“British Stell” é o sexto full lenght da discografia da banda britânica de Heavy Metal, Judas Priest.
Inegavelmente, 1980 foi o ano mais significativo e importante para o desenvolvimento do Heavy Metal em escala mundial. A NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal) ainda dava seus primeiros passos com o surgimento da nova safra de bandas britânicas, ao passo que as veteranas se utilizavam deste movimento para surfar junto com a nova geração.
Surfando na onda da NWOBHM
Ironicamente, ao mesmo tempo que a nova geração de medalhões surgia, os veteranos lançavam seus registros definitivos e alguns de seus maiores êxitos comerciais.
De um lado, temos o Saxon com seu icônico “Wheels of Steel”, e do outro temos o Motörhead com “Ace of Spades”, seu álbum definitivo em diversos termos.
Enquanto o Iron Maiden despontava com seu álbum de estreia homônimo, o poderoso Black Sabbath ressurgia das sombras com “Heaven and Hell”, trazendo ninguém menos que Ronnie James Dio ao front da banda, marcando um dos maiores e mais reconhecidos clássicos da história banda.
O cultuado Angel Witch trazia ao mundo seu seminal álbum de estreia auto-intitulado, e nesse meio tempo, o poderoso Judas Priest lançava o que podemos chamar de o arquétipo do Heavy Metal, o lendário “British Steel”
A reinvenção do invento
É curioso imaginar que, Judas Priest conseguiu moldar e criar os padrões tradicionais dentro de uma sonoridade, que eles mesmos talvez nem tivessem noção alguma de que estavam de fato inseridos.
Entre os álbuns “Sad Wings of Destiny” (1976) e “Stained Class” (1978), a banda não apenas desenvolvia sua própria sonoridade clássica primordial, mas também ditava tendências e um verdadeiro propósito musical, que ainda caminhava na época.
Ainda que sua sonoridade tivesse seus requintes progressivos e lisérgicos, momentos acústicos e experimentações típicas da década de 70, a música pesada e agressiva era o que guiava a rebeldia dos britânicos.
O Aço Britânico
Lançado em abril de 1980, “British Steel”, sexto álbum de estúdio do Judas, captura fielmente o momento em que o Heavy Metal estava começando a atrair a atenção das massas, porém ainda não havia caído no graças do mercado fonográfico.
Marcando oficialmente a primeira colaboração da banda com o renomado produtor Tom Allom, em um álbum de inéditas (já que Tom foi o produtor de “Unleashed In The East”, primeiro álbum ao vivo da banda), o Judas decidiu focar sua sonoridade em composições mais simples, curtas e marcantes. Dessa forma, a banda fez total alusão a lendária e cortante arte da capa que estampa o disco, criada pelo saudoso artista polonês Rosław Szaybo. Sem sombra de dúvida, uma das capas mais marcantes da história do metal.
A identidade Priest
Um fato interessante sobre o Judas é que, por eles estarem na ativa há tanto tempo e evoluírem tanto sua sonoridade em poucos anos, fãs diferentes irão orbitar em fases diferentes eventualmente.
“British Steel” se assemelha mais a “Killing Machine” e, em menor grau, ao álbum posterior “Screaming For Vengeance”. Assim sendo, aqueles, que talvez não venham a conhecer melhor a fase da década de 70, irão estranhar a banda indo para caminhos mais comerciais e mais simples em composição, talvez um pouco mais “radio-friendly”. Desse modo, podemos dizer que existem dois lados da identidade Priest, antes e depois de “British Steel”.
Pounding the World…Like a Battering Ram
Não havia melhor maneira de começar esse álbum, se não com “Rapid Fire”. Um proto Speed Metal pulsante e vigoroso com todo o DNA da banda presente. Era o inicio da era Dave Holland na bateria, ele permaneceria servindo ao Judas durante toda década de 80. Comercialmente falando, não havia escolha melhor para a banda na época que Dave, convenhamos.
Tittenhurst Park
Uma curiosidade interessante é que a banda decidira gravar seu sexto álbum de estúdio, juntamente com Tom Allom e o engenheiro de som Lou Austin, no “Startling Studios”.
