Infelizmente, e isso pode parecer paradoxal, mas sim, é muito mais fácil agora produzir musicas e lança-las do que em 1989, por exemplo. Mas isso seria algo benéfico, correto? Vamos analisar calmamente o cenário e pontuar duas coisas:
Facilidade
Antigamente, era muito mais difícil produzir algo e publicar. Era necessário correr atrás de estúdios, gravar sua música, se dirigir até algum escritório de gravadora/editora e torcer para o material ser aceito. Além disso, você precisaria no mínimo ter uma quantidade aceitável de composições para gravar um disco, afinal, essa era a forma mais coerente de se obter sucesso na época.
Em contrapartida, hoje, se você possui algum dispositivo de gravação, um instrumento e alguma forma de carregá-lo em qualquer serviço de streaming (Bandcamp, Spotify, Deezer e etc.), então você tem os meios para divulgar sua música. Obviamente que fazer isso no modo “do it yourself” não irá resultar em uma divulgação de fato. Significa apenas que as canções estarão disponíveis para ser ouvidas. Fazer este material ter engajamento e, desta forma, partir para algo maior é uma outra história.
Quantidade
Devido as dificuldades já abordadas, era muito difícil termos uma quantidade absurda de discos gravados e publicados em um ano. Porém, com o atual avanço tecnológico, chegamos a números assustadores. Cerca de 120.000 músicas são enviadas para serviços de streaming diariamente, este é um número estatístico de junho de 2023, e essa quantidade se tornou ainda maior no período posterior.
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Em um relatório do Music Radar, Will Page, ex-economista-chefe do Spotify e PRS For Music, disse:
“Mais música está sendo lançada hoje em um único dia do que foi lançada no ano civil de 1989. E cada vez mais música está sendo feita pelos próprios artistas, o que significa que há ainda mais demanda por softwares de produção musical”.
Mais músicas, mais qualidade? Ou o oposto?
Qualidade nunca andou lado a lado com quantidade. Quando trabalhamos com números tão altos, criamos uma régua muito baixa e os parâmetros de qualidade vão abaixando cada vez mais. Isto faz com que escassez de materiais realmente bons faça coisas absolutamente aquém pareçam ser aceitáveis. Não me levem a mal, cada pessoa pode e deve ouvir o que quiser, mas vivemos uma época perigosa onde diversas cópias mal feitas de grupos clássicos tem inundado as plataformas com registros e músicas absolutamente esquecíveis.
Isso é observável facilmente no tipo de material consumido pela grande parte da população. Enquanto muitos (quantidade) subgrupos estereotipados continuam surgindo, como é o caso de diversos artistas de rap, trap, k-pop (as novas boy bands), a qualidade é anulada ou sobreposta por artifícios que não tem muita relação com a música em si. A alienação cultural é feita de uma forma com que todos busquem se contentar com pouco. A música é tratada apenas como uma espécie de faixa branca que serve como plano de fundo enquanto as pessoas fazem outras coisas “realmente importantes”. A paixão pela arte, o prazer de se contagiar verdadeiramente pela música e fazer com que ela embale grandes momentos sendo, inclusive, trilha sonora e protagonista de nossas vidas, parece não importar ou representar muito ultimamente.
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Graças a velocidade de informação gerada pelas redes sociais, a sociedade se fechou para a absorção de conteúdos qualitativos e se abriu para a absorção de conteúdos quantitativos. Ou seja, quanto mais rápido, mais eu posso ver/consumir. Com isso surgem os novos “hits” desta geração, em parte, vazia de conceitos aprofundados sobre música. São piadas de muito mal gosto que em anos atrás nem ganhariam a atenção da mídia, mas hoje se tornam o ápice da bajulação e chegam ao sucesso estrondoso no mainstream.
Se esforçar pra quê?
Mas o que tudo isso tem a ver? Simples. Se o consumidor estiver pouco se importando com a qualidade, não é preciso “perder tempo” com conceitos musicais complexos. Não é necessário estudar anos a fio para aprender a tocar algum instrumento. Basta apenas produzir qualquer coisa de qualquer jeito e publica-las de um jeito extremamente fácil e, pronto, muitos destes conteúdos serão aceitos pela população. E isso revela um outro problema muito grave. Os próprios “artistas” estão se levando muito pouco a sério e colocando o valor da arte em segundo plano.
