Ah, o espaço sideral… Nele habita um infinito de corpos celestes e diversos eventos, contando tanto os que foram descobertos por nós quanto o vasto desconhecido a ser explorado. Estrelas milhares de vezes maiores que o nosso Sol, planetas dos mais variados tipos, pulsares, supernovas, ultranovas, magnetares, buracos negros… Milhares de galáxias que surgem e perecem ao piscar de olhos… O tempo lá fora é diferente daqui. Somos partículas de poeira espacial…
…E dentro do nosso mundo temos os suecos do Armory, que gostam de caminhar por este horizonte de eventos.
O universo sci-fi é bastante explorado por muitas bandas de Metal, pois sempre se encaixou como um tema importante, não apenas para o enredo como também para a própria sonoridade. A inspiração acaba tornando o som próximo do que se imagina ao viajar pelo vasto espaço. Obviamente que nem mesmo a luz é capaz de se manter em todos os lugares e muito menos o som. Mas, a imaginação sempre estará presente para nos contemplar e nos inspirar a imaginar grandes trilhas sonoras espaciais. Agora, os motores já foram ligados e os propulsores estão de prontidão para levar a nossa nave musical para além da nossa imaginação.
Preparar para a contagem:
Dez… Nove… Oito… Sete… Seis… Cinco… Quatro… Três… Dois… Um… Hora do show!
No primeiro capítulo dessa jornada intergaláctica, é entregue uma “Message From The Stars”. A explosão do combustível necessária para a decolagem é iniciada através da intro completamente entregue aos anos 80. Elementos de Speed, Heavy e Thrash Metal se unem em prol da boa música e de uma grande viagem pelo espaço. Está liberado correr contra o tempo até ultrapassar as rajadas ascendentes de luz contínua. Apoiado por backing vocals potentes, os vocais rasgados e agudos perfuram a galáxia, alcançando o outro lado de sua ampla extremidade. Guitarras afiadas, baixo pulsante e bateria entregue aos pulsares de pedais duplos, são a alma desse primeiro passeio. “Escaneando cada quadrante / Esperando por um sinal / Direcionando nossos telescópios / Até a noite” – Por eras temos nos perguntado ao olharmos para as estrelas e ouvindo o silêncio do anoitecer dos céus. Perguntamos através das lentes dos telescópios sobre haver vida “lá fora”.
“Uma mensagem das estrelas
Uma voz de outro mundo”
O objetivo principal é para seguir em uma “Journey Into Infinity”. A contagem regressiva inicial indica ao ouvinte para não retirar seu capacete, pois não existe oxigênio no além da estratosfera. Riffs cavalgados e com quebras, mostram o lado Heavy da receita para um voo seguro. Os andamentos esticados impõem uma conduta mais incisiva e que abrem espaço para solos harmônicos e melodiosos com toda a magia da nova geração de bandas surgidas nos últimos tempos. A ala percussiva processa dados importantes para uma breve cadência do ônibus espacial, ideia muito bem inserida e que depois retoma a velocidade costumeira e vibrante para terminar o capítulo de forma brilhante. “Bem equipado para voos interestelares / Armas pesadas para mostrar nosso poder / Ela nos levará ao desconhecido / E o nome dela é Mercurion” – aqui é revelado o nome a qual foi batizada a nave utilizada nessa jornada e que ilustra/nomeia a capa do disco. Com seu armory ela dá a opção de sobrevivência maior no espaço e nós seguiremos lado a lado com os suecos de Gotemburgo. Netuno possui diversas curiosidades e um voo até lá sempre será interessante. É aí que entra em ação a “Transneptunic Flight”, com sua viagem demarcada para além do astro citado. O baixo funciona com um câmbio que alterna as marchas para impor mais velocidade e consistência à condução do veículo. Guitarras disparam raios de energia e oferecem ao baixo minutos de destaque, além da própria bateria que mantém tudo no nível certo para essa passagem instrumental.
