seus dialetos ininteligíveis como “tchum tchum tcha”, “tchê tchêrere tchêtchê” assim como os “senta, senta, senta, senta” da vida.
Traduzindo: ouvir música internacional mesmo sem entender o que está sendo cantado nas letras acaba sendo mais vantajoso.
Assista a entrevista completa: