Já que esta analise trata da mais nova obra destes verdadeiros “dinossauros” do Heavy/Power mundial, começamos com o esporro do “tiozão” aqui.
A mais nova moda entre os headbangers novatos naturais desta república de bananas é se desfazer e caçoar daqueles ouvintes mais velhos. Isso acontece mesmo que esses tais “velhinhos” escutem Heavy Metal bem antes dos bebês chorões tratados a base de leite com pera sub-existirem dentro dos bagos de seus pais, também acontece mesmo que os malditos fedelhos criados pela vovó não sejam capazes de estabelecer uma única conversa decente sobre música. E o motivo é claro, lhes falta conhecimento, lhes falta entendimento e, principalmente, lhes falta amor ao gênero, então, eles buscam desmerecer aqueles que tem tudo isso com sobras. Não se preocupe, este não é mais um daqueles textos de opinião já tradicionais aqui em nossa página, mas se tratando de um disco novo do Grave Digger, creio que seja hora de tirar as crianças da sala (relaxa, me refiro somente aquelas birrentas e sensíveis, saca?) por que o papo aqui é para adultos. Você, bobalhão que adora replicar falas sem qualquer embasamento, vive dizendo por aí que os “tiozões do Metal” só sabem ouvir as mesmas bandas de sempre e blá blá blá, fique sabendo que esse álbum não é para os seus ouvidinhos sensíveis de porcelana, ele não se enquadra na sua listinha pobre e perecível de discos moderninhos sem sal. O todo poderoso Grave Digger está de volta as boas e, certamente, não vai te apresentar nenhuma ideologia politicamente correta, não vai militar em favor do seu político de estimação e muito menos vai cagar discursos fajutos aos seus fãs, esses caras transpiram Heavy Metal por todos os poros e, por isso, nada vindo deles vai se enquadrar nos seus devaneios distópicos de realidade. Se você não é um verdadeiro amante do estilo e coloca ideologias que nunca representaram o Heavy Metal na frente da própria música, tchau, corre para suas audições medíocres, pois “Fields Of Blood” é forjado no mais puro aço e dispensa opiniões de amadores.
Agora que separamos os homens dos meninos, vamos ao que interessa.
“Fields Of Blood”, o vigésimo álbum dos alemães, é uma verdadeira viajem nostálgica aos anos 90, período em que o Grave Digger vivia o seu auge e ditava as regras do Metal alemão. Essa sensação de deja-vu acontece não apenas pela temática aqui proposta (que remete ao trabalho mais emblemático da carreira dos caras, o insuperável “Tunes Of War”, de 1996) mas, principalmente, por que traz a musicalidade daqueles tempos de volta. É verdade que Chris Boltendahl não tem mais ao seu lado um guitarrista como Uwe Lulis e nem um baixista da estirpe de Tomi Göttlich, também é verdade que percebe-se nitidamente um certo envelhecimento e desgaste de sua potente voz, mas nada disso é um problema por aqui. O novo álbum faz jus a brilhante trajetória dos coveiros teutônicos e a cada audição soa melhor e mais digno dos quase 40 anos de estrada dos caras.
Posso afirmar sem qualquer medo que este disco é uma das mais gratas surpresas do ano. Depois de dois trabalhos medianos, “Healed By Metal” e “The Living Dead”, respectivamente de 2017 e 2018, creio que nem o mais ardoroso fã esperava algo tão forte como esta nova obra. Praticamente tudo em “Fields Of Blood” é acertado, desde os timbres de guitarra, até a produção no ponto, cortesia do Principal Studios (GER), tudo soa nivelado por cima. Para chegar aos finalmentes na chamada trilogia das “Highlands” iniciada em “Tunes Of War”, o quarteto original de Gladbeck apresentou o segundo capítulo desta saga no bom “The Clans Will Rise Again”, em 2010, e percebe-se que houve um genuíno esforço para que encerrassem sua história mais grandiosa com um álbum majestoso. Não falharam!
Desde os primeiros momentos da introdução “The Clansman’s Journey”, com aquele som emblemático e característico de gaita de fole, “Fields Of Blood” já nos arremessa de volta em 1996. Quando a intro termina, você jura que vai começar a tocar “Scotland United”, mas ao invés disso é a belíssima “All For The Kingdom” que invade os falantes com um riff poderoso e um ritmo vibrante (como a muito tempo eu não sentia em um disco da banda). O refrão: “All, all for the Kingdom/ Together we fall and forever we stand/ All, all for the Kingdom/ We fight for the right, for the right to survive/ For the king, all for the land, all for one” é pra cantar junto bradando à plenos pulmões e com os punhos cerrados para o alto. “Lions Of The Sea” é mais melodiosa e possui um refrão que, a primeira vista, você não vai dar muita moral, mas depois de algumas audições ele não vai sair da sua cabeça. “Freedom” vem na sequência e, neste ponto da audição, você já percebe que o Grave Digger não veio para brincadeiras. Que música! Acelerada, com um bridge magistral e outro refrão formidável. Só não te deixa mais embasbacado por que isso vai acontecer de fato logo na sequência com a maravilhosa “The Heart Of Scotland”. Há muito tempo eu não ouvia uma música do Grave Digger tão grandiosa como esta, e olha que eu nem posso dizer que é a melhor do álbum, como vamos descobrir um pouco mais adiante. Sabe aqueles sons pomposos, que parecem já nascer clássicos? É disso que se trata esta música.