Talvez seja o desejo de viver apenas de criação, mas meu palpite é que as pessoas buscam ganhar dinheiro de uma forma fácil. E por isso, vem a facilidade de poder “viralizar” com um investimento mínimo. Assim, recorrem a maior quantidade de material possível lançada nas redes.
É como um tiro ao alvo, um sniper consegue acertar o alvo com apenas uma bala, mas uma pessoa sem treinamento, dificilmente conseguiria. Dessa forma, dê a ela uma metralhadora com balas infinitas e as chances de acertar serão muito maiores.
Mas sem perder tempo indagando sobre o público em geral e o que ele consome, vamos nos atentar ao estilo de som que amamos, o Metal.
Benção ou Maldição?
O avanço tecnológico é uma benção que chegou para ajudar a sociedade em alguns pontos. E felizmente, muitos artistas que se levam a sério, ainda continuam buscando seu espaço no mundo da música. A quantidade de lançamentos que tivemos este ano, nos mostra que existem bandas e artistas que ainda se importam com a qualidade de seus discos. Talvez, se eles vivessem em décadas passadas, as coisas pudessem ser um pouco diferentes e até não conseguissem expor sua música. Este é um ponto que sempre levamos em consideração.
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Mas toda benção em nossa sociedade parece estar seguida de uma maldição. Muitas pseudo-artistas que se dedicam muito pouco ou quase nada ao seu conteúdo, simplesmente, decidiram que deveriam fazer parte desse grupo que sempre presou pela qualidade. E temos nomes estereotipados dentro do Rock Metal, grupos que basta uma olhada rápida para constatar que são verdadeiros produtos certamente criados por algum empresário visando apenas o dinheiro rápido.
Cautela é a salvação
Precisamos tomar cuidado e, mesmo sendo um público minoritário se comparado ao mercado musical como um todo, nós, consumidores do trabalho de bandas de Rock e Metal, temos que seguir prezando pela qualidade em detrimento da mediocridade. Dessa forma, é triste e decepcionante ver que piadas de mal gosto estão se tornando aceitáveis para boa parte das pessoas que ouvem os bons e velhos Rock and Roll e Heavy Metal.
Passou a ser uma discussão muito maior e mais complexa do que apenas bradar chavões do tipo, “Nu Metal não é Metal” ou “tudo que tem Core no nome só pode ser ruim”. Chega a ser uma afronta direta aos caminhos tomados Rock e Metal ver a quantidade de músicas descartáveis e feitas para pessoas que não carregam o verdadeiro espírito destes estilos musicais em suas almas.
Como é possível dizer que a música apresentada no vídeo acima (se é que podemos chamar isso de música) pode, eventualmente, possuir a mesma qualidade de uma banda como esta abaixo? E olha que nem somos grandes apreciadores ou divulgadores destes estilos mais modernos. Temos muitas críticas à respeito de quase todos eles, mas a diferença é gritante para qualquer um.
Sim, e o exemplo foi realmente o de uma banda em ascensão, mas extremamente criticada e pouco aceita por grande parte dos trols e fãs mais ortodoxos de Metal. A ideia é te fazer pensar sobre onde você está direcionando a sua crítica e se ela é realmente válida neste cenário de pura esculhambação.
Por mais que tenhamos críticas e o nosso gosto musical seja a nossa régua primordial, precisamos diferenciar um artista de fato de um aproveitador barato.
De músicos para criadores
Nossa sociedade precisa entender que ter mais músicas e bandas sendo apresentadas não significa um cenário melhor. Precisamos começar a selecionar melhor nossas audições e focar naquilo que realmente traz algum benefício para nossas vidas. Vamos esquecer os enlatados e grosserias musicais colocadas no mercado apenas para alienar. A busca destes meros produtos de quinta categoria é capitalizar em cima de uma cultura cada vez mais frágil e populista ao qual a grande parcela se deixa levar. Não queremos tratar a música apenas como uma trilha enfadonha que acompanha nossa vida e não faria diferença se não estivesse ali, mas sim como algo que realmente fala conosco e vive em cada um de nós.
O relatório mencionado no começo desta matéria observa que houve um aumento de 12% no número de criadores de música entre 2021 e 2022, com um total impressionante de 75,9 milhões de criadores de música. Ele ainda estima que esse número atinja 198,2 milhões até o final da década de 2020. Isso levanta duas questões. Qual o futuro da música e o que realmente queremos ouvir nos próximos anos?