Esse imóvel é localizado no terreno da Tittenhurst Park, uma antiga casa de campo no condado de Berkshire, na Inglaterra. Famosa por ter sido casa dos músicos John Lennon e Yoko Ono de 1969 até agosto de 1971, e depois a casa de Ringo Starr e sua família até o final dos anos 80.
Logo que foi iniciado o processo de gravação, o quinteto optou por gravar o álbum na própria casa do Ringo. Dessa maneira, levaram todo o equipamento de gravação para a residência, em vez de utilizar o estúdio Starling. Talvez provavelmente por uma questão de acústica e espaço.
Machines Are Taking All Over…
Existem dois pontos extremamente interessantes em relação a criação e composição desse álbum em particular, que intriga este que vos escreve desde as primeira audições. O primeiro, são as experimentações criativas na criação de efeitos sonoros e em segundo a resignificação das musicas ao longo dos anos.
O melhor exemplo desses fatores é, sem dúvida, a clássica “Metal Gods”
Toda a atmosfera de “Metal Gods” gira em torno de um futuro distópico, onde um exercito de robôs opressores instaurou um regime totalitário sobre a raça humana, que vive nos subsolos temendo por suas vidas e alguns preferindo ser escravos a serem mortos pelas maquinas cruéis.
É nítido como essa narrativa perturbadora ganhou todo um significado diferente ao longo dos anos. Muito por seu poderoso e arrepiante refrão, que agora remete a um clamor de glória aos membros da banda, como os próprios “Metal Gods”. Posteriormente, ao longo das décadas, Rob Halford foi se tornando figura central nessa canonização.
Como o sampling digital não era algo amplamente disponível na época, a banda se utilizou de objetos e utensílios de cozinha para criar efeitos sonoros, gravados de maneira analógica. Os sons que emulam a marcha do robôs pelas ruas é a mistura de uma bandeja de talheres sendo sacudida e o cabo da guitarra batendo no amplificador, com adição de um reverb na mixagem final.
Breaking the what…?
É inegável que “Breaking The Law” se tornou um dos maiores hits da história do Judas, sendo tocada nas rádios incansavelmente em sua época de lançamento. Além disso, a canção é executada ao vivo de forma obrigatória há mais de 40 anos.
E mesmo que tenha se tornado um grande sucesso comercial saturado, com direito a videoclipe e tudo, não da pra tirar a música da cabeça de jeito nenhum. Ela está cravada no código de programação de todo headbanger que se preze, do icônico riff inicial que fisga desde a primeira audição até o refrão igualmente chiclete. Em suma, “Breaking The Law” tem a formula do sucesso, simples e efetiva.
“YOU DON’T KNOW WHAT It’S LIKE !”
Looking For Meat…
Não tem como negar, “Grinder” é uma faixa insuperável, já que tudo nela transborda de puro Heavy Metal. Riffs pesados, linha de baixo, bateria pulsante e constante, além de Rob Halford incorporando um animal sedento por sangue do inicio ao fim. Para completar, temos aqui um dos solos mais reconhecíveis de Glenn Tipton, dessa forma, fechando um pacote completo e genuíno.
“Grinder… looking for meat
Grinder… wants you to eat”
United We Never Shall Fall
Não tem como não se arrepiar com “United” e sua grandiosidade. Mesmo que simples em sua sonoridade, a a faixa emana um senso de coletividade e conexão. Algo dmuito forte dentro da comunidade do Heavy Metal, pelo menos em seus anos de glória.
De acordo com o próprio Rob Halford, a faixa remete ao proletariado e a classe trabalhadora de sua época. Algo que está muito presente nas composições do Judas Priest, devido a toda a desilusão e frustração com o cenário sócio econômico e cultural da época, principalmente por parte dos jovens, nada menos que a primeira geração de fãs de Heavy Metal, algo que fica evidenciado no decorrer o álbum.
“Então me dê esperança
Não desista”Nós podemos fazer isso
Não Precisa Ser Velho Para Ser Sábio
O lado B do álbum escancara a face mais hedonista e inconsequente da banda. É algo que representava totalmente o espírito de insubordinação do final da década de 70. Nesse quesito, “You Don’t Have To Be Old To Be Wise” é uma das faixas que transmite com louvor a atmosfera dessa época, perdendo apenas para “Living After Midnight”, obviamente.
