Sabe quando você arruma a sua casa, dá aquele trato bacana, deixando sua moradia igual a de um comercial de TV? E logo em seguida, vem um catarrento e bagunça tudo, ainda querendo ter razão?
É mais ou menos isso que acontece com muitas gravações de disco. Disputas indesejáveis de ego do tamanho de um mundo inteiro, causando equívocos que permanecem por toda a eternidade no universo da música.
O Metallica passou por isso e o principal alvo foi o clássico álbum “…And Justice For All” de 1988. Você deve pensar que a questão a ser colocada na mesa é sobre o baixo “oculto” de Jason Newsted. Pois é, não está errado de forma alguma.
Com a palavra o produtor Steve Tompson, que trabalhou em discos renomados como o aclamado “Appetite For Destruction” (Guns N’ Roses), só para citar um exemplo claro. O produtor participou de uma entrevista com Dean Cramer e o mesmo disse:
“Fizemos o projeto em Bearsville, Nova York – trabalhamos em um SSL (console) nos estúdios de Bearsville. E Lars originalmente veio com um gráfico de configuração de equalização completo de como ele queria que a bateria dele soasse. Então, Michael Barbiero, meu parceiro, disse: ‘Por que você não trabalha com o Lars e faz com que a bateria (soe do jeito que ele quer)? Depois que você fizer isso, cuidarei do resto. ‘Então ele faz isso. E eu escutei os sons e disse: ‘Você está brincando comigo? Acho que isso parece idiota.’ De qualquer forma, eu meio que re-equalizei todos os tambores um pouco só para torná-los um pouco mais palpáveis - está no ouvido de quem vê. Então eu levantei o baixo, o que achei que o baixo era uma grande parte, porque… Você sabe o que era ótimo no baixo (de Newsted)? Foi um ótimo casamento com as guitarras de (James) Hetfield; era, tipo, eles precisavam trabalhar juntos. Foi tocado perfeitamente.”
Tompson prosseguiu com seu relato:
“Então eu juntei toda a seção rítmica, vocais e tudo mais, e então eu senti, ‘Ok, agora é a hora,’” ele continuou. “Hetfield estava lá, (dando) polegares para cima e tudo mais. Então eu trouxe Lars. Em primeiro lugar, Lars ouve por cerca de cinco a dez segundos, e ele disse, ‘Tudo bem, pare aí.’ Ele disse, ‘O que aconteceu com o som da minha bateria?’ Eu provavelmente disse algo como, ‘Você estava falando sério?’ (Risos) Então eu tive que reorganizar o som da bateria para colocá-lo onde ele queria de novo. Ele disse, ‘Ok, está vendo o baixo?’ Eu digo, ‘Sim’. – Coloque na mistura. Eu disse: ‘Por quê? É ótimo.’ – Coloque na mistura. ‘OK.’ Então, eu fiz isso como uma piada. (Eu) larguei tudo. Ele disse: ‘Baixe mais cinco ou seis dB’ a partir daí, o que mal conseguia ouvir – você não conseguia ouvir. Eu disse, ‘A sério?’ E acho que me virei para Hetfield, e ele simplesmente foi assim [levanta as mãos]. E então me lembro de ter uma conversa com Cliff Burnstein e Peter Mensch, que os administrava. E basicamente tive uma conversa, disse: ‘ Ouça, eu amo esses caras. Acho essa banda incrível. Não concordo com o que eles querem que eu faça com isso. E eu entendo, é o álbum deles. Eles deveriam conseguir o que querem. Fomos contratados para conseguir para eles o que eles querem. Mas eu simplesmente não consigo imaginar isso. E acabamos dando a eles o que eles queriam. Novamente, não é o meu álbum – é o álbum deles – e você tem que respeitar a opinião deles. Eu odiava isso pessoalmente, porque eu sou um cara do baixo. Eu amo o baixo. Quando nós re-gravando, gravamos os baixos mais gordos do mundo.”
Imagina a empolgação do estreante na banda, Jason, que estava substituindo nada mais nada menos que o saudoso Cliff Burton, achando que foi muito bem, assim como o mesmo já declarou em algumas oportunidades, sendo cortada a sangue frio. Lars pode ser o rei dos negócios, mas se sairia muito melhor se deixasse o baixo de Jason aparente.
Confira a entrevista através do link: