Maturidade, esse adjetivo é algo que poucos conseguem ter na vida. Principalmente. quando o assunto é fazer algo de própria iniciativa. Basicamente, ser maduro é receber críticas e entender que aquilo pode ser benéfico para você e seu desenvolvimento. A maturidade também envolve filtrar essas críticas e ver quais são visando ajudar a crescer, e quais foram feitas apenas para te fazer cair. Em suma, a maturidade te ajuda a evoluir, entender o seu verdadeiro valor e desenvolver sua personalidade mesmo recebendo críticas e sendo massacrado pelo mundo. No mundo da música, a maturidade vem quando as críticas são levadas em conta e o músico/banda entendem que aqui vai te ajudar a evoluir. E um excelente exemplo disso é o que aconteceu com o Keep of Kalessin.
A estrada de Keep of Kalessin
O grupo norueguês surgiu em 1995 como uma das muitas bandas de Black Metal da época. Tendo muitas influências de nomes como Mayhem, Satyricon, Dimmu Borgir e Emperor, eles seguiram a veia crua do estilo, ou como alguns dizem, a veia ‘tosca’ do estilo. Lançando em 97 se debut chamado ‘Through Times of War’, a banda mostra o porque ela merece atenção na cena. Um disco acelerado, bruto, mas com uma produção bem aceitável, logo chamaram atenção dos ouvintes, e em 99 sai o segundo disco ‘Agnen – A Journey Through the Dark’. Aqui, o registro é um pouco mais cru, e com um direcionamento mais brutal que o primeiro. Porém, é nítido que a banda ainda estava procurando seu lugar na música.
Em 2004, entra o vocalista Thebon, e com isso, trazendo a sua influência musical ao grupo. Em 2006, por fim, vem ‘Armada’. Um álbum de Black Metal clássico ainda, mas muito bem trabalhado, com vocais que transitavam bem entre rasgados potentes e vocais mais cantados. Mas ainda não era a fórmula que daria o norte ao grupo.
O inicio dos acertos de identidade
2008 marca a saída de Kolossus, um disco que marca a transição quase completa de um Black Metal cru para algo mais trabalhado. Com baterias que lembram bastante construções de Death Metal mais melódico, esse disco possui muitos momentos onde ouvimos o grupo destoar completamente dos seus primeiros lançamentos. Após isso, é lançado em 2010 ‘Reptilian’, um disco que novamente se afasta do BM clássico e se aproxima mais de um som bem trabalhado e, musicalmente falando, mais rico. As músicas passam a ter andamentos cheios de nuances, mas ainda mantendo o pé no seu berço, como o exemplo a faixa ‘Judgement’.
Em 2013, Thebon sai da banda, mas suas influências ainda permanecem. Abraçando de vez o status de trio, o grupo lança em 2015 o excelente ‘Epistemology’, um disco de Melodic Black Metal, contudo, com personalidade. Bem construído e cheio de influências, aqui o trio ainda mostra que pode melhorar. Um dos pontos nesse disco que me desagradaram é o fato das músicas, apesar de bem construídas, possuírem uma duração gigantesca. Para um ouvinte que não entenda a proposta da banda, isso pode cansar a audição. Além disso, o disco de 2015 parecia ainda ter algumas pontas soltas e desconexas. Pontos esses que felizmente foram corrigidos em 2023.
A nova era do Keep of Kalessin
‘Katharsis’ chega a nós com imponência e muito peso. Mergulhando e dosando de forma excelente o BM com o Death Metal, o disco entrega ao ouvinte um disco rico e completo. Com músicas mais curtas em sua maioria, (sem deixar de lado as composições mais longas), o trio norueguês parece que finalmente se encontrou.