Chegando mais ou menos na metade da audição, temos um outro momento que remete diretamente a “Tunes Of War”, trata-se da balada “Thousand Tears”, uma clara referência a “The Ballad Of Mary (Queen Of Scots)”, com participação da vocalista Noora Louhimo (Battle Beast). “Union Of The Crown” dá início a segunda metade do disco com um ritmo veloz e outro refrão de primeira. Pasmem, por que esta sequência final consegue ser ainda mais empolgante que a primeira. “My Final Fight” é simplesmente o Grave Digger soando como o Running Wild, e como eles fizeram isso de maneira elegante e sem soar clichê. “Gathering Of The Clans” e é um soco no estômago, aquele típico som que você ouve e, sem qualquer informação prévia, já sabe que banda é. Devo mencionar que temos novamente um refrão absolutamente cativante, aliás, esta é uma marca registrada neste disco. “Barbarian” é daquelas músicas mais cadenciadas que você ouve pela primeira vez e já se identifica. Note que já se foram 10 músicas e até aqui temos uma audição impecável, até mesmo o guitarrista Axel Ritt, vítima de algumas críticas dos fãs por não ser um genuíno riffmaker como seus antecessores, neste disco se superou e tem a sua melhor performance desde que entrou na banda em 2009.
Para finalizar com chave de ouro, temos a faixa-título “Fields Of Blood”, e aqui não se trata de qualquer música, mas da melhor música do Grave Digger em décadas. Ao longo dos seus mais de 10 minutos, temos absolutamente tudo que resume a sonoridade desta verdeira lenda do Metal alemão, são muitas as passagens épicas, o refrão é grandioso, os solos são belíssimos e em meio a ótimas climatizações e alternâncias rítmicas, ficamos com a sensação de estar ouvindo um novo clássico. O tema instrumental “Requiem For The Fallen” encerra o registro de forma introspectiva e a sensação de “quero mais” permanece no ar durante algum tempo.
Quem conhece mais a fundo o Grave Digger, sabe que os caras sempre mantiveram certa coerência em seus lançamentos, dificilmente você ouvirá qualquer registro lançado ao longo dessas 4 décadas de carreira e vai se decepcionar por completo. O que acontece é que depois daquele auge estrondoso nos anos 90, os caras passaram a colecionar alguns altos e baixos, no que diz respeito aos baixos, é bom deixar claro que um “baixo” do Grave Digger consegue superar “altos” de muitas bandas por aí e, quando os caras estão com a inspiração lá em cima e acertam a mão, como ocorreu no excepcional “Return Of The Reaper” (2014) e neste “Fields Of Blood”, somos agraciados com trabalhos de primeira grandeza. Obviamente, Chris Boltendahl e sua trupe não precisam mais provar nada pra ninguém, mas é sempre bom ver aquela banda moldadora de caráter que você ouviu até a exaustão na sua adolescência, lançar um disco em pleno 2020 que te faça cravar o que vou cravar: se não for o melhor álbum de Power do ano, certamente, estará ao menos no top 3.
Obrigatório a qualquer fã do estilo. E aqui me refiro a fãs de verdade, não a esses moleques mongolões mencionados no começo deste texto, a estes, recomendo ir ouvir aquelas bandas ideologizadas/polarizadas que mal sabem tocar, mas vociferam todas as porcarias ideológicas que fazem esses roqueiro(a)s juvenis melarem suas cuecas e calcinhas. Como já foi dito, Grave Digger é papo para adulto. Ainda bem!
Nota: 9,3
Integrantes:
- Chris Boltendahl (vocal)
- Jens Becker (baixo)
- Axel “Ironfinger” Ritt (guitarra)
- Marcus Kniep (bateria e teclado)
Faixas:
- The Clansman’s Journey
- All For The Kingdom
- Lions Of The Sea
- Freedom
- The Heart Of Scotland
- Thousand Tears
- Union Of The Crown
- My Final Fight
- Gathering The Clans
- Barbarian
- Fields Of Blood
- Requiem For The Fallen