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Precisamos entender a principio que existe uma automação empregada em todos esses aplicativos de música chamada algoritmo. Basicamente, ele é uma sequência de instruções ou operações que tem como objetivo alcançar um resultado específico. Muitas vezes, ele é baseado não apenas em você, mas em escolhas feitas por uma “massa” de pessoas. Aqui já encontramos algo que nos ajuda a responder essas perguntas. Nada que é sugerido a você é algo que realmente você se interessa, mas sim algo que outras pessoas querem. Entendam, eu não tenho nada contra isso, pelo contrário, acho o uso do algoritmo como algo inteligentíssimo, porém, algo fadado a repetição.
Algoritmo
O algoritmo sempre irá dar preferencia para aqueles que estão acima das escolhas das pessoas. Ou seja, os algoritmos tendem a empurrar artistas selecionados por meios que você não tem a menor compreensão. E como discutimos acima, a maior parte dos consumidores de música atualmente não se importam com a qualidade. Um exemplo visual:
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Qual banda será indicada a ouvida por 4 mil ouvintes mensais e qual chegará a 6 milhões?
E veja bem, não estou criticando quem prefere o Five Finger Death Punch, mas veja, existe uma “alienação de algoritmo” que sempre favorecerá os que estão acima da bolha. Isso nos leva a primeira pergunta feita neste tópico, qual o futuro da música? Bem, basicamente não podemos esperar melhoras significativas. Com a nova imposição do Spotify, a maior parte dos artistas passa a se tornar um escravo da empresa. Em novembro de 2023, eles anunciaram que não pagariam royalties por nenhuma música que não obtivesse pelo menos 1.000 reproduções anuais.
Infelizmente, é isso…
Novamente batemos na mesma tecla. Para se ganhar dinheiro, é necessário ‘viralizar’. Chegamos a um ponto onde existe um ciclo vicioso onde você precisa pagar contas e para ganhar dinheiro o artista precisa viralizar. Para viralizar, muitos lançam inúmeras músicas sem muita preocupação com a arte até finalmente conseguir emplacar algo minimamente. Com isso, há o desgaste, saturação, perda de interesse e consequente declínio do prazer em ouvir novos artistas. Você provavelmente não vai se dedicar a garimpar centenas de álbuns para separar um ou dois nomes realmente com potencial, não é mesmo?
Não podemos esperar ou afirmar que nossos caminhos irão se abrir em um futuro próximo, ainda mais agora com a nova criação das Inteligências Artificiais, que conseguem fazer músicas complexas com um prompt de 10 palavras. Mas realmente não está fácil procurar qualidade dentro do cenário musical. Por isso, se você é um amante de Metal, creio que gostaria de ajuda na hora de procurar algo.
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O site do Mundo Metal nasceu com este propósito e, apesar de apresentarmos as noticias referentes aos artistas e bandas do mainstream, dedicamos horas a fio para apresentar novos e promissores nomes. Um exemplo disso são nossas listas de melhores lançamentos do ano. Elas estão aí para provar que ainda existem músicos buscando fazer música (na concepção correta).
Por mais que o cenário pareça obscuro, precisamos manter a esperança e continuar buscando fora da caixa. Os algoritmos seguirão nos influenciando, isso não estão em discussão, mas sempre existirá espaço para a arte de verdade e para o talento genuíno.
Bem, falamos bastante de música ruim nesse texto, fiquem com um pouco de música boa e até a próxima!
Mais 6 listas serão divulgadas ainda: Speed Metal, Thrash Metal, Doom/Stoner Metal, Black Metal, Death Metal e Metal nacional. Fique atento as nossas próximas publicações!
Hoje em dia a internet facilita tudo e ao mesmo tempo dificulta, fato!!!! Facilita por causa da divulgação de bandas e materiais!!!! Dificulta porque aparece muita banda banda boa e ruin, fica explitico material as vezes saturado e nem tudo ali vc leva a sério!!!! A tv e programas musicais de antigamente, explorava mesmo era o som comercial e a tal música de trabalho de destaque do disco!!!! Muita gente comprava tal disco justamente por causa daquela música de destaque que sempre era posta em video clipe assim vai!!!! Valeu!!!!