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Resenha (Indicação Extrema): Guerra Total – “War Is The Pursuit Of Death: A Hymnal For The Misanthrope”(2020)

Existe o tipo de pessoa que clama por guerra, mas se estourar uma “birimbinha” perto dela, esta pula e grita feito uma galinha-d’Angola! Agora, partindo da premissa somente sobre “múzga”, essa é uma daquelas bandas que praticam aquela sujeira boa que todo adepto do Metal de bueiro, sujo e cortante costuma apreciar sem moderação. Aquelas misturas, já bem conhecidas, entre dois, três, e até quatro vertentes de Metal, ou até mais, mostram muitas coisas boas referentes ao dito Metal extremo. Posicionando o globo terrestre ao território de origem do Guerra Total, nos deparamos com a nossa vizinha Colômbia, mais precisamente em Bogotá. Este sim é o exato ponto de partida desta banda que carrega um ódio visceral e magnífico em suas composições. Ainda não sei se este novo disco de nome gigante possa manter a banda sobre a prancha, porém, é inegável dizer que a maré está excelente para grupos praticantes de misturas finas como Black/Thrash/Speed Metal, por exemplo. Para quem ainda não é tão ou nem um pouco familiarizado com o Metal colombiano, posso citar dois dos grandes ícones da terra de Carlos Valderrama, Rincón e Higuita. São elas: Witchtrap e Revenge. Ambas lançaram álbum recentemente e, tanto uma quanto a outra seguiram a cartilha do grão mestre de como se construir um disco de qualidade ímpar. Gosto muito dessas duas bandas e com o Guerra Total não é diferente, tornando-a como aquela que fecha o trio de aço auriazul e rubro! O time é formado por: Segnor Root no baixo, teclado, teremim (tido como um dos primeiros instrumentos completamente eletrônicos) e vocais (Eternal Drak, ex-Opiate, ex-Necronslaught, ex-H.E.X.); Deathfiend na guitarra (Evilucifer, ex-Devasted); Jordicaz nos vocais (ex-Implosion Brain); e Naberius na bateria (Funebria). Vale destacar que Gerson utilizava o codinome “Demonslaught” até o penúltimo álbum.

   

Agora os colombianos contabilizam exatos oito discos, além de vários splits, demos, e também foi lançada no dia 11 de julho, via Hidden Marly Production, sua terceira compilação intitulada “Cosmic Horror Anthology Vol. 1”. “War Is The Pursuit Of Death: A Hymnal For The Misanthrope” foi lançada no dia 17 de abril, contando com uma parceria entre o selo russo Satanath Records e o selo mexicano Iron Blood And Death Corporation. Agora vamos averiguar o que estes guerreiros infernais aprontaram neste mais novo artefato antidivino.

Estamos diante do portal principal de outra dimensão, onde pego a chave e ao abrir o portão que range mais que uma matilha de lobos famintos, eu me deparo com “Ancient Hymns To The Goddess Of War (Inanna)”, faixa que abre o caminho para o poder quase infinito da deusa da guerra, que intimida aos demais com seu ímpeto, força e beleza. Inanna é mencionada na Bíblia Hebraica como a rainha do céu e deusa do sexo, guerra, justiça e poder político. Os primeiros dedilhados marcam a chama acesa pela deusa que logo atira para todos os lados através de uma bateria incessante e riffs vorazes que atravessam o peito dos seres indefesos que infestam o território atacado. Como não amar uma guerra? Quem ama tal acontecimento ama morrer todos os dias. E durante todo o percurso devastado de vilarejos precários e ortodoxos, os solos surgem após os vocais cavernosos de Jordicaz rasgarem o solo como um arquipélago de flechas de fogo vindo do céu. Ao caminhar pelo pântano próximo a uma das vilas atingidas temos “Battle Of Ypres (Song For My Funeral)”, que traz a lembrança sobre uma das batalhas mais sangrentas de todos os tempos, pertencente à chamada Primeira Guerra Mundial. Sempre contornado pelo Black Metal, as nuances Thrash e Speed ditam a marcha frente ao caos do início do século passado. Melodias calmas indicando um solo emperrado na desgraça mundana tomam conta do certame até que os pedais de Naberius elevam o peso da mensagem sonora. O solo ensurdecedor de quem não é adepto da sujeira do bueiro construído por Deathfiend fecha esta canção.

“Black Horror Kommando II (Sinfonía Del Odio)” aparece numa posição privilegiada como sendo o trítono do set list deste full-length. Se antes a coisa estava bem extrema e catastrófica, aqui tudo isso amplia e mostra o Guerra Total ainda mais implacável. Nos momentos que indicam uma espécie de reza, me remete aos trabalhos mais recentes dos gregos do Rotting Christ, citando um exemplo qualificado à altura, e a sinfonia segue de vento em polpa até próximo de uma clareira na qual encontraremos a quarta canção do disco. “Ethnocide (World Cenotaph)” carrega a chama fúnebre de um momento em que estamos vivenciando atualmente só que ao invés de prestar homenagens póstumas a um túmulo honorário, as pessoas não se podem fazer presente diante de uma vítima fatal por conta dos riscos de contaminação na qual considero como um cenotáfio às avessas. Iniciado pelos bumbos e tons de Naberius, os outros três principais componentes dão as cartas e mantém as chamas negras imortais mais altas que a chama da pira olímpica. E se alguém ainda arrisca dizer que Black Metal não possui nada de bom, é melhor nem ouvir nada mesmo para não atrapalhar quem está trabalhando firme e com vontade de lançar “múzga” boa.

