Houve uma época muito aclamada por quem presenciou e também por quem a conheceu tanto por intermédio de que viveu tais ares quanto por outras formas de obter a informação. Após o estardalhaço causado por bandas clássicas como Black Sabbath, Judas Priest, Motörhead e tantos outros ícones, ainda na década de 70, um novo movimento começava a causar certo alvoroço, e o resultado disso foi o surgimento de várias bandas que passaram a praticar o chamado mais tarde, Heavy Metal tradicional. O movimento que ganhara um nome e sigla à época (New Wave Of British Heavy Metal), revelou bandas do porte de Saxon, Angel Witch, Blitzkrieg, Tygers Of Pan Tang, entre tantas ótimas bandas, independentemente de fizeram maior sucesso após serem reveladas ou não. Estamos esquecendo algo, não é mesmo?! Sim! Mas, antes de citar o nosso resenhado da vez, é bom mencionar sobre “o que é bom dura pouco”, se referindo a NWOBHM, pois sua duração estava já próxima do fim, quando na cidade de Hamburgo, Alemanha, surgiu o Iron Angel com seu Rock veloz. Vale ressaltar que o Iron Angel apareceu para fazer seu barulho três anos antes com o nome Metal Gods, obviamente mostrando total devoção ao Judas Priest. Agora, chega de enrolação e vamos diteto ao clássico debut!
“Hellish Crossfire” é o álbum que confirma e afirma a banda no cenário, fazendo com que a mesma, se não foi projetada ao estrelato, recebeu o devido respeito dos concorrentes e colegas, e o consequente respaldo de seus fãs. Obviamente que o Iron Maiden vivia talvez o seu melhor momento em toda a carreira. Ao menos a década foi dominada em parte pelos ingleses. Mas, como revelação acabou funcionando e rendendo ainda um segundo disco, o “Winds Of War”. O álbum inaugural foi gravado e mixado em maio de 1985 no Caet Studio, Berlim, Alemanha Oriental (à época em que o muro de Berlim dividia a Alemanha). A masterização foi dividida entre Frankfurt e Nova York, além de contar com a co-produção da própria banda.
“Hellish Crossfire”, assim como muitos álbuns daquele tempo foram lançados em LP, e o LP possui a divisão normal do tracklist, fazendo com que de vez em quando as bandas colocam nomes nos lados A e B do vinil. No caso do Iron Angel, o lado A foi chamado de “Iron” e o lado B, “Angel”. Voltando um pouco no tempo, diretamente ao ano de 1984, o Iron Angel lançou três demos (“Power Metal Attack”, “Legions Of Evil” e “Demo III ’84”) que serviram de aperitivo até o lançamento de “Hellish Crossfire”. Dito isso, vamos relembrar essa grande aventura sob o comando do magnânimo Iron Angel!
Sob a condição de banda com som próprio e pronta para levar todo o esforço envolvido a sério, o German Speed Metal começou a falar alto através de “The Metallian”, faixa de abertura desta grande jóia do infinito do Metal. Faixa esta que inicia a jornada como uma serra tentando cortar uma rocha ao meio. A breve introdução abre caminho para os vocais venenosos de Dirk Schröder, enquanto as guitarras tomam o local de assalto. Com seu refrão simples que clama o nome da canção, o baixo mantém os cortes afiados, aliados à estrutura construída por uma bateria agressiva, direta e incisiva. Solos de guitarra emergem das profundezas para aterrorizar as propriedades vizinhas. Enquanto os amedrontados fogem segurando suas calças borradas, os corajosos permanecem para a execução de um triunfal ‘headbanging’.
Você se lembra dela? “Sinner 666” é quem vem na sequência e começa a trama com uma distorcida e pequena intro, padrão do estilo e alegria de seus adeptos. Os riffs funcionam como jatos de gasolina na fogueira e incendeiam todo o quarteirão. Cortesia de Sven Strüven e do saudoso Peter Wittke, falecido em 2008. Mais demoníaca que sua irmã antecessora, “Sinner” possui uma abertura magistral para a entrada dos solos. Breve como um flecha veloz, os riffs de base se reencontram e toda a estrtutura entre baixo e bateria destroçam qualquer veículo inimigo. Na cola do para-choque e fechando a tríade inicial temos “Black Mass”! Como um belo Speed/Heavy, as primeiras notas são apresentadas ao respeitável público. O baixista Thorsten Lohmann é competente ao ponto de engrossar o caldo da receita do mais puro Metal. Com andamento mais cadenciado e um refrão marcante, a canção eleva o disco a novos patamares. Não há como não se contagiar diante de algo tão marcante. Guitarras que passeiam pelo Heavy e pelo Speed sempre priorizando a qualidade do Metal em seu mais amplo potencial. Dessa vez os solos são mais límpidos e melódicos, combinando muito bem com o andamento da canção. A grande massa negra horripilante bloqueia os raios solares e torna a sua vida completa escuridão. Momento propício para abrir aquela gelada e mandar para dentro na melhor das sensações.
