Season Of Mist
Conhecido por ser o guitarrista, vocalista e líder do Rotting Christ, Sakis Tolis é aquele músico que dispensa apresentações, visto que os trabalhos primorosos à frente de sua banda falam por si só.
Dono de uma carreira brilhante ao lado do já citado Rotting Christ, Athanasios Tolis (seu nome verdadeiro) e sua trupe certamente tornaram-se referências para inúmeros grupos cuja sonoridade são calcadas no Gothic, Black, Symphonic Black e Melodic Black Metal.
Enquanto sua banda principal colhe os frutos do excelente “The Heretics”, um dos melhores discos lançados em 2019, o músico resolveu investir em um álbum solo, trilhando caminhos paralelos, enquanto o mundo vivia o pesadelo do lockdown aliado ao terror da covid-19.
Antes que suspeitas sobre o futuro do Rotting Christ sejam levantadas, digo-lhes que podem dormir tranquilos, pois a banda permanece em plena atividade preparando seu novo disco de estúdio, lançando inclusive um novo single , “Holy Mountain”, primeiro do vindouro álbum ainda sem título e/ou data oficial de lançamento.
Sobre seu disco solo:
Gravado e mixado no Deva Soundz Studios, em Athenas (Grécia), “Among The Fires Of Hell” foi lançado oficialmente no dia 22 de março deste ano e conta com oito faixas inéditas, além do cover para “Nocturnal Hecate”, originalmente gravada pela banda grega Daemonia Nymphe.

Em sua nova empreitada, o músico foi o responsável pela produção (caprichadíssima, diga-se), por todos os instrumentos, pelas vozes principais, e também pelas letras/composições. Ou seja, trata-se de uma “one-man-band” com claras influências de sua banda principal, em especial aos discos “A Dead Poem” e “Sleep Of The Angels”, dois excelentes registros lançados em 1997 e 1999, respectivamente.
Para dar uma forcinha e ajudar nas tarefas musicais, as presenças de Fotis Benardo (bateria), Aggelos Maniatako (teclados), além da dupla Andrew Liles e Stratis Steele, responsáveis pelas narrações do álbum.
Anotações feitas, é hora de mergulhar nas melodias sombrias de “Among The Fires Of Hell”.
Vem comigo!
“Courage is a kind of salvation” (A coragem é uma espécie de salvação). Frase extraída da excelente “My Salvation”, faixa escolhida para recepcionar o ouvinte, e de cara um convite para que visitemos o ótimo “Sleep Of the Angels”. Com um ar sombrio, melancólico e melodias cadenciadas, temos aqui uma canção cujos riffs dominam o ambiente oferecendo ao ouvinte um refrão simples e grudento, daqueles onde cantamos juntos a primeira audição.
“…My salvation, rebirths / For my salvation / My salvation, and death / For my salvation…”
A introdução declamada, que abre a faixa título, não poderia ser menos que perfeita:
“I was walking among the fires of hell, Delighted with the enjoyments of genius, Which to angels looked like torment and insanity”
Mergulhamos nas melodias de “Among The Fires Of Hell”, canção que batiza o disco e também o single de estreia. Cadenciada, com seus riffs pesados e profundos, auxiliados pela bateria pesada e precisa, responsável inclusive pela dose extra de peso, viajamos até 1996 quando o Rotting Christ editou o magistral “Triarchy Of The Lost Lovers”, provavelmente o disco que introduziu a banda ao Gothic Metal.
Em seus versos finais, Sakis declama trechos do poema “I Heard an Angel”, do pintor e poeta inglês, William Blake (1757-1827), encerrando assim uma das músicas mais belas dos disco.
“I Heard an Angel / I heard an Angel singing / When the day was springing / Mercy Pity Peace / Is the worlds release. Thus he sung all day / Over the new mown hay / Till the sun went down / And haycocks looked brown”.
Os riffs iniciais de “After Dark I Feel”, não, espera! Na verdade trata-se de “The Dawn Of A New Age”, faixa que apresenta as mesmas melodias da referida canção presente no citado “Sleep Of The Angels”. Desde os licks de guitarras, linhas de teclados, bateria, melodias, e vocais, absolutamente tudo soa muito parecido. E isso é ruim? Em absoluto, já que estamos falando de uma das melhores músicas da fase Gothic Metal dos gregos.
Par encerrar em alto estilo, as declamações aqui aparecem em seu início e também no final, quando Sakis brada:
“This is the dawn of a new age/Dethroned by the stars / The age of excellence / In which personal purity / Will absolutely matter / Believe in you / Because your voice is important / Believe in you / Because there is only one you / This is the dawn of the age of Aquarius”.

