“Road” é o novo full lenght do cantor americano Alice Cooper.
Se você é um habitante do planeta terra, ou apenas um visitante que chegou por aqui entre 1964 e 2023, então é certo que o nome Vincent Damon Furnier lhe soa familiar. Caso não o conheça dessa forma, é provável então que o conheça através de seu codinome, Alice Cooper, ou carinhosamente “Tia Alice”.
Na estrada desde 1964, a lenda viva Alice Cooper dispensa comentários quando o assunto é música e entretenimento, haja visto que se algumas bandas usam e abusam da teatralidade em cima do palco, adicionando pinturas e/ou máscaras como referências, então é bom saber que este nobre senhor ao lado de nomes como a banda americana Kiss, tem uma grande parcela de culpa.
Dono de uma carreira perpetuada e com uma discografia que contabiliza 29 discos oficiais, incluindo sua fase com a Alice Cooper Band, o músico é sem sombra de dúvidas umas das grandes referências e influências para grandes artistas, bem como um dos personagens principais na história da música propriamente dita. Ou se preferir, um dos personagens principais na história do Rock.
Alice Cooper – Mais de 50 anos na estrada
Ultrapassando a marca de cinquenta anos de carreira, haja visto que seus primeiros passos deram-se em 1969 com seu álbum de estreia “Pretties For You”, Tia Alice ainda consegue surpreender quando o assunto é um novo álbum de inéditas, e a prova disso é o recém lançado “Road”, vigésimo segundo álbum de sua longa carreira solo que chega às lojas dois anos após o excelente “Detroit Stories” (2021).
Lançado oficialmente em 25 de agosto de 2023, através da gravadora earMusic com produção do amigo de longa data, Bob Ezrin (Lou Reed, Pink Floyd, Aerosmith, Deep Purple, Kiss, Peter Gabriel, etc), “Road” apresenta 11 temas inéditos, além da releitura para “Road Rats”, aqui batizada de “Road Rats Forever“, e uma versão para “Magic Bus”, gravada originalmente pelo The Who no final dos anos 60.
Apesar de contar com 13 faixas, “Road” é um disco relativamente curto, já que suas canções foram divididas em aproximadamente 48 minutos de duração.
Na lista de convidados especiais, as presenças de Tom Morello (Rage Against The Machine), Kane Roberts (ex-Alice Cooper), Roger Glover (Deep Purple), Burleigh Johnson, tecladista das bandas Aerosmith, Hollywood Vampires, Whiskey Falls, dentre outros…
Recepção de “Road”
Bem recebido por fãs e críticos, o novo trabalho já despontou em inúmeros países ao estrear em posições relevantes, alcançando a 160 a posição da Billboard Americana, figurando também na 1a posição do UK Rock & Metal Album do Reino Unido.
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Mais uma vez, Alice Cooper (vocais), ao lado de Ryan Roxie (guitarras), Tommy Henriksen (guitarras), Nita Strauss (guitarras), Chuck Garric (baixo) e Glen Sobel (bateria), nos brinda com um disco onde as raízes dos anos 60 e 70 estão presentes, porém como de costume não deixou de lado a sonoridade moderna e atual. A propósito, uma sacada sempre certeira do mestre do Rock Horror/Shock Rock.
Apresentações feitas, é hora de mergulhar nas melodias cativantes de “Road”
Vem comigo!
“I’m Alice”:
O disco abre com “I’m Alice”, um dos seus singles, e de cara já temos uma canção que remete aos primeiros trabalhos de Tia Alice, pra ser mais exato, a canção “Elected” do disco “Billion Dollar Babies” de 1973, ou seja, temos aqui um belo início.
“Welcome To The Show”:
Apesar de seu início pesado e moderno, é possível notar as similaridades da bateria usada na fantástica “Billion Dollar Babies” do disco homônimo lançado em 1973, destacando seu refrão pegajoso.
“All Over The World”:
Se por acaso os caras do Aerosmith tivessem gravado essa música, então é certo que ela se encaixaria perfeitamente na sonoridade da banda, já que as guitarras soam exatamente como as de Joe Perry, além disso, o uso de instrumentos de sopro nos remete a “The Other Side” e “Rag Doll” de Steven Tyler & Cia.
