Antes de mais nada, julgo necessário frisar a importância de Paul McCartney e dos Beatles para este que vos escreve. Assim como milhares de outros apaixonados pelo Rock and Roll e pelo Heavy Metal, os quatro rapazes de Liverpool exerceram papel fundamental na minha vida e foram minha porta de entrada para a música. Tudo isso graças a minha mãe, que ouvia os LP’s dos Beatles quando eu era pequeno e saia dançando pela casa cantando e se divertindo muito.
Sendo assim, chego ao ponto em que este é um daqueles shows que me faltava ver. Sinceramente, já tinha entregado os pontos e, sendo assim, acreditava piamente que não conseguiria mais. Bem, eu estava errado. Além de, finalmente, poder conferir a performance desta verdadeira lenda da música, ainda pude desfrutar da presença de minha mãe e esposa durante todo o evento. No auge dos seus 78 anos de idade, minha mãe pôde finalmente ver e ouvir seu ídolo ao vivo pela primeira vez. E foi impagável ver tudo isso.
Paul McCartney – Got Back Tour – São Paulo (Allianz Parque – 07/12/2023)
Chegamos cedo nas imediações do Allianz Parque e, apesar do calor agradável, por volta das 15:30 fomos surpreendidos por uma forte chuva. Vi muita gente reclamando e esbravejando, e foi nesse meio tempo que percebi que nada seria capaz de tirar meu bom humor. Com cerca de uma hora de atraso, pouco depois das 17:00, os portões do Allianz foram abertos e tivemos acesso ao interior do estádio.
O show estava agendado para começar às 20:00 horas, mas neste horário os telões começaram a exibir uma espécie de mosaico animado repleto de fotos de Paul McCartney e de cada um dos outros Beatles. Este passeio pela história demorou exatos 30 minutos e, somente então, às 20:30, Paul McCartney adentrou ao palco acompanhado de sua banda. Sorridente e simpático como sempre, levantou o braço cumprimentando os presentes e sem muita enrolação iniciou a apresentação com nada menos que “Can’t Buy Me Love”, clássico dos Beatles presente no álbum “Hard Day’s Night”, de 1964. O estádio foi a loucura e cantou cada verso junto com Paul. No final, parece que antevendo o que estaria por vir, ele disse em tom profético: “teremos grandes momentos aqui hoje!”
Na sequência, duas canções dos tempos de Wings, “Junior’s Farm”, assim como “Letting Go”. Paul, demonstrando estar se sentindo muito bem e assumindo o papel de um legítimo mestre de cerimônias, disse em nosso idioma: “esta noite, vou tentar falar um pouco de português”. As próximas duas foram músicas dos Beatles, a improvável “She’s A Woman” e uma das minhas prediletas, “Got To Get You Into My Life”. “Come On To Me” é um boa canção. E Paul a introduziu mais uma vez no bom e velho português: “esta é uma música nova, um pouquinho nova”. Mas convenhamos, foram as duas seguintes que causaram comoção, a primeira, o clássico dos Wings, “Let Me Roll It”, e, finalmente, “Getting Better”, do aclamado álbum “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”, de 1967.
Momentos inesquecíveis!
Os Wings foram bastante lembrados neste início de setlist e, obviamente, o público paulistano aprovou tais escolhas. Sendo assim, “Let ‘Em In” foi tocada seguida de “My Valentine” (esta da carreira solo de Paul) e a excelente “Nineteen Hundred and Eighty-Five”. “Maybe I’m Amazed” não poderia faltar e foi ovacionada, assim como “I’ve Just Seen a Face”, do álbum “Help!”, dos Beatles, de 1965.
À seguir, um momento muito especial. E para quem não estava preparado, Paul avisou: “É hora de voltar no tempo! Esta é a primeira canção que os Beatles gravaram”. Sem mais delongas, ele tocou “In Spite Of All The Danger”, canção do The Quarrymen, banda pré-Beatles que tinha em sua formação o trio Paul, John e George. Depois dela, nada menos que o hino “Love Me Do” para fazer o estádio todo cantar de alegria.
“Dance Tonight” veio para diminuir um pouco a temperatura, mas ela voltaria a subir em seguida quando Paul se dirigiu à frente do palco e o mesmo começou a se erguer como uma espécie de elevador. Nas laterais do palco suspenso, surpreendentemente, havia telões que mostravam um pássaro negro voando. Como todos podem imaginar, esta foi a deixa para a chegada de “Blackbird”. Diretamente do “álbum branco” dos Beatles, a canção foi tocada e entoada por todo o estádio que sabia cada verso de cor. Ainda com o palco suspenso, “Here Today” foi dedicada a John Lennon e, dessa forma, arrancou lágrimas dos presentes.
Sequência avassaladora de clássicos!
Paul finalmente se senta à frente do famoso piano psicodélico dos tempos de “Magical Mystery Tour” e a primeira música tocada nele foi “New”, do álbum de mesmo nome, lançado em 2013. À partir deste momento, um grande número de verdadeiras pérolas do Rock começaram a cair sobre nossas cabeças. Sem a menor dúvida, se existisse um cadáver no Allianz, certamente, ele se levantaria para dançar e agitar ao som das músicas de Paul McCartney.
“Lady Madonna” (dos Beatles), “Jet” (dos Wings) e a improvável “Being For The Benefit Of Mr. Kite!” (dos Beatles), indicaram que a temperatura tinha começado a subir e, por certo, não pararia mais de subir até o final do concerto.