Mantendo o equilíbrio , “We The Fallen Angel” é mais uma paulada nos tímpanos e nitidamente uma daquelas músicas que conquistam o ouvinte de imediato. Caso você mantenha-se indiferente após ouvi-la, então é certo de suas células já não está mais vivas.
A propósito, as linhas de guitarras, nesta faixa em especial, soam monstruosas. Que coisa linda. Destaques também para o belo e poderoso coro de vozes, caindo como luva numa canção que já nasceu grandiosa.
Aviso: Ao final, é necessário que se faça uso da tecla “Repeat”, sem moderação.
E claro que temos mais uma narração belíssima em seu final.
“…How you have fallen from heaven / O morning star, son of the dawn / You have been cast down to earth / You who once had slaved all the nations…”
Abram alas para a estupenda, “Ad Astra”. Mais uma vez as harmonias de “Sleep Of The Angels” percorrem o disco e também nossos ouvidos, já que em dado momento suas linhas instrumentais passeiam claramente pelas melodias grudentas e viciantes de “After Dark I Feel”. Traçando comparativos, é possível perceber o quão idênticas são os riffs e licks de guitarras, numa música que poderíamos dizer sem medo soa como continuação. Se tem alguma citação no final? Claro que tem!
“…To be a star, you must shine your own light / Follow your path, and don’t worry about the darkness / For that is where the stars shine brightest / Always do what you are afraid to do / Always do what you are scared to do / And remember, every man and every woman is a star…”
Uma mergulho nas sonoridades de “Theogonia” (2007) e “Aelo” (2010). Esta é a impressão que temos aos ouvir os acordes de “Live With Passion-(Die With Honour)”, mais uma grata surpresa e mais uma daquelas músicas perfeitas. Talvez esta seja a música mais Heavy Metal do disco, já que sua levada e seus riffs de guitarras diferem das demais, bem como os vocais que apesar de sombrios, fazem uma combinação perfeita com o instrumental “Heavy” aqui despejados.
Destaque para as guitarras que despejam um belíssimo solo (absurdo, musicalmente falando) e para a sombriedade com a qual os teclados se apresentam. E já que falei de teclados, são eles que dão as cartas na curta e sombria “I Name You Under Our Cult”, faixa onde Sakis transita entre o gutural e o mezzo-gutural, auxiliado por guitarras nervosas responsáveis por se despejar uma avalanche de riffs, numa música épica e grandiosa. E como não mencionar a grandeza dos demais instrumentos? Sim! é preciso enaltecer os trabalhos primorosos da bateria (compassada e pesada), do contrabaixo (linhas ultra pesadas), e teclados, responsáveis por criarem uma atmosfera densa, sombria e obscura. Aliás, estas características estão presentes em todo o disco.
“The Silence” traz consigo a responsabilidade de fechar um disco extraordinário e tal feito é realizado com sucesso. Pesada, densa, melancólica e com ares sombrios, onde os vocais são praticamente narrados ao invés de cantados, temos aqui uma referência aos excelentes “Rituals” e “The Herectics”, respectivamente o penúltimo e último trabalhos do Rotting Christ, editados em 2016 e 2019. Tal referência se aplica principalmente às vozes, já que nos breves momentos em que são “cantadas”, Sakis resolve enfim vociferar com todas as forças de seus pulmões aquele timbre ríspido e agressivo que lhe é peculiar, numa música que encerra em grande estilo um disco brilhante da primeira a última faixa.
Oficialmente, o disco fecha com uma versão excepcional para “Nocturnal Hecate”, da banda grega de Neoclassical/Neo-Folk, Daemonia Nymphe.
Mais que um novo disco na brilhante carreira de Sakis Tolis, “Among The Fires Of Hell” é sem sombra de dúvidas um dos melhores (senão o melhor) trabalho de Gothic/Black lançado até o momento e um forte candidato ao lugar mais alto do pódio na minha lista de Melhores do Ano, por motivos óbvios.

Em aproximadamente quarenta e um minutos de duração, “Among The Fires Of Hell” oferece ao ouvinte momentos de grande satisfação sonora, principalmente aos familiarizados com a carreira de Sakis (sou um deles).
Apesar de um trabalho solo, fica claro e evidente que tudo aqui soa tão igual ao que o músico faz em sua banda principal. Particularmente, não vejo isso como algo negativo, já que o momento de “reclusão” que nos fora imposto nos dois últimos anos tenha sido (talvez) a causa do músico continuar colocando suas boas ideias em prática. Ou seja, compondo suas canções.
Com isso, não se espante se durante sua viagem sonora, algumas harmonias/melodias lhe trouxerem a mente canções como “Gaia Tellus, “Threnody”, “Noctis era”, “Thou Art Lord”, “Santa Muerte”, “King Of The Stellar War”, “Triachy Of The Lost Lovers”, “Dying”, “Under The Name Of Legion”, ‘Art Of Sins”, “Kronos”, “Cold Colours” , “After Dark I Feel”, entre outras.
*Dono de uma carreira relevante ao lado do Rotting Christ, o músico integra o Thou Art Lord, além de várias participações especiais em trabalhos de outros artistas. Dentre eles: Lloth, Anomalice, Nekron Iahes, Chaotic End, Black Void, Daylight Misery, Nekkar, Deviser, etc.
N do R: Lendo alguns comentários sobre o primeiro álbum solo do artista, um fã escreveu o seguinte:
“Sakis Tolis é um mestre das artes das trevas; ele pode gerar espontaneamente trilhas sonoras sombrias e pesadas, ao mesmo tempo cativantes e melódicas”.
Fato!
Nota: 9,9
Integrantes:
- Sakis Tolis (vocal, guitarra, baixo e teclado)
Músicos convidados:
- Fotis Benardo (bateria)
- Aggelos Maniatako (teclado)
- Andrew Liles e Stratis Steele (narrações)
Faixas:
- 1.My Salvation
- 2.Among The Fires Of Hell
- 3.The Dawn Of A New Age
- 4.We The Fallen Angels
- 5.Ad Astra
- 6.Live With Passion (Die With Honour)
- 7.I Name You Under Our Cult
- 8.The Silence
- 9.Nocturnal Hecate (Daemonia Nymphe cover)
Redigido por Geovani “Gigio” Vieira