O Hedonismo inocente
Provavelmente, a música mais saturada e amplamente conhecida do Judas, com o refrão mais banal e cansativo, “Living After Midnight” talvez ainda seja o melhor retrato da era mais festeira da banda. Resumindo, um verdadeiro hino da busca incansável por mais prazer, e menos dor. Sem dúvida, um dos refrões mais grudentos já criados pelo homem.
Is Pain Better…Than the Grave?
Até os dias de hoje, “The Rage” permanece como uma das músicas mais impressionantes e criminosamente injustiçadas presentes no extenso catalogo de épicos do Judas. Indo ainda mais além, podemos arriscar a dizer que se trata da segunda melhor faixa presente no “British Steel”.
Com um rara introdução de baixo, a banda engaja numa intrigante e passageira viagem reggae. Trazendo, da mesma forma, um experimentalismo muito arriscado que acabou funcionando perfeitamente, dentro do que a composição pedia. Toda a dramaticidade e o vigor épico na voz de Halford, em uma das melhores letras já concebidas pelo músico.
Ali há mais uma de suas poesias focadas na liberdade de ser quem você queira ser e encontrar espaço entre seus semelhantes. Uma temática constante em toda a trajetória musical do vocalista, que abre portas da imaginação do ouvinte para interpretações mais intimistas.
E de quebra, temos K.K Downing mostrando seus licks e habilidades em um solo mais lento, blues e cheio de feeling, sem toda aquela insanidade e solos alavancados lunáticos… Essencialmente, K.K estava procurando bater de frente com Glenn Tipton, justamente no jogo onde Glenn domina com maestria.
Waiting like jackals…
Podemos afirmar ao final da audição do disco , que ele começa e termina com mesma dose de energia e intensidade. Se “Rapid Fire” inicia o álbum com os pés na porta, “Steeler” conclui com um verdadeiro lança-chamas devastador, trazendo um clímax tão poderoso e agressivo, que podemos creditar como uma das pioneiras no desenvolvimento do que viria a se tornar Speed Metal e o próprio Thrash.
Um inigualável e eletrizante encerramento de álbum em toda a sua glória. Um testemunho de como o Priest ainda permaneceria influenciando, tudo o que viria ser feito dentro do Heavy Metal, em grande e menor escala.
Legado e desempenho comercial
“British Steel” se mantém firme como um dos melhores e mais significativos trabalhos de uma banda dentro de seu segmento , um álbum mítico e influente da cena Heavy britânica do início dos anos 80 e a total personificação sonora do couro, das correntes, e o próprio aço.
Certificações
- O disco recebeu certificações de platina, ouro e prata, no EUA, Suécia e Reino Unido, respectivamente, com um numero de vendas superando a marca de 1 milhão de unidades certificadas
- Em 2001 o álbum foi relançado em uma versão remasterizado, contendo duas faixas bônus,”Red, White, and Blue”, escrita nas sessões de gravação do álbum “Twin Turbos” que se tornaria o álbum “Turbo” posteriormente e gravada no Compass Point Studios, em julho de 1985 e uma versão ao vivo de ” Grinder “, gravada em maio de 1984, em Los Angeles, durante a turnê do “Defenders of the Faith”.
- Em 2009, Judas Priest deu início à sua turnê em comemoração ao 30º aniversário de “British Steel” tocando o álbum ao vivo na íntegra, pela primeira vez.
- O lançamento do 30º aniversário do álbum veio com o lançamento de um DVD e CD, do show ao vivo gravado em 17 de agosto de 2009 no Seminole Hard Rock Arena, Flórida, como parte da turnê de comemoração.
Nota : 9.0
Integrantes:
- Rob Halford (vocal)
- Glenn Tipton (guitarra)
- K.K. Downing (guitarra)
- Ian Hill (baixo)
- Dave Holland (bateria*R.I.P. 2018)
Faixas:
- 1.”Rapid Fire”
- 2.”Metal Gods”
- 3.”Breaking The Law”
- 4.”Grinder”
- 5.”United”
- 6.”You Don’t Have to Be Old to Be Wise”
- 7.”The Rage”
- 8.”Steeler”