Em sua viagem “pelo mundo todo”, a música retrata as peripécias do músico, que incluem prisões, pagamento de fiança, bebedeiras e shows insanos, relatados sem nenhum pudor por Tia Alice que faz questão de lembrar que “você sabe que o rock nunca morrerá, enquanto não desaparecerem” (referindo-se a artistas como ele que fazem a coisa acontecer).
O Brasil figura em sua letra ao lado de outros países como Inglaterra, China, Ucrânia, dentre outros.
[…Passamos pela Inglaterra, China, Ucrânia e Brasil / Arrasamos em Sydney e Fargo, Zanzibar e Sevilha / Eles sabem que é tudo sobre o espetáculo / Todas as garotas e todos os caras / De Catmandu a Kokomo / Porque arrasamos onde quer que vamos…Por todo o mundo / Por todo o mundo / É por isso que eles gostam, amam / Sim, por todo o mundo…]
Vale lembrar que o Brasil já fora citado, anteriormente, no álbum “The Last Temptation”, onde a cidade do Rio de Janeiro aparece na letra de “It’s Me”.
“Dead Don’t Dance”:
Flertando com o Southern Rock e o “Modern Rock”, temos aqui uma canção onde as vozes de Tia Alice aparecem dobradas, se fundindo entre o cantado e declamado, característica que lhe é peculiar em seus trabalhos.
Destaque para o excelente videoclipe sob a produção e edição de Joshua Smith (Pink Floyd, 99 Crimes, Shark Island, etc).
Destaque para a participação de Kane Robert, guitarrista que já integrou a banda em outros tempos, gravando discos excepcionais como “Constrictor” (1986), “Raise Your Fist and Yell” (1987) e “Trash” (1989).
“Go Away”:
Não fossem as guitarras e seu solo a la Slash (Guns ‘n Roses), ouviríamos mais uma canção setentista, pois trata-se de um momento totalmente “Rock ‘n Roll”, lembrando vagamente o que fazem os americanos do ZZ Top e Rolling Stones.
Uma das características de Alice Cooper sempre foi lidar com outros músicos, e ao que tudo indica é algo que faz bem a ambos. Basta olhar a lista de convidados em “Trash”, disco lançado em 1989 e que traz uma constelação de estrelas do calibre de Steven Tyler, Axl Rose, Kip Winger, Jon Bon Jovi, Joey Kramer, Joe Perry, Tom Hamilton, Michael Anthony, dentre outros.
“White Line Frankenstein”
Em “White Line Frankenstein”, não temos uma constelação, porém há a presença de Tom Morello, guitarrista do Rage Against The Machine.
Apesar de fazer parte de uma outra esfera musical, Morello conseguiu surpreender executando seu papel de forma genial. Como resultado, uma faixa excepcional, e uma das melhores do disco e que também ganhou videolcipe.
“Big Boots”:
Sabe aquela combinação perfeita entre as guitarras e teclados soando tal qual piano? Pois bem, é exatamente o que encontramos por aqui.
Numa vibe totalmente “festeira”, eis que nos deparamos com um refrão daqueles que mesmo caindo e batendo com a cabeça, é impossível esquecê-lo.
[…She got big boots, baby got boots / She got big boots, oh yeah / She got big boots, baby got boots/ She got big boots, oh yeah…]
Como a cereja do bolo, ainda temos um solo alegre e dançante das guitarras .
“Rules Of The Road”:
Mais uma viagem aos anos setenta e uma levada musical meio “Twist”, onde as guitarras e o contra baixo com suas bases pesadas dão as cartas. Não obstante, temos ótimos backing vocals em mais um momento excepcional.
“The Big Goodbye”:
Hard com aquela pegada do chamado “Modern Hard Rock” das bandas atuais, ou talvez a sonoridade atual de Alice? Literalmente, um salto dos anos 70 para os dias atuais.