*O nome vem dos objetos menores do sistema solar que orbitam a nossa estrela a uma distância média que ultrapassa a do oitavo planeta.
Os caçadores de recompensas estão por toda parte, representada por “The Hunters From Beyond”. Dedilhados incandescentes abrem caminho para um Speed/Thrash nervoso e impiedoso, capaz de dilacerar uma estrela inteira, pulverizar cometas e obter toda a recompensa após o choque com os astros. Os solos provocam o alvoroço das outras espécies, que se espantam e se felicitam ao verem uma distribuição de notas agudas. O refrão com certeza já foi cantarolado por ti durante o percurso. Pode confessar que o dono do nanquim virtual deixa (risos). O medo ancestral desperta ao sentir a presença de outros seres nos confins do vasto universo. O prenúncio de uma guerra interestelar alarma os espíritos congelados por seus pesadelos, mantidos em seus genes: “Nos confins do espaço exterior / Detecção de assinaturas tecnológicas / A sombra da escuridão mais profunda varre o passado / Uma presença de crueldade infinita”. Qual é o limite do espaço? O encontro nas profundezas do espaço é um sonho bem distante se compararmos nosso alcance atual de acordo com o que temos reunido em estudo e equipamentos. Querem mais engajamento e velocidade nessa viagem? Pode encontrar tranquilamente em “Deep Space Encounter”, faixa que reúne o bom do Rock Veloz da saudosa década com elementos que simulam a tecnologia de uma nave e todo o clima cósmico necessário para a trama. As partes menos intensas funcionam para destacar mais os alicerces sonoros e o trabalho dos vocais frente a algo mais tangível a quem não é tão habituado a caminhos mais velozes que o convencional. O retorno à agressividade normal é obtida com sucesso. “Encontrando uma frota de espaçonaves alienígenas / Melhor atirar primeiro, um artilheiro decide / Mísseis saem de Mercurion / Alienígenas são pegos de surpresa” – Tudo o que é preciso para iniciar um incêndio é um único fósforo e o inferno no espaço está ao nosso redor, enquanto sua frota ataca sem piedade. É lutar ou perecer nessa incansável jornada exploratória.
Enfrentar a vastidão em que até mesmo a luz custa a chegar, é como enfrentar uma “Void Prison”. Imagine-se jogando algum game de investigação e exploração extraterrestre. A breve intro te coloca no clima certo até que… O batalhão belga apresenta seu arsenal de guerra e vai passando por cima de todo e qualquer obstáculo que aparecer adiante. As variações tanto voltadas para o som quanto para as vozes tornam esta tão grandiosa quanto suas compatriotas anteriores, incluindo os magistrais solos de guitarra, abrilhantando ainda mais o que já seria ótimo. “Matéria escura, atingindo a parede / Escuridão eterna, para a noite nós caímos / Sonhos mais selvagens ficando ainda mais estranhos / O horizonte de eventos está nos mantendo” – a prisão vazia prende a tripulação próxima a grandiosas super e ultranovas, pois as regiões das quais habitam os temidos buracos negros, possuem vários desses elementos “mágicos” em suas proximidades – em escala espacial – diante da região do horizonte de eventos, que vem a ser uma das etapas dessa reluzente caminhada. Durante a viagem ao centro da galáxia você enfrenta o desafio do buraco de minhoca. A escapatória é inserida através da faixa “Wormhole Escape”. Seu princípio é constituído por uma base introspectiva e carregada de mistérios a serem revelados. A climatização te coloca dentro de um túnel e sua aceleração aumenta conforme se ouve uma maior trepidação da estrutura sonora em favor do Metal. Sua amplitude é demonstrada junto ao massacre cortante sonoro, unindo todos os instrumentos e voz em busca da saída deste buraco de minhoca. Em termos de ambientação e sonoridade de acordo com o tema, esta pode ser chamada de faixa predileta. “Vagando pelo tempo e espaço, perdido no submundo / Um portal da dobra / O último aperto da realidade, desaparece lentamente / Tem um fim?” – a fantasia é explicada de forma que o grupo foi engolido pelo vórtice e é aonde o terror abissal começa. Tudo para por conta do buraco de minhoca. O tempo está parado, entretanto algo se apega ao casco da Mercurion. Uma criatura viva ainda sem mente e cheia de pecado. Sabe-se lá como, conseguiram escapar com vida após a dissipação da névoa de plasma antes da fome e do ódio dominarem por completo suas mentes.