Logo após é a vez daquela que detém o maior nome dentre todas as faixas de “Hellish Crossfire”. Seria “The Church Of The Lost Souls”? Isso mesmo, garotinho! E a tal começa incendiando o carburador do carro velho que sobrevive à viagem com o velocímetro quase sendo arrancado do lugar por conta da alta velocidade desse Metal alucinante que percorre as vias de sua imaginação. O pré-solo inclui um momento de destaque para o baterista Mike Matthes imprimir seu ritmo frenético até que os solos chegam e passam como um cometa rasgando os céus. Riffs despejados sem o menor repúdio, aproveitando o fio de corte sempre ultra afiado. A igreja das almas penadas está de pé e seu lugar é aqui para festejar o apocalípse conosco! “Hunter In Chains” chega para livrar das correntes de sons ruins os fãs de música verdadeira e libertar o caçador de boa “múzga” das correntes impostas pela sociedade falsamente ortodoxa. Baixo e bateria puxam as guitarras, que por sua vez, chamam o ouvinte para o combate. Riffs simples, marcantes e explícitos para qualquer ser pensante entender. Estamos dentro de uma redoma contornada por muito Heavy Metal. Destaque para os pré-solos com riffs causadores de muito suspense. Os solos não iniciam de forma tão presente, mas decolam como caças de guerra na sequência da jornada. De volta aos acordes principais, a faixa cumpre muito bem o seu papel e mantém as chamas negras infernais acesas como o poder oculto de Hiei (Yu Yu Hakusho).
Ao som de um portal abrindo bem rápido, surgem os dedilhados iniciais de “Rush Of Power”, que vem para aprontar mais uma disputa veloz entre guitarra, baixo e bateria contra os ouvidos de porcelana daqueles que não sobreviveriam a esse mundo caótico e divertido. Dirk Schröder coloca seus ingredientes vocálicos a disposição da maldade sonora e da podridão extraída do maravilhoso bueiro. Solos verticais jogam as almas imprestáveis no abismo sem volta. Guitarras flamejantes e cozinha arrebatadora é o que se encontra na corrida de todo poder imenso exalado pela canção. A caminhada prossegue com “Legions Of Evil”, que assim como o nome sugere, foram despertadas as legiões malígnas pela barulheira incontestável dos germânicos. Uma nova introdução é encarregada de manter a embarcação nivelada e é isso o que ocorre. Logo os acordes nervosos e revoltantes para os seres delicados de natureza inferior toma a frente e se tornam uma evidência completa. Dirk Schröder berra de forma exímia, enquanto seus irmãos forma backing vocals essenciais. Os pedais duplos ensurdecedores de Mike Matthes abrem caminho para os solos incríveis que possuem partes melódicas e velozes, até que retornam ao ponto de base da trama. O final traz toda a agressividade e precisão necessárias da banda.
Espancando seres inúteis que infestam a cena temos “Wife Of The Devil”. Seria a lendária Lilith a quem ocuparia esta posição? Depende da ocasião, ou melhor, da Era em específico. Ela começa com as primeiras notas percussivas e logo descem rumo à entrada do castelo do Rei do Inferno. É simpleente um manual de como pode ser incrível o poderio através da execução do que conhecemos por Speed Metal. A esposa do demônio balança suas madeixas como uma verdadeira headbanger do submundo e assombra os lares com seus olhares penetrantes e manipuladores. Sua alma está exposta diante de toda essa camada de riffs oferecida pelo glorioso Iron Angel! E este finaliza essa oitava parte da história de forma imponente. “Nightmare” entra em cena com sua parte inicial muito distinta do que vimos até aqui. Um dedilhado que parece no jogar em um outro cenário, mas… Se engana ao pensar que haverá baladas (o que não seria de todo mal) nesse disco! A canção logo toma o rumo habitual da obra como um todo e exibe todos os recursos importantes para a implementação de um belo Rock veloz! Há mudanças de andamento e muita criatividade em cena, dando mais liberdade para os vocais de Dirk Schröder aparecerem mais e com qualidade. Quanto aos solos? Mais uma vez se sobressaem, apesar de bem curtos, mas estão dentro da proposta e não há tempo para conversa mole por aqui, pois já estamos no fim do disco.
E o fechamento desse que é um dos melhores discos de Speed Metal de todos os tempos é feito por “Heavy Metal Soldiers”. Nada mais justo so que convocar seus bravos guerreiros e apoiadores para brindar após essa batalha fantástica vencida pelo Metal! Mike Matthes ataca isoladamente, ocasionando total devastação sonora. Em seguida todos os componentes entram na jogada e aceleram fundo mais uma vez para entregar a missão concluída com sucesso e louvor. Riffs diretos, velozes, concentrados para contornar os vocais que convocam os bravos soldados do Metal para brindar junto o final desta etapa. O Iron Angel pode não ter atingido altíssimos números com seus seus trabalhos, mas os seus primeiros passos não só lhe deram crédito diante dos fãs mais dedicados ao Metal, como também serviu de impulso para que a banda seguir em frente. O restante você sabe bem como aconteceu, mas à época de seu debut, a banda fez tanto barulho junto ao público que consegue ecoar até os dias de hoje. Além disso, dificilmente alguém não aparecia em cena com uma cópia desse grande disco de Speed Metal chamado “Hellish Crossfire”!
“This record is made for all Speed Metal fans and also for all Heavy Metal fans on this Earth.”
Nota: 9,4
Integrantes:
- Peter Wittke (RIP 2008) (guitarra)
- Dirk Schröder (vocal)
- Sven Strüven (guitarra)
- Mike Matthes (bateria)
- Thorsten Lohmann (baixo)
Faixas:
1. The Metallian
2. Sinner 666
3. Black Mass
4. The Church Of The Lost Souls
5. Hunter In Chains
6. Rush Of Power
7. Legions Of Evil
8. Wife Of The Devil
9. Nightmare
10. Heavy Metal Soldiers
Redigido por Stephan Giuliano