“Himnos Rituales De Guerra Y Total Devastación” convoca a todos para bangear frente ao hino ritual e devastar toda a sua vizinhança que beija a cruz de dia e esfaqueia seu semelhante pelas costas ao anoitecer. Puro suco do Black/Thrash/Speed Metal em alta dosagem. E se você percorreu o pântano citado acima de cavalo, tenha certeza de ele vai te descer a mamona no mosh! Guitarras cortantes e baixo preciso sob o comando de Segnor Root mantém o ímpeto da cavalaria ligado para que prossiga com o massacre sonoro. Na virada da página apresenta-se “Holodomor (La Muerte Roja)”, que é uma canção referente a um dos temas que muitos esquecem ou simplesmente não estão nem aí, que é o genocídio ucraniano provocado através da fome extrema graças às decisões tomadas por nada mais nada menos que o maldito Stalin e sua trupe de insetos rastejantes. E se o lance é destacar os extremos da coisa, os cidadãos de Bogotá (quem nasce em Bogotá é botafoguense diria um amigo meu) aplicam isso com maestria e perspicácia lá no topo. Mais uma extremidade excepcional para encabeçar qualquer lista de Spotify por aí.

   

“Holomodor (La Muerte Roja)” lyric video

“Tapias De Pilatos” mostra um lado mais Death Metal e pouco explorado no disco. Apesar de pequenas passagens que mal pude registrar em gravura, aqui sim a coisa está mais escancarada e feita com a mesma qualidade das canções anteriores. Se já tínhamos a deusa Inanna para celebrar este novo ritual de 2020, agora temos o apoio de Pôncio Pilatos que, segundo a tradição, também foi um Stalin do seu tempo, sendo governador da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36 d.C. As paredes de Pilatos começaram a rachar quando “Tapias De Pilatos” adentrou pelas frestas até chegar aos seus ouvidos e o enlouquecer de verdade, mostrando-o como o mesmo possui ouvidos sensíveis a tal sonoridade como muitos que vejo por aí. Na sequência, é a vez da penúltima mensagem infernal direto das entranhas antimundanas, através de “Uranium-235 (Trinity)”. O urânio 235 é um isótopo de urânio que é responsável por cerca de 0,72% do urânio natural, e que foi muito utilizado em armas e componentes nucleares. Formam a trindade o urânio 238 e o plutônio 239. Ambos com a mesma finalidade de destruição em massa, e consequentemente, construção de maquinaria e remédios que utilizamos todos os dias. Guitarra, baixo e bateria ditam um ritmo capaz de te colocar dentro de um reator nuclear e se você não for tão instável quanto o urânio puro, pode se sair muito bem desse desafio.

Terminando o bombardeio, e contabilizando as baixas, os guerreiros terminam sua jornada sob a visão das casas queimadas e ruas devastadas por toda a desgraça causada pelos insetos insolentes dos quais muitos insistem em bater palma e ajoelhar para os mesmos. “Whisky Bitch” é aquela canção festiva em que o próprio nome já diz tudo! Em certa parte da história, encontramos algo como teclado que soma ao som uma característica de bar de beira de estrada. Quem sabe o bar do Constantine! Uma combinação perfeita para fechar um álbum que pode sim ser considerado um dos melhores do ano, não só do estilo como entre todas as vertentes do Metal. E após terminar esse grande e rico percurso posso dizer com clareza que o Guerra Total honrou a camisa que veste e manteve o trio de aço ainda mais firme do que outrora. Não sei se é pedir muito, mas adoraria conferir de perto Witchtrap, Revenge, e Guerra Total “in action” aqui na nossa querida São Paulo, capital (após tudo retomar o seu rumo, claramente falando). Sim, eu amo uma guerra também… Uma guerra sonora!

“War Is The Pursuit Of Death…”

Nota: 9,1

Integrantes:

  • Gerson Fabian “Segnor Root” Toro (baixo, vocal)
  •    
  • Gustavo “Deathfiend” Tobón (guitarra)
  • Jorge “Jordicaz” Díaz Castillo (vocal)
  • Juan Camilo “Naberius” Porras Parra (bateria)

Faixas:

  1. Ancient Hymns To The Goddess Of War (Inanna)
  2.    
  3. Battle Of Ypres (Song For My Funeral)
  4. Black Horror Kommando II (Sinfonía Del Odio)
  5. Ethnocide (World Cenotaph)
  6. Himnos Rituales De Guerra Y Total Devastación
  7. Holodomor (La Muerte Roja)
  8.    
  9. Tapias De Pilatos
  10. Uranium-235 (Trinity)
  11. Whisky Bitch

Redigido por: Stephan Giuliano

   
   

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