“Ægo Templo” é o segundo full lenght da banda francesa de Black Metal, Déluge, que sucedeu “Æther” de 2015. Elementos de Black Metal old school mesclados com ingredientes mais atuais e uma produção moderna e excelente. Essa é a melhor forma que encontro para explicar a sonoridade do Déluge. Um dos problemas do Black Metal nos anos 90 era a produção tosca de estúdio. No álbum “Ægo Templo”, sequer existem vestígios de tal problema, pois a produção de estúdio é o ponto mais forte do lançamento, além da musicalidade dos membros e a qualidade de suas canções. O vocalista Maxime Febvet interpreta alternadas linhas de vozes, que vão das mais limpas aos guturais mais agressivos com pitadas de Hard Core. A bateria de Benjamin Marchal é a responsável pelas mudanças rítmicas que em segundos transformam céus em infernos e vice-versa. A dualidade é um artifício muito utilizado no Black Metal praticado pelo quinteto francês da cidade de Metz. As guitarras de Richard De Mello e François-Thibaut Hordé, juntamente com o baixo de Frédéric Franczak, intercalam entre harmonias executadas de forma mais acústica com riffs pesados e sombrios. Canções como “Soufre”, “Abysses”, “Frates” e “Digue” transportam a mente do ouvinte às florestas mais macabras, geladas e cinzentas. É a força brutal da natureza presente na sonoridade da banda. “Ægo Templo”, faixa que intitula o disco, evidencia ainda mais esse contato com os quatro elementos, fazendo com que se possa sonhar mesmo desperto. Ela é a minha favorita desse surpreendente registro. “Oferecido aos porcos / Pernas separadas, de bruços, / Carne a ferros, embriagada com sujeira, / Opróbrio e arrependimento“, pela parte lírica da música “Opprobre”, que assim como todo o álbum, foi escrito em língua francesa, pode-se notar que a temática flerta com a utilizada na velha escola noventista.
“Baïne” invoca uma atmosfera ainda mais bizarra em sua introdução, a qual, porém, é desfeita assim que seu ritmo ganha aceleração. Saliento também a faixa “Béryl”, que sendo mais lenta, se assemelha a Doom Metal em alguns momentos. “Vers”, a canção a qual encerra o full lenght”, tem riffs diferenciados das demais, os quais têm uma pegada que beira o Heavy tradicional, evidenciando a dupla de guitarristas Mello e Hordé de uma forma diferenciada em relação as demais faixas. A pitada de Hard Core do som faz com que se tenha a impressão de estar ouvindo Depressive Black Metal, porém esse impressão é desfeita logo que se ouve a obra com maior atenção e profundidade.
O que mais surpreende na sonoridade do Déluge é que ouço algo que não esperava ouvir e, sair do mais do mesmo é louvável quando bem feito. “Ægo Templo” já está pré-seleciono para o meu top 10 do subgênero Black Metal dos lançamentos de 2020. Aprovado e indicado a legião de fãs do Metal das trevas. Nota: 8,6 Veja o vídeo clipe oficial da canção “Digue”:
Integrantes:
- Frédéric Franczak (baixo)
- Benjamin Marchal (bateria)
- Richard De Mello (guitarra)
- François-Thibaut Hordé (guitarra)
- Maxime Febvet (vocal)
Faixas:
- Soufre
- Opprobre
- Abysses
- Fratres
- Gloire Au Silence
- Ægo Templo
- Baïne
- Digue
- Béryl
- Vers