Começo este texto com a seguinte pergunta: Quantas vezes você escutou uma música e “cinco segundos” após entrar os vocais, conseguiu identificar e rapidamente exclamou: Opa perai, conheço essa voz!
Numa extensa lista de nomes que se tornaram célebres, podemos citar algumas dessas vozes que se tornaram peculiares e familiares aos nossos ouvidos: Klaus Meine (Scorpions), Steven Tyler (Aerosmith), Michael Kiske (ex, Helloween), Geof Tate (Queensryche), Brian Johnson (AC/DC), Udo Dirkschneider (ex, Accept), Sammy Hagar (ex, Van Halen), Axl Rose (Guns ‘N Roses), James Hetfield (Metallica), Bruce Dickinson (Iron Maiden), Hansi Kursch (Blind Guardian), Roy Khan (ex, Kamelot), Biff Byford (Saxon), Rob Halford (Judas Priest), Ronnie James Dio (Dio), Geddy Lee (Rush), Ann Wilson (Heart), Doro Pesch (ex, Warlock), David Coverdale (Whitesnake), Joey Tempest (Europe), Joe Elliot (Def Leppard), Ronnie Atkins (Pretty Maids), André Matos (Shaman), entre outros. Esses artistas conseguiram criar através de suas vozes uma especié de identidade, facilitando ao ouvinte o reconhecimento das mesmas ao ponto de não ser necessário assistir um clipe do Guns ‘N Rose, Scorpions ou Aerosmith, por exemplo, para saber de imediato trata-se de Axl Rose, Klaus Meine e Steven Tyler. Alguns vocalistas tornaram-se tão importantes à frente de suas respectivas bandas, que não imaginamos estes largando seus postos e integrando outros grupos. Ou seja, tornaram-se uma espécie de personificação. É fato que quando há uma ruptura e esta acontece envolvendo especialmente a “voz”, a banda passa por uma situação complicada onde a estrutura musical e emocional são dois grandes pontos atingidos. Em determinados casos, o encerramento das atividades surge como a única saída.
No entanto, há casos onde um determinado vocalista pode integrar vários grupos, de vários estilos e ainda assim sua voz fazer uma perfeita combinação daquelas onde costumamos dizer: “Caiu feito luva”. E se estamos falando de um vocalista onde sua voz pode fazer toda a diferença, podemos dizer que o americano Jeff Scott Soto, se encaixa perfeitamente no exemplo acima. Afinal de contas, estamos falando de uma das vozes mais belas e mais conhecidas do Hard/Rock/Metal.
Sua história começa no início dos anos 80 quando o mundo conheceu sua voz e seus préstimos em prol da música, através do guitarrista sueco Yngwie J. Malmsteen e seu Rising Force.Rebuscando sua história e seu envolvimento com a música, cheguei a seguinte conclusão: Temos aqui um raro caso de alguém que cantava enquanto esteve por nove meses no ventre de sua mãe. Posso apostar também que o som de seu choro, era na verdade “refrãos” das músicas que cantaria anos mais tarde nos grupos em que estaria à frente.
Os primeiros passos aconteceram no longíquo ano de 1984 quando integrou a banda Rising Force, capitaneada pelo guitarrista sueco Yngwie J. Malmsteen, com quem gravou os discos Rising Force (1984), Marching Out. (1985) e Inspiration (1996), considerados por muitos como os melhores trabalhos do guitarrista e Jeff Scott Soto, considerado o melhor vocalista que já passou pela banda.
Rising Force (o disco), figurou na 60.ª posição da Billboard, ganhou uma indicação ao Grammy daquele ano, além de várias votações em algumas revistas especializadas. Após sua breve estadia no Rising Force, o vocalista daria o pontapé inicial em sua longa carreira onde participaria de inúmeras bandas, gravaria inúmeros álbuns e em todos eles, conseguiria deixar sua marca registrada através de sua voz poderosa. Por onde passou e nos discos que gravou, Soto conseguiu fazer com que os fãs ignorassem os estilos e considerassem apenas o seguinte: Tem Jeff Scott Soto nos vocais? Então, vou ouvir. Ou seja; o músico conseguiu fazer com o ouvinte percebesse seu nome no line up de um grupo qualquer e pensasse apenas que alí estava um trabalho (provavelmente) excepcional, trazendo um vocalista genial e isso já era o suficiente para adquirir tal disco.
Versátil e talvez o cara mais “gente fina” da música, Soto deve ser aquele o qual você convida para assistir um espetáculo de ópera e ao chegar no local descobre que a vocalista principal (geralmente aquelas que cantam horrores) não se sentiu bem minutos antes do espetáculo e o mesmo poderá ser cancelado. Mas peraí, estamos falando de Jeff Scott Soto e sabendo de tal fato, certamente ele irá subir ao palco, conduzir o espetáculo e ao final arrancar todos os aplausos possíveis de uma platéia extasiada e também da vocalista principal, que boquiaberta assistiu à apresentação e ainda não consegue acreditar no que viu e ouviu.
Sobre as bandas em que esteve presente? Bem, a lista é enorme e provavelmente é muito mais fácil montar uma lista dos grupos onde ele NÃO participou. É preciso citar alguns nomes e perceber que de fato a palavra “versatilidade” ganha muito mais sentido quando estamos falando do talento desse cara.
