O ano era 1991. Um ano antes, bandas seminais para a música pesada mundial, como Kreator, Testament, Sodom, Slayer, Megadeth e outros, lançaram grandes e históricos trabalhos. Eis que este ano passou e foi o momento dos mineiros do Sepultura lançarem mais uma esmeralda do caos que perduraria até os dias de hoje. Após o sucesso estrondoso obtido com o ótimo “Schizophrenia” (1987), se estendendo até os quatro cantos do planisfério com o super clássico “Beneath The Remains” (1989), aproveitando os intervalos de dois anos por disco produzido, conseguiram ampliar esse leque de extrema importância para o Metal ao redor do mundo. É inegável pensar que “Arise” não tenha influenciado ninguém e, claro que, obviamente, fora influenciado por outros gigantes que adoramos. Max, Andreas, Paulo e Igor (que ainda assinava com um “G” só) tinham as cartas e a equipe de produção certa para mais um almanaque de bastante sucesso e relevância. Por outro lado, os fãs passaram a se dividir em pequenos grupos dos quais cada um apreciava até determinado disco, o que ficaria mais evidente tempos depois. Com o lançamento recente de “Quadra”, isso voltou à tona, rapidamente. Mas, como quem é o dono do teclado nesse momento é quem vos digita, me aprofundarei apenas no que penso sobre o que está sendo escrito.
A meu ver, o álbum “Arise” rivaliza de forma positiva com “Beneath The Remains”, os quais eu considero o ápice da banda e reconheço que em discos recentes, o Sepultura, renovado e revigorado, esteja novamente no mapa das principais bandas desse planeta que é redondo, por sinal. O disco chegou às lojas no dia 25 de março e imagino o impacto que causou, apesar de que, foi um lançamento às pressas, no qual a faixa “Orgasmatron”, cover incrível do eterno Motörhead, acabou ficando de fora e lançada juntamente ao álbum em edições posteriores. Mesmo sem esta faixa, o álbum conseguia caminhar por si só, fazendo isso até os dias atuais. Já conheci pessoas que não gostam do Arise, e que são exemplos claros dos grupos que citei acima. Agora falemos um pouco deste que é considerado um marco para o Thrash Metal em todo o globo terrestre.
Um álbum que se garante já começa logo de cara com a faixa-título e após a breve intro, “Arise” inicia a pancadaria sem pensar muito, descendo a mamona na criança chorona. Logo de cara, antes do Max iniciar suas estrofes, certamente, você começa a cantarolar, querendo destruir a rua inteira na porrada: “Obscurecido pelo sol / Choque apocalíptico / Cidades caem em ruínas / Por que devemos morrer?” – simplesmente um massacre sonoro que te faz cantar e “bangear” só de lembrar dos primeiros riffs. “Dead Embryonic Cells”, que é outra pedrada e também possui uma pequena intro, mantém o nível lá na ionosfera. “Guerra das raças / Mundo sem inteligência / Um lugar consumido pelo tempo / Fim de tudo” – trecho que antecede o refrão fenomenal da canção que inicia de forma mais calma e logo retoma a dianteira, rasgando os alto falantes sem dó e muita crueldade sonora. Destaque para os solos de Andreas e o alicerce controlado pelo baixo nervoso de Paulo Jr. Fechando a trinca perfeita, temos simplesmente “Desperate Cry”, que pra vossa persona é a melhor faixa do álbum. Aquele dedilhado inicial famoso já entrega de antemão o que está por vir e para quem não está acostumado a linhas com peso de chumbo, nem deveriam se arriscar a ouvir. Principalmente quem é adepto destes Metalcores da vida. Após mais um solo excepcional, os dedilhados lá do início retornam por poucos segundos e a matança rítmica dá seguimento. “Labirinto vazio sem fim / Desespero, angústia e silêncio / Um vácuo de veneno, infinito / Vida, mentiras, engano.” Essas três faixas iniciais formam uma trinca que toda banda que se preze desejaria obter e não é à toa que elas são tocadas tanto nos shows do próprio Sepultura, quanto nos shows do Soulfly e Cavalera Conspiracy. Muitos até reclamam por sempre tocarem, mas, experimenta pensar que a partir de hoje tirariam elas de seus sets. Pensou? Achou esquisito? Pois é, eu também acho quando imagino isso, mas não sou de ficar dando pitaco em set list de banda.
Agora estamos diante de “Murder”, que é outra faixa excelente e segue com o padrão do disco lá no topo. As sequências de riffs e vocais destrutivos continuam a todo vapor, somados ao espancamento de bateria causado por Igor. “No rádio, outro homicídio / Presos sufocam na prisão / Cabeças de revolta cortadas / Eu gostaria de nunca ter nascido”. Em seguida temos outro paralelepípedo chamado “Subtraction”, que percorre a estrada no mesmo embalo, sem se perder de vista. As mudanças bruscas de linhas de guitarra e bateria transformam esta faixa numa explosão sonora, fazendo a residência do seu vizinho entrar em chamas sem riscar um fósforo sequer. “Nasce a primeira geração, uma praga foi criada / A cura está em minha mente, a solidão é tudo que vejo / Nações poderosas reprimem sentimentos, enterrados sob o medo / Fazendo de você um covarde, comprando sua segurança”.