“Road Rats Forever”:
Imagine o seguinte: churrasco familiar no domingão e aquele cunhado chato tocando músicas totalmente non-sense! Eis que ele se descuida e você é o dono da situação, pois bem, temos aqui uma daquelas canções festivas, alegres, e que certamente fará toda a família cair na dança, incluindo a vovò, aquela velhinha com baixa estatura que todos temem por conta de suas regras tradicionais das quais ninguém tem coragem de desobedecer.
Certamente, ela vai correr pra pista, e lembrar dos bailes aos quais frequentava com as amigas nos idos dos anos 30/40 e 50.
Destaques para os trabalhos espetaculares das guitarras (sensacionais).
Originalmente, “Road Rats” foi gravada no álbum “Lace and Whiskey”, terceiro trabalho de Alice Cooper solo, lançado em abril de 1977.
“Baby Please Don’t Go”:
Hora de abraçar a patroa e conduzi-la à dança. Temos aqui aquela baladinha recheada de violões, backing vocals com ar de Bon Jovi da fase atual em uma canção simples, empolgante e mais uma flecha certeira, aliás, dificilmente ele erra quando o assunto é balada.
“100 More Miles”:
Mais um momento grandioso do disco, numa power ballad “sombria” que une com maestria os maravilhosos anos 70/80 aos atuais, numa canção genial, feita por quem sabe de tudo e mais um pouco, destacando os trabalhos incriveis de animação de seu videoclipe.
“Magic Bus”:
Faixa excepcional fechando mais um trabalho estupendo, numa versão moderna e atual para uma canção originalmente gravada pelo quarteto britânico The Who, mas que caiu feito luva tanto em melodia quanto em vocais, assim como acontecera no supracitado “Detroit Stories”, onde Tia Alice deu uma repaginada em canções clássicas de nomes como The Velvet Underground, Outrageous Cherry e Bob Seger & The Last Heard cujos esultados soaram no mínimo PERFEITOS!
Durante décadas, Alice Cooper ultrapassou, presenciou e, sabiamente, se adaptou às mudanças e transformações acontecidas na música, ao contrário de outros artistas, que em seus mundos de fantasias decidiram “matar” o rock, no entanto Alice Cooper preferiu buscar neste o que havia de melhor em diferentes ocasiões.
Como bom anfitrião, jamais fechou as portas para músicos mais jovens, e talvez este pensamento tenha sido a grande sacada para unir em seus discos a essência daquela época, onde ele era o jovem em busca da fama e do sucesso, pois na década atual, seus discípulos vivem a mesma experiência e os mesmos anseios.
Como poucos, Alice Cooper se reinventou, e aparentemente não se importa se seus discos irão vender milhões de cópias já que seu nome por si só já é uma marca de grande sucesso.
Sem mostrar cansaço ou sequer falar em aposentadoria, palavra usada como “marketing” por alguns grupos, Tia Alice mostra em seu novo trabalho que está em boa forma, e que suas condições físicas permitem nos presentear com vindouros novos trabalhos.
“Road”, que em bom portuguuês quer dizer “Estrada”, é talvez uma mensagem subliminar de que ele (Alice) permanecerá nela por longos anos. Que assim seja.
Nota 9,3
Integrantes:
- Alice Cooper (vocal)
- Ryan Roxie (guitarra, vocal)
- Nita Strauss (guitarra, vocal)
- Tommy Henriksen (guitarra, teclado, vocal)
- Chuck Garric (baixo, vocal)
- Glen Sobel (bateria)
Convidados:
- Bob Ezrin (guitarra, vocal)
- Kane Roberts (guitarra, vocal)
- Tom Morello (guitarra, vocal)
- Burleigh Johnson (piano)
- Keith Miller (guitarras acústicas)
- Roger Glover (baixo)
- Sheryl Cooper (backing vocals)
Faixas:
- 1.I’m Alice
- 2.Welcome To The Show
- 3.All Over The World
- 4.Dead Don’t Dance (Feat. Kane Roberts)
- 5.Go Away
- 6.White Line Frankenstein (Feat. Tom Morello)
- 7.Big Boots
- 8.Rules Of the Road
- 9.The Big Goodbye
- 10.Road Rats Forever
- 11.Baby Please Don’t Go
- 12.100 More Miles
- 13.Magic Bus
Redigido por: Geovani “Manucanaíma” Vieira