Na imensa lista de nomes desconhecidos, a banda inglesa de Prog Rock/Heavy Prog, Kepler Ten, merece trilhar o caminho do sucesso, já que formam mais um daqueles grupos, que apesar de fazer exatamente o que muitos fazem, ainda assim conseguem chamar a atenção por sua musicalidade e principalmente por sua sonoridade que transita entre nomes como Dream Theater, Arena, RPWL, Poverty’s No Crime e Rush. Este último, o grande responsável pela existência da banda já que no início, o grupo começou como um tributo aos canadenses.
Após o excelente “Delta-V”, álbum de estreia lançado em 2017, o trio lançou, em novembro do ano passado, o não menos excelente “A New Kind of Sideways”, segundo trabalho e mais um discaço aos amantes dos estilos e bandas supracitadas (sou um deles).
Contendo oito faixas, divididas em aproximadamente 65 minutos de duração, “A New Kind of Sideways” apresenta a mesma fórmula de seu antecessor e mostra que se James Durand (vocais, baixo e teclados), Alistair Bell (guitarras, backing vocals) e Steve Hales (bateria, piano, backing vocals) obtiverem o prestígio e a atenção devida, certamente, darão o que falar e lançarão discos tão excepcionais quanto o famoso trio canadense.
Apresentações feitas, é hora de conferir faixa a faixa deste que é um disco fabuloso e altamente recomendado.
As boas vindas começam com a instrumental “Universal”, faixa/intro trazendo em seu início linhas de orquestrações e uma atmosfera típica de trilha sonora de filmes de ficção científica, que logo se desfazem já que as guitarras dão o tom ao injetar riffs prog, criando uma conexão direta com a próxima faixa, “Clarity”, numa junção perfeita ligando as duas canções que se entrelaçam e se transformam em apenas uma.
Apesar de sua longa duração (ultrapassando os 10 minutos), a música apresenta melodias simples com instrumental muito bem distribuído, vocais bem encaixados e a ausência das temíveis virtuoses, que por vezes é aquilo de chamamos de areia no mingau. Ou seja, temos em questão uma música bem conduzida e totalmente satisfatória, com destaques para as linhas de baixo e vozes de James Durand.
Como é de costume dizer: Excelente faixa (neste caso, faixas) de abertura.
Seguindo adiante com “Falling Down”, single que antecedeu o disco, ganhou videoclipe e traz em suas melodias a sonoridade de grupos como Balance of Power, Magnitude 9 e Consortium Project. Em suas linhas de teclados que mais parecem um encontro entre os suecos do Seventh Wonder e os holandeses do Ayreon, temos aqui uma das faixas excepcionais e empolgantes do disco com doses regulares de Prog, Neo-Prog e Neoclassico.
Mais um single, e a bola da vez é “Weaver”, faixa que também ganhou videoclipe. Apresentando melodias que nos remetem aos holandeses do Ricocher ou aos ingleses do IQ e Arena, somos envoltos num encontro excepcional de Prog/Neo-Prog, onde os vocais de James Durand fazem o diferencial, embora não citar as linhas de guitarras de Alistair Bell seria covardia. Que música espetacular.
E já que citei a palavra “espetacular”, a mesma serve para classificar “These Few Words”, canção que em seus longos oito minutos nos convida a embarcar numa viagem excepcional pelas ondas sonoras de uma das mais belas composições do disco.
Sabe aquela música que começa despretensiosa, vai tomando forma e de repente se transforma em algo gigante? Pois é exatamente isso que acontece aqui.
Em um dos momentos mais incríveis, um mergulho nas melodias grudentas, riffs grandiosos de guitarras, linhas criativas de contra baixo, teclados harmoniosos, bateria marcante e nos vocais afinados de Durband, os quais nos transportam aos melhores momentos de grupos como Poverty’s No Crime, Oceans of Night, RPWL, Knight Area, Porcupine Tree, Riverside, etc. Ao final, após a última nota musical é aconselhável que a tecla “Repeat” seja usada sem moderação.
A introdução de “A New Kind of Sideways”, faixa que batiza o álbum, certamente fará o ouvinte imaginar tratar-se de “Distant Early Warning” do Rush. Trazendo similaridades em suas sonoridades, temos mais um excelente momento do disco onde é necessário enfatizar que além dos vocais, James Durand destaca-se também por ser um exímio baixista e tecladista. O mesmo toca muito.