“Altered State” entra em cena sob uma abertura cinematográfica, ligando aos povos antigos de forma curta como de praxe por aqui. Logo a banda retoma a sonzeira, porém, com sequências mais cadenciadas até que os pedais duplos do kit de Igor intensificam a coisa toda, trazendo mais variações à canção. “Repressão interminável por maioria / Um mestre sem comando / Nova dimensão estranha perturbando meu cérebro / Idéias censuradas, respostas falsificadas.” A sétima dentre a ordem atende por “Under Siege (Regnum Irae)”, e cada uma destas faixas parecem ficar na mente, sendo fáceis de serem lembradas por seus respectivos nomes. Tenho plena certeza de que muitos dos que estão lendo neste momento saberiam me dizer de cor e salteado cada faixa e por ordem original do set do disco. Eu confesso que poderia errar, já que sempre que preciso lembrar o nome de algo, esqueço e acabo lembrando quando não preciso.Isso acontece, fazer o quê?… Nesta faixa outro dedilhado é começado sob o apoio da bateria, o qual traz consigo na sequência mais riffs com um ar de mistério e vozes imitando espíritos antigos. A introdução prossegue, até que Max,que na época ainda tinha cabelo, professa versos como estes: A dupla substância de Cristo / O desejo tão humano do homem de alcançar Deus / Sempre foi um mistério profundo e inescrutável para mim / Minha principal angústia e fonte de todas as minhas alegrias e tristezas” – será que aquele pessoal que gosta de rotular banda, faria isso agora aqui também?
“Meaningless Movements” possui seus primeiros segundos mais calcados no Death Metal e que depois retorna ao Thrash agressivo habitual. “Palavras que eu não consigo entender / Gritos no meu momento de dor” – seus andamentos levam até muitas bandas do estilo que também fizeram história e marcaram época. “O impostor se esconde atrás de uma máscara / Minhas palavras contra suas mentiras” – à medida que a “múzga” toma mais corpo, aumenta a vontade de deixar no modo repeat,ao mesmo tempo em que aumenta a vontade de ouvir a próxima. Tudo é tão encaixado de forma intrínseca e perspicaz, que podemos ouvir o álbum em qualquer ordem que não perderá qualidade, sendo capaz de ganhar mais força até. E para fechar essa obra de arte infalível temos “Infected Voice”. Direta e reta, sem freio, espancadora de frescurentos imbecis de plantão que reclamam de tudo, mas que não aguentam um tapa. A voz desse tipo de ser não vivo é completamente infectada pela frescura e embalo de som dos quais devemos eliminar de nossas vidas. Solos viscerais enfeitam a cobertura do bolo, servindo para mandar esse povo para outra linha temporal que não seja a nossa. “O medo amarra você e você não cresce / Estando errado e perdido, ninguém admite a derrota / Consciência é justa, palavras infiéis / Traição e ganância, pensamentos passados para vencer sozinho.”
Em 1991 este era o Sepultura, embora eu tenha conhecido a banda através do álbum antecessor e somente em meados de 1996. Hoje temos outro Sepultura, apesar de existir parte desse passado presente na formação atual e também em seu som. O contexto geral pode ter mudado até por hoje ser mais complexo do que outrora, mas a essência não. Não estou nem aí pra quem diz que curte todos os discos e nem pra quem curte até tal álbum, e menos ainda pra quem não gosta. Cada um na sua e que ouça o que lhe cai bem. Agora quanto ao “Arise”, cai bem a qualquer hora e em qualquer lugar. Até mesmo dentro da igreja, deixando os fiéis confusos e horrorizados com tamanha sonoridade, e como estamos tratando de um dos full-lengths clássicos do Metal, finalizo essa singela análise, destacando os principais componentes que contribuíram e muito para que esta obra carimbasse sua assinatura com louvor e perdurasse até o presente momento, e consequentemente adiante. “Arise” foi produzido pelo altamente reconhecido e bastante requisitado Scott Burns, mixado pela outra lenda Andy Wallace, e gravado no Morrisound Recording em Tampa, Flórida. Foi mixado no Quantum Sound Studios em Jersey City, New Jersey. Masterizado por Howie Weinberg no Masterdisk em New York City, New York. A Ilustração ficou a cargo de Michael Whelan, fotos por Tim Hubbard, e direção de arte por Patrícia Mooney.
Nota: 9,5
Integrantes:
- Max Cavalera (guitarra e vocal)
- Andreas Kisser (guitarra)
- Paulo Jr. (baixo)
- Igor Cavalera (bateria)
Faixas:
- Arise
- Dead Embryonic Cells
- Desperate Cry
- Murder
- Subtraction
- Altered State
- Under Siege (Regnum Irae)
- Meaningless Movements
- Infected Voice
Gosto muito desse disco, um dos melhores da banda…valeu!!!!