Metal extremo geralmente é relacionado com os países nórdicos, Noruega, Suécia, Finlândia, Polônia. Comumente, ouvimos falar das ondas do Black Metal e sabemos muito bem das origens gélidas desse estilo e o tamanho do potencial desses países em fazer um Metal de qualidade. Mas não é só de Metal extremo que essas terras fervilham, lá também é berço de diversas bandas de outros estilos, que realmente surpreendem a nós com sua qualidade e com seu poder de se reinventar e conseguir alcançar a glória com discos relevantes. Um dos exemplos que podemos dar é o ótimo Crystal Viper, banda oriunda de Katowice na Polônia e liderada pela excelente vocalista e lindíssima Marta Gabriel. Desde o lançamento do primeiro disco, a banda chamou a atenção por seu estilo Heavy/Power bem característico devido os vocais bem únicos de Marta, uma voz encorpada e com timbres bem definidos, trabalhados juntamente a uma guitarra bem clássica e uma bateria tradicional, que traziam a nós sentimentos de saudosismo e identificação com esse som maravilhoso, “The Curse of Crystal Viper”, de 2007, é um daqueles discos de estreia que te chocam de uma maneira positiva e te fazem aguardar os próximos compactos lançados pela banda. Os próximos três lançamentos da banda, “Metal Nation” (2009), “Legends” (2010) e “Crimen Excepta” (2012) são discos que mantiveram a qualidade e apresentaram a versatilidade sonora dos poloneses. Mas como nem tudo são flores, “Possession” (2013), “Queen of the Witches” (2017) e “Tales of Fire and Ice” (2019) foram lançamentos que não agradaram totalmente e deixaram um questionamento sobre se a banda ainda tinha aquela chama de seus primeiros 4 discos. E a resposta foi dada ao cair de janeiro deste ano, com o lançamento do compacto “The Cult”, de 11 faixas da mais pura essência metálica e resgatando a boa forma de seus primeiros discos. Com a adição de um pequeno “midas” ao line-up, ninguém menos que Cederick Forsberg (Rocka Rollas, Blazon Stone, Mortyr, Cloven Altar, Breitenhold, Runelord e mais um milhão de aparições em discos que amamos) a banda se viu renovada e pronta para preparar as composições deste novo full lenght.
Resgatando a sua origem, o novo disco em um todo apresenta um Heavy Metal com ótimas influencias de Power, mas sem se tornar maçante e repetitivo, nos apresentando uma banda inspirada e que faz o seu som porque ama e não apenas para preencher lacunas. O disco abre com a tenebrosa intro “Providence”, que faz seus cabelos arrepiarem e você esperar a destruição de cócoras, afinal ela é inevitável. Em “The Cult”, ouvimos guitarras rifadas e trabalhadas e uma bateria um pouco cavalgada, sublime e clássica, dando um charme tradicional a esta composição. Os vocais de Marta preenchem a audição com seu timbre único, poderoso e ecoando letras lovecraftianas sobre a destruição da raça humana e nossos novos ‘senhores’ cósmicos, além disso, os refrãos contagiantes da faixa e o solo assombrosamente bem construído são outros pontos para os poloneses neste lançamento. As faixas “Whispers from Beyond” e “Sleeping Giants” apresentam uma atmosfera mais cadenciada e suave, com toques clássicos e que mostram que nem sempre a velocidade é a resposta para tudo. Porém, os riffs cortantes e duetos de guitarras de “Down in the Crypt” rompem o silencio e voltam a mostrar a boa forma das cordas de Marta e de Andy Wave, combinados a cozinha rápida de Ced e Błażej. Novamente os solos e refrãos são assustadoramente belos e mostram que a banda tem muita lenha para queimar. “Forgotten Land” traz arrepios ao longo da espinha de todos os amantes dum bom e velho Heavy Metal tradicional, repleto de classe e estilo único. As bases potentes e os duos de guitarra trabalhados em meio a clássica cozinha ‘prato-pedal-caixa’ desembocam em um refrão grudento e que tem muito da mão de Ced. Uma canção espetacular, tradicional e clássica.
Na segunda parte do disco, ouvimos a excelente “Asenath Waite”, que se inicia suave e migra para a excepcional base pesada e os tons graves de uma cozinha esplêndida, combinados ao peso da voz da bela Marta Gabriel, que esbraveja o refrão “Take her off my mind! / Then it’s over… / Get my body back! / Let me out! ”. Resgatando a veia cadenciada da banda, “The Calling” nos brinda com o saudosismo dos antigos lançamentos, que apresentavam uma atmosfera de batalha e cativante. “Flaring Madness” e “Lost in the Dark” nos presenteiam com a velocidade que tanto encanta, sendo que a segunda possui bases mais pesadas e um andamento cativante. Ambas possuem um solo de dar inveja a qualquer guitarrista veterano. Músicas cativantes e com força para bater de frente com qualquer lançamento do estilo. Para fechar o disco, ouvimos o excepcional cover de King Diamond com Andy LaRocque! Falo de “Welcome Home”, um clássico na voz de KD que não ficou estranho no vocal de Marta, pelo contrário, a polonesa mandou bem nos agudos dificílimos e não fez feio em sua voz mais tenebrosa. Sem mencionar a participação assombrosa de Andy, o que deixou ainda mais pesada esse clássico absoluto.
Além do Metal extremo, nossos amigos gélidos do Norte sabem fazer muito mais e com excelência, isso só prova que quem ama de verdade algo, consegue fazer com qualidade!
Nota: 8,5
Integrantes:
- Marta Gabriel (vocais, guitarra)
- Andy Wave (guitarra)
- Błażej Grygiel (baixo)
- Eric Juris (guitarra)
- Ced (bateria)
Faixas:
- Providence
- The Cult
- Whispers from Beyond
- Down in the Crypt
- Sleeping Giants
- Forgotten Land
- Asenath Waite
- The Calling
- Flaring Madness
- Lost in the Dark
- Welcome Home (King Diamond cover)