Os violões semi-acústicos de “Icarus Eyes” por alguns segundos nos lembra da magistral “Gallows Pole”, dos mestres ingleses do Led Zeppelin. Porém, estas impressões são tão rápidas, que talvez passem despercebidas. O que vem em seguida é uma gama de melodias envolventes em uma canção a qual poderíamos classificá-la como “a balada do álbum”, embora em seus momentos finais tenhamos uma alteração em seu andamento musical, soando bem diferente de seu início.
Em mais um momento estupendo, mergulhamos em harmonias belíssimas que nos transportam à sonoridade de nomes como Eloy, IQ, Rick Wakeman, Ken Hensley Band, bem como os trabalhos solos de Fish (ex Marillion) e Peter Gabriel (Genesis).
Aos atentos a detalhes, “Icarus Eyes” também traz em dado momento melodias que nos remetem a “Here Comes The Sun” dos Beatles e “Love Alive” do Heart.
Destaques para os backing vocals soando como “coros” e mais um momento espetacular. E meu Deus, como canta James Durand!
Uma música cuja duração ultrapassa os 20 minutos é algo que pode soar maçante, cansativo e certamente deve causar um sono incontrolável. Certo? Errado! No caso específico de “One and The Same”, faixa que encerra o disco, o ouvinte embarca numa viagem épica, cheia de andamentos, mudanças rítmicas e sonoridade que desfila na passarela do Rock, Prog, Neo-Prog, Neoclassico e Melodic Rock, fechando com chave de ouro um trabalho riquíssimo em melodias, simples em sua musicalidade e perfeito em seus acordes.
Mais uma vez, estamos diante uma composição genial nos moldes do que fazem nomes como Riverside, Steven Wilson (Porcupine Tree), IQ, Marillion (fase Steve Hogarth) e Ayreon.
Destaques para as guitarras de Alistair Bell e para o “coro de vozes” que de forma sublime enfeitam e engrandecem cada nota musical, desta que é mais uma belíssima composição rica em melodias e em sua construção deveras impressionante.
Numa lista de nomes do chamado “Underground”, bandas como Kepler Ten são verdadeiros achados e verdadeiras pérolas musicais, visto que quando se fala de Prog Rock ou Progressive Metal vêm a cabeça bandas cujos discos são verdadeiras trilhas sonoras para personagens de contos infantis como A Bela Adormecida, por exemplo.
Seguindo a linha paralela que separa a chatice da melodia, é prazeroso ouvir composições longas que conseguem soar equilibradas e harmoniosas, transparecendo tão simples como uma música qualquer. Daquelas cuja duração não ultrapassa dos quatro ou cinco minuto.
Outro fator importante em bandas de Progressive Rock/Progressive Metal está nos vocais, uma vez que caso o vocalista não possua um timbre agradável, então é quase certo que o ouvinte sequer chegue até a metade do disco. No caso específico de James Durand, o rapaz tem um timbre agradável, soando suave e contido na maioria das vezes, não abusando inclusive dos temíveis falsetes e/ou tons inatingíveis.
Simplificando e fazendo um comparativo: Seus vocais transitam na mesma via de nomes como: Jürgen Lang (RPWL), Oliver Phillips (Everon), Paul Manzi (Arena), Peter Nichols (IQ), Scott Oliva (Oceans of Night), Erwin Boerenkamps (Ricocher), Volker Walsemann (Poverty’s No Crime), Rick Wakeman (Yes), Fish, Peter Gabriel, Geddy Lee (Rush), entre outros.
Com apenas dois discos lançado, o Kepler Ten mostra que os anos vindouros podem trazer-lhes a fama merecida e quem sabe um salto do underground para o estrelato aconteça o quão breve possível, visto que pelos trabalhos mostrados até o momento, já os tornaram merecedores.
Aos amantes dos grupos e estilos acima citados, mergulhem de cabeça na sonoridade do trio inglês e também nas melodias geniais de seus dois (por enquanto) excelentes registros.
Altamente recomendado.
- Faixas:
- 1.Universal
- 2.Clarity
- 3.Falling Down
- 4.Weaver
- 5.These Few Words
- 6.A New Kind of Sideways
- 7.Icarus Eyes
- 8.One and the Same
- Integrantes:
- James Durand (vocal, baixo, teclado)
- Alistair Bell (guitarra, backing vocal)
- Steve Hales (bateria, piano, backing vocal)
Redigido por: Geovani Vieira