O novo lançamento abre com a faixa homônima, por fim, uma explosão de riffs brutais, uma bateria que realmente preenche a música e não rouba a cena pela sua forma ‘extrema’. Os vocais de Obsidian agora parecem mais encorpados e amadurecidos. Além disso, os riffs se encontram perfeitamente em sintonia com o baixo grave e ensurdecedor de Wizziac. O novo trabalho nos abençoa com faixas enérgicas, como o caso de ‘Hellride’. Rápida e incisiva, a bateria explosiva de Nechtan mostra que ainda estamos falando de um grupo de BM. Os coros sombrios durante toda a composição dão uma atmosfera obscura, contudo, maligna a essa composição.
Essência do Black Metal
A terceira faixa, ‘The Omni’ segue o preceito de sua sucessora, mas aqui, os vocais mais parecem estar contando uma história épica de batalhas. O refrão entoado como um coro de guerra bem executado, e com isso fica gravado em nossas mentes a frases como:
‘We are stardust
We are the stars and galaxies’
A quarta e quinta obra são ‘War of the Wyrm’ e ‘From the Stars And Beyond’, onde finalmente encontramos aquela atmosfera mais teatral, com riffs rápidos, coros angelicais (ou demoníacos, depende do ponto de vista) e um andamento contagiante, essas composições são honestas e mostram que o grupo nunca se perdeu em seu estilo, apenas evoluiu. Em ‘Journey’s End’, o disco tem uma queda, não de qualidade, mas de brutalidade. Como um oásis em meio ao deserto, essa faixa mais ‘balada’ tranquiliza o ouvido do fã. Literalmente te preparando para o final, que se aproxima. A dupla final de ‘Katharsis’ é um conjunto épico com duração de 18 minutos, divididos entre ‘The Obsidian Expanse’ e ‘Throne of Execration’.
Finalização excelente
Na primeira faixa do duo, ouvimos aquele Black Metal impecável, rápido, técnico, brutal, mas, com uma orquestração perfeitamente encaixada. Nos 10 minutos de duração da música, nenhuma ponta solta é encontrada. Ou seja, todas as passagens entre a brutalidade e a técnica são perfeitamente calculadas. Outra nota, é para o trabalho de baixo de Wizziac, que agora consegue ser ouvido como um condutor firme e poderoso para os riffs rápidos. Simplesmente uma obra teatral que não cansa a audição, mas, que adiciona mais combustível para o ouvinte.
Em sequência, ‘Throne of Execration’ se apresenta com seus 8 minutos dando o melhor de si. Com a atmosfera densa e digna de uma opera macabra, os instrumentos rompem a barreira da imaginação e invadem a audição com uma velocidade cortante. Os vocais acrescentam aqui uma maturidade incrível para a essência da música, em suma, um Black Metal impecável. Por fim, ‘The Eternal Swarm’ é um Outro que finaliza o disco.
Notas (mentais) aos leitores
Em conclusão, diferente da costumeira ‘tosquice’ da maioria das bandas do estilo, Keep of Kalessin conseguiu evoluir e aprender com sua trajetória. Com isso, melhoraram em 100% (considerando seu primeiro disco). As linhas instrumentais não são mais aquele embaralhado de coisas, agora elas se unem e criam uma melodia propriamente dita. Os vocais soam como um acompanhamento dessa obra. E por fim, a atmosfera engloba tudo! Simplesmente uma verdadeira história de evolução e maturidade em aprender com críticas.
Tem muita gente que precisa tirar umas aulas com esse trio norueguês.
Nota: 8,5
Integrantes:
- Arnt “Obsidian” Gronbech (Guitarras, Vocais, Teclados)
- Robin “Wizziac” Isaksen (Baixo, Vocal secundário)
- Wanja “Nechtan” Gröger (Bateria)
Faixas:
- Katharsis
- Hellride
- The Omni
- War of the Wyrm
- From the Stars and Beyond
- Journey’s End
- The Obsidian Expanse
- Throne of Execration
- The Eternal Swarm (Outro)
Redigido por Yurian ‘Dollynho’ Paiva