A prova disso se deu quando Paul pegou seu famoso ukulele e começou a tocar uma versão de “Something”, canção de George Harrison presente no inesquecível álbum “Abbey Road”, de 1969. Inegavelmente, a interação do público com essa música é algo quase sobrenatural e, sabendo disso, Paul disse em português: “esta canção é dedicada ao meu menino George!”. De repente, o estádio todo estava iluminado pelas lanternas dos celulares e cantando em uníssono os versos:
“You’re asking me will my love grow
I don’t know, I don’t know
You stick around, now it may show
I don’t know, I don’t know”
Simplesmente incrível e verdadeiramente emocionante. Assim sendo, Paul agradeceu George por ter composto esta belíssima canção. Todos nós concordamos com Paul.
Para animar e colocar fogo na platéia novamente, veio a festeira “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, injustiçada por críticos sabichões na época, mas ovacionada e amada pelos fãs. “Band On The Run”, o maior clássico dos Wings, chegou logo depois e manteve a agitação e eletricidade no ar. É preciso dizer que tudo se intensificou quando “Get Back” começou a tocar. As imagens de fundo no telão mostravam trechos do documentário de mesmo nome dirigido por Peter Jackson.
Final apoteótico
O fim estava próximo, mas todos sabiam que não chegariam ao seu destino sem que alguns pequenos detalhes fossem acertados. Enfim, um destes “detalhes” atende pelo nome “Let It Be”. No momento em que a canção foi cantada por todos os presentes, a emoção tomou conta do estádio.
A última dos Wings executada foi “Live And Let Die”, com direito a pirotecnia, queima de fogos, assim como jogos de luz estonteantes. Antes de deixar o palco, “Hey Jude” trouxe o clímax necessário para uma apresentação histórica. Assim sendo, o público presente deu mais um espetáculo à parte cantando toda a letra junto com Paul e se superando no icônico:
“Na na na nananana, nannana, hey Jude…”
Lindo demais!
Paul se despediu e saiu do palco, mas todos sabíamos que ainda faltavam algumas músicas. O bis teve início com “I’ve Got a Feeling” e no momento que John Lennon apareceu no telão com a finalidade de fazer o dueto vocal com Paul, o estádio praticamente veio abaixo.
Final anabolizado
“Birthday” veio na sequência reabastecendo a energia de todos mesmo depois de mais de duas horas de show e, antes de mais nada, neste momento precisamos destacar a ótima forma física de Paul McCartney. Com 81 anos, o músico ainda esbanja vitalidade. E foi assim, cheio de gás, que “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)” foi tocada por ele e emendada com a explosiva “Helter Skelter”. Para muitos, este é o primeiro Heavy Metal da história.
O fim não poderia ser outro: “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”/”The End”. Afinal, a famosa trinca presente em “Abbey Road”, com o passar dos anos, se transformou em uma espécie de símbolo que representa toda a criatividade dos fab-four. Pela última vez, todos puderam cantar junto com Paul e, sem dúvida, esta foi a hora de gastar todas as reservas de energia. Passando um pouco das 23:00, os fãs presentes no Allianz foram testemunhas de Paul McCartney cantando o emblemático último verso da última música do último disco dos Beatles:
“And in the end
The love you take
Is equal to the love you make”
Sempre existirão aquelas músicas especiais que não foram tocadas, principalmente, quando falamos de um artista com tantos hinos em sua carreira. Mas tudo isto é apenas detalhe diante dos tantos momentos marcantes que nos foram proporcionados.
O maior espetáculo da terra!
No final, as sensações que tomam contam de quem pode estar presente em um show como este são de satisfação, gratidão, assim como dever cumprido. Poder assistir um show de Paul McCartney em pleno 2023 é quase como um milagre se materializando.
Paul McCartney veio para o Brasil para fazer uma única apresentação em São Paulo (dia 9/12). Tudo mudou com a venda relâmpago de todos os ingressos e, desse modo, surgiu a necessidade de agendar mais uma data (7/12). Preciso dizer que, novamente, foram vendidos todos os ingressos e mais uma data precisou ser adicionada (desta vez, 10/12)?
Devo admitir que após tudo o que presenciei e, ainda sob o efeito mágico causado pelo show, saí do Allianz com alguns pensamentos intrigantes na cabeça. Se apenas um único beatle é o responsável pelo maior espetáculo da terra atualmente, imaginem como seria um show com a presença dos quatro juntos…
É por essas e outras que não me canso de dizer: os Beatles são inigualáveis, inalcançáveis e incomparáveis.
Zerei a vida!
Setlist:
- Can’t Buy Me Love
- Junior’s Farm
- Letting Go
- She’s a Woman
- Got to Get You Into My Life
- Come On to Me
- Let Me Roll It (com “Foxy Lady” de Jimi Hendrix)
- Getting Better
- Let ‘Em In
- My Valentine (dedicada a Nancy Shevell)
- Nineteen Hundred and Eighty-Five
- Maybe I’m Amazed
- I’ve Just Seen a Face
- In Spite of All the Danger
- Love Me Do
- Dance Tonight
- Blackbird
- Here Today (dedicada a John Lennon)
- New
- Lady Madonna
- Jet
- Being for the Benefit of Mr. Kite!
- Something (dedicada a George Harrison)
- Ob-La-Di, Ob-La-Da
- Band on the Run
- Get Back
- Let It Be
- Live and Let Die
- Hey Jude
Encore:
- I’ve Got a Feeling
- Birthday
- Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)
- Helter Skelter
- Golden Slumbers
- Carry That Weight
- The End
Redigido por Fabio Reis