*Um buraco de minhoca possui ao menos duas “bocas” conectadas a uma única “garganta” ou “tubo”. Se o buraco de minhoca é transponível, a matéria pode “viajar” de uma boca para outra passando através da garganta.
O nome da oitava canção do disco lembra duas coisas de imediato: “Music For The Masses”, clássico álbum do Depeche Mode, lançado em 1987, além da própria e exímia faixa-título; incluindo o excelente álbum do Pestilence, chamado “Spheres” (1993). “Music From The Spheres” corresponde à altura com um solo inicial vibrante, que abre caminho para um visceral e sem medo de explorar cada esfera vista pelos céus. As melodias, aliadas às fortes bases, soam de maneira coesa e mantém o alto nível da jornada. Na parte seguinte, os motores principais são desligados e os ares de power ballad são ligados brevemente para que a surpresa seja direta e envolvente. E é isso o que acontece com o retorno do pulsar da maquinaria futurista. Os refrãos aumentam o brilho da equipe de astronautas (músicos) e o desfecho é o encontro de mais um solo cativante, regado a dedilhados mais calmos e distorcidos, de acordo com o tema espacial. A jornada, além de rica em conhecimento e risco de vida a todo instante, traz ricas lições sobre como a humanidade em geral trata tudo isso:
“Tudo começou pela domesticação do fogo
Surgindo com ferramentas do comércio
A humanidade buscou o domínio de todos os seres vivos
Como colhemos todos os recursos
E queimando as florestas também
Pela ganância nós selamos nosso próprio destino”
Obviamente que ao pegar o trecho de uma letra, tira de contexto todo o episódio, assim como os ortodoxos fazem com os versículos de certo livro sagrado. Porém, aqui é um comparativo diante da exploração “longe de casa” (não confunda com o filme do Homem-Aranha) que ainda ponderamos por que outras entidades galácticas veriam apenas hostilidade, uma força destrutiva que colhe mais do que plantamos. O resultado é o amargo legado da nossa existência. Escute a “múzga” das esferas e sentirá no âmago o fim de tudo todos os dias. Buscando a verdade e compreensão nossa sede de conquista nunca acabará.
A viagem termina após o encontro com grandes pulsares, exoplanetas e grandiosas constelações com o grande “Event Horizon”. Realmente, a banda acerta em cheio ao colocar está como última do tracklist. Bases que simulam o caminhar das tropas, anunciam o jogo repleto de riffs e tônicas fortes de baixo, que por sua vez, pisam no acelerador para simular a fronteira de um buraco negro. A canção é contornada pelo horizonte de eventos, sofrendo drásticas e fantásticas mudanças constantes e breves de momento por conta do contato com tal região. A luz não consegue escapar, mas o Armory desafia a si mesmo para essa grande aventura final. Pode chamar de segunda favorita? Ser der tempo de escapar dessa região misteriosa, sim! Partes faladas nos moldes de ódio e desespero, enquanto seus compatriotas guiam Mercurion para fora do horizonte… Ou seria para dentro do buraco negro?… Só sabemos que mais algumas notas de baixo, melodias de guitarra, e viradas de bateria foram expressadas antes do término desse grandioso disco. “Eles são os filhos do nosso futuro / Nós somos os ecos de seu passado / Tecno-criaturas futuristas / Homo sapiens finalmente destronado” – O refrão já diz tudo e não precisa de nenhuma explicação, mas existe um trecho que pode enaltecer ainda mais essa conjuração sonora. O horizonte de eventos é tratado como uma metáfora, relacionada ao fim da espécie humana após o domínio das máquinas. Puro e legítimo sci-fi! Dificilmente alguém odiar esse tipo de tema viajante, mirabolante, surreal, instigante, abstrato e alarmante. É citada na letra que, aterrissando com um guincho de metal, Mercurion não voará mais. Não há mais tripulação para a conduzir. As leis e a ordem são controladas por drones, pessoas fundidas às máquinas, tornando-se ciborgues, e entregando todo o domínio para os seres mais evoluídos. A carne passa a ser somente um esboço de uma era perdida. Já fora da Terra, nós humanos somos os alienígenas desta época, milênios à frente. Cortesia dos efeitos da relatividade.
