Em diferentes matérias temos relatado músicos se queixando sobre a dificuldade de realizar turnês nos dias de hoje. Ao que parece, houve um aumento muito grande em praticamente todos os segmentos necessários para se realizar uma sequência de shows. E isso sem mencionar o encarecimento das taxas para se conseguir vistos nos Estados Unidos.
É claro que os artistas e bandas estão procurando alternativas para que as turnês se tornem viáveis, mas isso não é fácil. Principalmente se você não é um Gene Simmons ou qualquer nome grande da cena.
Acredito que você já tenha imaginado isso, mas um artista do mainstream consegue fazer com facilidade aquilo que os demais praticamente acham impossível. Gene, por exemplo, tem dito por aí que ganha mais dinheiro hoje em dia tocando com sua banda solo do que ganhava quando estava em turnê com o KISS.
Pode até parecer lorota, mas é a pura realidade. O baixista já tem um nome consolidado e, dessa forma, pode fazer “exigências”. Veja bem, ele pode simplesmente deixar que todos os meandros para a realização de seus shows sejam responsabilidade de outra pessoa.
Em uma nova entrevista concedida ao programa “Behind The Setlist”, da Billboard, Gene falou um pouco sobre seu atual momento tocando com a Gene Simmons Band. Em um primeiro momento, ele foi questionado sobre como ele faz turnês hoje em dia. Veja o que músico respondeu:
“Achei que poderia ficar longe do palco após a conclusão da turnê de despedida do KISS. Vale a pena notar que há uma mágica que acontece lá em cima que as palavras não conseguem descrever. É um sentimento e é difícil falar sobre sentimentos. Costumava haver um cara chamado Dr. Arthur Janov e ele tinha um ponto de vista meio hippie estranho sobre as pessoas terem suas coisas reprimidas. Então você coloca as pessoas em uma sala acolchoada. E era chamado de terapia do grito. Você entra lá e simplesmente se solta e, segundo consta, eu nunca fiz parte disso, mas, segundo consta, as pessoas saíam encharcadas de suor, aliviadas e cansadas e você expele todas essas coisas.
E passando pela vida, há regras. Você não pode elogiar muito as mulheres. Não há mais abraços. Existem todas essas regras. Você não pode fazer piadas sobre trans, piadas sobre gays, piadas sobre judeus, preto, você não pode fazer nada disso porque somos meio que… Vamos dizer que existem regras sutis das quais todos nós temos que estar cientes. Não no palco. Lá você é livre. Você simplesmente libera toda essa energia e é essa celebração da vida com os fãs. E você chega a esse tipo de lugar alegre.
Então, a Gene Simmons Band é uma chance para mim, com alguns amigos que são monstros em seus instrumentos, de sair por aí e simplesmente nos divertir. Vale a pena notar que não temos empresários, equipe de estrada, nada. Nenhum caminhão, nada. Os promotores locais fornecem a backline e nós simplesmente subimos lá e tocamos. E não há listas de músicas definidas. Os fãs podem gritar: ‘ei, por que vocês não tocam ‘Almost Human’, de 1804?’. Pode apostar. E nós começaremos a tocar. Ou: ‘vocês conhecem ‘Whole Lotta Love’?’. ‘Sim, acho que sim.’ E começamos a tocar. E em cada show nós trazemos os fãs para o palco, é tipo, ‘você sabe cantar?’, ‘você sabe tocar?, ‘vamos fazer uma festa aqui’.”
Gene concorda que não faz mais turnês da forma tradicional. Hoje, o músico não se utiliza mais dos serviços de um empresário e nem possui uma equipe de estrada. O rockstar contou como surgiu essa ideia:
“Na verdade, isso foi feito por músicos negros quando eles tocavam no Chitlin’ Circuit, o que costumava ser os clubes negros, porque eles não podiam tocar em clubes brancos. Então Chuck Berry, por exemplo, aparecia com sua guitarra e havia uma banda local. Agora, eu não faço isso, levo minha banda comigo, mas Berry aparecia e dizia aos caras: ‘estudem os discos, aprendam essas músicas, eu vou aparecer’, e sem ensaio, nada. Apenas deixe acontecer. E você pode ser tão coeso quanto os Rolling Stones. Não sei se você já viu os Stones ao vivo. Não importa o quanto eles ensaiam, há esse jeito meio desleixado e gorduroso de fazer isso. E você nunca sabe exatamente onde está o fim da música, ela nunca termina porque não há fim, você apenas meio que sente isso. Então é muito fácil. Nós nos divertimos muito. Os fãs estão, como dizem nas ruas, curtindo muito. E então você morre. É só isso que existe.”
Ao ser perguntado sobre a diferença financeira deste tipo de negócio se comparado ao que ele fazia no KISS, Gene respondeu:
“Eu ganho mais com minha banda solo. Sim, não há empresários, nem jatos particulares, nem 20 reboques de trator, nem equipe de 60 homens, nem shows enormes. E só a pirotecnia para cada show do KISS custava 10 mil dólares, às vezes 50 mil, dependendo se você vai tocar ao ar livre. Eram custos enormes, enormes mesmo para fazer isso, mas me sinto orgulhoso de ter feito isso com Paul Stanley e o resto dos caras da banda. Mas isso é algo decididamente diferente. É quase como se você decidisse alugar alguns amplificadores em uma garagem, plugar e então todo mundo da vizinhança entra e você tem um relacionamento muito diferente. Não há nada desse tipo de coisa preparada. É muito informal e muito divertido.”