Impossível não pensar rapidamente em Talisman e W.E.T., dois supergrupos que o representam muito bem e fazem um contratempo entre o passado e presente. De nomes consagrados passando por outros de menor relevância ou que simplesmente não obtiveram o devido reconhecimento, a verdade é que o vocalista fez bonito em cada um desses grupos. A extensa lista inclui nomes como: Axel Rudi Pell, Takara, Humanimal, Soul Sirkus, Human Clay, Eyes, JSS, S.O.T.O, Boogie Knights (projeto voltado a disco music dos anos 70), Queen Extravaganza, Redlist, Bakteria (banda de Thrash Metal), Sons Of Apollo, Skrapp Mettle, Kryst The Conqueror, Steel Dragon, Journey, Trans-Siberian Orchestra, etc.
Para um bom vocalista, tal lista já seria mais que necessária e o mesmo já estaria mais que satisfeito. Isso certamente não se aplica ao artista em questão e sua fome por música ainda o faria participar de alguns discos de amigos.
Algumas dessas participações: Threshold, Lita Ford, Mitch Malloy, Gus G, Joel Hoekstra, Tempestt, Danger Angel, Last Autumn’s Dream, Schubert In Rock, Kuni, Koritni, AOR, Wolfpakk, Talon, Michael Schenker, Ken Tamplin, Edge Of Forever, Alex Masi, Band Of Brothers, etc.Ok, isso é tudo? Não! A lista é realmente extensa e o incansável vocalista ainda participaria de alguns tributos, dando aquela força e fazendo bonito nas faixas em que cantou.
Alguns desses tributos: Deep Purple, Van Halen, Iron Maiden, Aerosmith, Pink Floyd, AC/DC, Sweet, Led Zeppelin, Ozzy Osbourne, The Beatles, Queen, e outros.
Pronto, temos aqui uma lista invejável daquelas onde nenhum ser humano conseguiria tal feito e isso é só. Certo? Errado! Não bastasse sua participação em vários tributos, Soto esteve presente em algumas bandas que buscaram boas vozes para dar um “Up” na parte de backing vocals. Vamos para mais uma lista, começando com Stryper, House Of Lords, Babylon A.D., Rated X, Glass Tiger, Saigon Kick, Slaughter, Steelheart, Dokken, Mad Max, Freddie Frederiksen, Paul Gilbert, Ronnie Montrose, Harem Scarem, etc.
Um fato curioso que chama a atenção: Apesar de sua história musical, seu incontestável talento e de suas inquestionáveis qualidades musicais, não vemos seu nome estampado nas famigeradas listas de Melhores Vocalistas. Porém, vem à mente a seguinte pergunta: Isso de fato seria algo importante ou relevante? Nem um pouco! A verdade é que Soto, tornou-se um músico excepcional, daqueles que não precisa provar absolutamente nada para ninguém, também não precisa ter seu nome em listas totalmente desconexas e/ou apadrinhadas, visto que as mesmas consistem em mais do mesmo e na grande maioria apresentam bandas e músicos que em alguns casos nem deveriam ser levados a sério.
Olhando para o momento atual, conhecendo sua trajetória e fazendo um retrospecto dos longos anos de carreira, podemos avaliar que a banda de maior sucesso comercial seja o projeto W.E.T., capitaneado por Erik Martensson da banda sueca Eclipse. Claro que são apenas suposições de um fã ardoroso, porém é inegável que ao lado de Martensson, Soto “explodiu” de fato e talvez tenha provado que sua garra, sua persistência e seu talento monstruoso sempre estiveram ali, bastava apenas que alguém percebesse.
Enquanto esteve à frente do Axel Rudi Pell, com quem gravou os discos Eternal Prisoner (1992), Between The Walls (1994), Black Moon Pyramid (1996) e Magic (1997), Soto firmou-se como um vocalista de qualidade inquestionável, visto que a sonoridade do Axel Rudi Pell e suas composiçõs sempre pediram uma voz poderosa e lá estava ele.
Por falar em voz poderosa, lembremos que aos 55 anos e um currículo extenso em sua trajetória, Jeff Scott Soto ainda é dono de uma potente, afinadíssima, capaz de atingir tons altos sem judiar de nossos tímpanos. Ouvindo seus atuais projetos e bandas nas quais participa, notamos que o mesmo ainda tem muita lenha para queimar. Diferente de muitos vocalistas que gravam três ou quatro discos e logo pedem arrego.
Enquanto o W.E.T, prepara o lançamento de seu novo álbum de inéditas previsto para janeiro de 2021, os fãs podem mergulhar de cabeça nos novos singles (excelentes. diga-se de passagem) “Big Boys Don’t Cry” e “Got To Be About Love”, lançados recentemente, apresentando dois talentos absurdos, donos de vozes ímpares e especiais, Erik Martensson e o gigante incansável Jeff Scott Soto. Não está convencido, então ouça uma pequena playlist contendo momentos marcantes de toda a carreira desta grande voz do Rock e renda-se de uma vez por todas:
Redigido por Geovani Vieira