A Alemanha é tida como um país novo e muito velho ao mesmo tempo devido a toda sua história. Possui suas particularidades e muitas qualidades, como suas cervejas, seu futebol e sua arte, incluindo a música pela qual será tratada aqui. As ramificações e fusões que envolvem Thrash, Speed e Heavy com o Black Metal se tornaram destaque com o passar dos anos. Embora não sejam junções novas eram bem menos conhecidas pela maioria dos fãs de música extrema, e hoje temos diversas nomenclaturas carregadas e administradas por bandas cada vez mais qualificadas.
Diretamente de Neustadt an der Orla, Thuringia. Nosso caríssimo leitor conhecerá mais um lançamento agora voltado para o Black/Thrash Metal, estilo este dominado por países como Bélgica, Suécia, Chile, Equador e a própria Alemanha. Lançado dia 9 de abril via Evil Spell Records, “A Thousand Pyres” é o segundo full length do Nocturnal Witch. Banda que conta com dois integrantes de forma oficial. O vocalista, guitarrista e baixista Tyrant, e o baterista, tecladista e backing vocal Baphomet. O álbum foi produzido, mixado e masterizado por Patrick W. Engel. A arte da capa ficou a cargo de Alexander “Beast” Kavtea e as gravações todas feitas por Tyrant e Baphomet. Para os shows participam Venomessiah (Division Speed, Sanctifying Ritual, Bloodthirst, Infernal Execution, ex-Serpent (live)) que foi baixista de 2010 a 2018, e desde então toca guitarra. E o baixista N. Vmtr (Possession, Cruel Force, Old, ex-Nocturnal).
Sem mais delongas, o disco abre caminho para a maldição sonora com “Downfall Of The World” – faixa esta que logo em suas primeiras notas já despeja toda a influência e roupagem do Desaster, tanto em linhas sonoras quanto em distorção, principalmente dos tons de Baphomet e uma boa pitada de Bastardizer. Os primeiros versos já dizem bastante sobre a queda do mundo: “Siga, obedeça, confesse seus pecados / Para o altar dos reis do submundo”. Sob forte influência de Besatt e Alcoholic Rites, as mil piras lembram as Olimpíadas, mas a lembrança fica apenas no nome. A escuridão fria e os pensamentos malignos tomam conta do certame mostrando que o Nocturnal Witch pode ser mais maléfico do que se imagina musicalmente falando. O problema é que “A Thousand Pyres” não convence tanto em algumas partes quase tombando o caminhão de melancias da horta da tia nefasta. Mas, não estraga o alimento e é liricamente bastante poderosa como podemos ver em seu refrão: “Prove – O sangue entre as mandíbulas / Sinta – A dor do fogo abaixo / Ouça – O grito dos mortos-vivos / Prove – A decadência repugnante”.
Em “Black Chalice” a horda mostra um lado extremo tão visceral quase beirando o Death Metal lembrando um bocado o Blasphemer. As guitarras seguem o padrão muito bem elaborado mantendo a proposta e utilizando bastante das linhas de Black e Thrash Metal. O cálice negro revela as atrocidades do falso Messias e o poder do anticristo. “Cálice Negro – Levando à feitiçaria / Cálice Negro – Encheu seus olhos com sangue / Cálice Negro – Feitos do anticristo / Cálice Negro – Nossas almas são sacrificadas”. Na sequência o desprezo e a ira tomam conta de “Scorn And Wrath” com riffs e mais riffs despejando todo ódio musical oriundo das trevas – “Maldito seja a terra, o mar e a terra“. Sob a roupagem do Desaster revestida de Bewitched a devastação sonora segue com “Dark Forces”. Nada como empunhar a voz e dizer o refrão simples exaltando o nome desta canção que conta com dizeres como neste trecho: “Veja o sinal do mal / Ouça o coro das bruxas / Sinta a chuva ácida / Veja o sinal da morte”.
“Eclipsing The Light” mantém o padrão obscuro, sombrio e cortante regado de bons riffs e uma condução de bateria amplamente qualificada com uma boa dose de Cruel Force reforçado pelo Nocturnal. Ira e sangue revelam o destino macabro do mundo: “Dia da ira / Noite de sangue / Este véu pestilento / Eclipsando a luz dos deuses”. Vale destacar esse trágico momento para o divino também: “Desânimo frenético para o universo / Tortura esquelética imposta ao amaldiçoado / A forca tem fome de almas e sangue / Sem vida nem esperança nem deus”. O início e o alicerce de “Follow the Call…” trazem à tona o Behemoth do início de carreira somado a uma colher de chá de Apocalyptic Raids, o que enriquece ainda mais esta obra. “Rostos cheios de medos / Sangue frio, veias congeladas / Agressivo, total feroz / Agora, a humanidade acorrentada”… “Siga a chamada do cavaleiro do mestre”. E encerrando de forma digna fazendo o rei do submundo aplaudir de pé, “Raise The Swords” despeja todo seu arsenal ríspido e descomunal mantendo toda a base de influências em sua receita fechando essa runa com enorme prestígio e consagração profana. “Nós somos os escravos de um mundo agonizante / Sacrificado ao desperdício humano / Uma força armada nas sombras da luz / Vingança é o nosso destino.”
Uma coisa a ser dita nesse final de papiro é ressaltar que o Black/Thrash Metal pode e costuma envolver um terreno mais sombrio oferecendo mais espaço para o Black Metal em questão, enquanto o intitulado Blackened Thrash Metal possui menos variantes do estilo mesmo possuindo um alicerce próximo. O fato é que ambos os subgêneros possuem uma carta de bandas de amplo valor como a banda em questão aqui. E através deste novo full length o Nocturnal Witch acabara de entrar para o seleto grupo de grandes bandas dessa linhagem dentro do Metal. Todas as bandas citadas como influência estão espalhadas ao redor do disco mostrando que estão intrínsecas dentro da sonoridade de forma proposital sem soar como mera cópia e funcionando como mecanismo de pura inspiração do Nocturnal Witch deixando a tia nefasta mais feliz.
Que a tropa de soldados agressivos do inferno siga esmagando a humanidade de ouvidos sensíveis pelo feitiço sonoro e maligno de Satanás, tornando-se mais forte a cada álbum lançado.
Nota: 8,9
Integrantes:
- Tyrant (vocal, guitarra, baixo)
- Baphomet (bateria, teclado, vocal de apoio)
Músicos de shows:
- Venomessiah (guitarra)
- N. Vmtr (baixo)
Faixas:
1. Downfall Of The World
2. A Thousand Pyres
3. Black Chalice
4. Scorn And Wrath
5. Dark Forces
6. Eclipsing The Light
7. Follow The Call…
8. Raise The Swords
Redigido por Stephan Giuliano