*Associando de forma contida, o horizonte de eventos, também conhecido como ponto de não-retorno, é a fronteira teórica ao redor de um buraco negro a partir da qual a força da gravidade é tão forte que, nada, nem mesmo a luz pode escapar, pois a sua velocidade é inferior à velocidade de escape do buraco negro.
Especificações e informações interestelares adicionais:
Se foi falado sobre o horizonte de eventos, mesmo sendo mais em formato de metáfora, é bom citar sobre a sequência desta suposta engenharia espacial. O buraco negro é uma região do espaço-tempo em que o campo gravitacional é tão intenso que nada (nenhuma partícula ou radiação eletromagnética como a luz) pode escapar.
Se há o buraco negro e seu horizonte de eventos, também existe a teoria sobre o chamado “buraco branco”. Um buraco branco é uma reversão no tempo de um buraco negro, outra singularidade no tempo espacial. A matéria surge imprevisivelmente de um buraco branco. Um exemplo de um buraco branco é a singularidade original do Big Bang. É como uma espécie de túnel que conecta dois lados opostos do espaço sideral, como se fosse um canal entre as duas extremidades.
Finalizando o histórico, “Mercurion” foi lançado via Dying Victims Productions no dia 22 de abril de 2022. Gravado no Black Path Studios & Bombastik Drum Recordings em Gotemburgo, Suécia. A mixagem do álbum e as passagens de órgão foram feitas por Nicklas Malmqvist, enquanto os vocais adicionais ficaram por conta de Tommy Alexandersson. A masterização ficou a cargo de Magnus Lindberg e a arte da capa é assinada por Anders Muammar. A gravação do álbum possui a autoria de Oscar Carlquist e a gravação da bateria foi realizada por Johan Reivén, além das fotografias que tiveram os cliques de Jim Nedergård. Equipe de produção apresentada e está na hora de pousar a Mercurion.
“Viagem concluída. Aterrissagem perfeita. Onde estamos? Cadê todo mundo?! O que diabos esses computadores gigantes estão fazendo?! E essa tropa de robôs com partes naturais?! Para qual lugar estão nos levando?! Não temos comida nem água… E ao que parece, nem respeito dos soldados dessa área que fora considerada remota por eras… Que correntes são essas? Devolvam a Mercurion agora mesmo!”
“Radios fill with alien laughter
They are the godz of death and disaster
Orders come from their master:
‘Into battle! Faster, faster!'”
Nota: 9,1
Integrantes:
- Petrus “Konstapel P” Andersson (vocal)
- Niclas Mendahl Ingelman (guitarra)
- Gustav “G.G.” Sundin (guitarra)
- Jesper “Anglegrinder” Lundin (baixo)
- August “Space Ace” Holmström (bateria)
Faixas:
1. Message From The Stars
2. Journey Into Infinity
3. Transneptunic Flight
4. The Hunters From Beyond
5. Deep Space Encounter
6. Void Prison
7. Wormhole Escape
8. Music From The Spheres
9. Event Horizon
Redigido por Stephan Giuliano