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Clássicos: Deicide – “Deicide” (1990)

Mil novecentos e noventa. Último ano do auge maior do Thrash Metal para muitos, enquanto outros tremulam a bandeira dos favoráveis até o ano de 1992, e daí por diante. Ou não. O fato é que pelos meandros e esquinas de pouca luminosidade do underground, ao percorrer tal caminho, outro subgênero ganhava força no cenário da música pesada. Não que o Death Metal viesse a tomar posse do lugar ocupado pelo Thrash, mas junto a quem gostava de frenquentar o conhecido “bueiro” da boa “múzga”, encontrar novidades era até normal. Porém, algo completamente instigante e de valor reluzente pairava no ar para todo adepto do Metal sangrento ver: o nascimento do poderoso Deicide de Glen Benton e seus asseclas da desolação!

   

Tendo a produção do renomado Scott Burns junto à própria banda, “Deicide” continha elementos condizentes com o pensamento de que poderia se tornar um dos maiores álbuns de estreia de uma banda de Death Metal. Isso acabou se comprovando ao longo do tempo, tamanho o estardalhaço feito diante dos adeptos e dos lugares que respeiram o estilo avermelhado e com gosto de ferrugem. O baixista e vocalista Glen Benton, que anos mais tarde se envolveria em uma polêmica relacionada ao seu suicídio (que nunca aconteceu), foi conquistando seu espaço ao lado de sua banda a ponto de se tornar uma das grandes figuras do Metal extremo mundial.

O Deicide surgiu exatamente na terra do Death Metal americano, a consagrada Tampa, na Florida, Estados Unidos. Para deixar melhor a apresentação e origem da banda, vamos acompanhar um trecho dos dizeres oficiais contidos no encarte do disco:

“O Deicide surgiu como um Leviatã dos pântanos da Flórida em julho de 1987. Em sua fase inicial, a banda se autodenominou Amon, em homenagem a uma antiga divindade egípcia (“a oculta) que mais tarde reaparece no grimório ocultista Lemegeton como um marquês no Inferno. A híbrido lobo-serpente, ele comanda quarenta legiões demoníacas e vomita chamas. A primeira fita demo de Amon soa como se o próprio marquês possuísse temporariamente o corpo do baixista e cantor Glen Benton para a sessão, e as vozes que foram gravadas naquele dia devem ser ouvidas para serem acreditadas. Mas esta foi apenas uma sombra cinzenta do que se seguiria…”

Entendo bem como tudo começou fica mais confortável e plausível relembrar, além de perceber os detalhes dessa obra criada pelos possuídos do Deicide!

Os primeiros tremores de terra caudasos após os primeiros giros do artefato sonoro atendem por “Lunatic Of God’s Creation”. Os portões se abrem para o ritmo cavalar e desenfreado iniciar as maldições. Sob urros, os versos pútridos são jogados ao vento com destino ao ouvinte ensandecido com tanta blasfêmia sonora exemplar. Após uma breve pausa, a pancadaria só aumenta, cortesia do magistral baterista Steve Asheim. Viradas rápidas e mudanças de andamentos são marcadas pelos vocais distorcidos de Glen Benton, o nosso querido “Bentão” da massa. “Servos da morte, encantadores da dor / Da terra sem volta, você matará novamente / Mancha o sangue em cadáver nu / Manson” – trata-se de Charles Manson, tido como um servo do tal ser divino que todos o adoram e o admiram. A sequência da destruição em massa é dada por “Sacrificial Suicide”, que começa de forma em que o som do riff vai crescendo até o ponto ideal. Com um ritmo alternante, os irmãos Hoffman desferem vários golpes sonoros com suas guitarras flamejantes até que vem o primeiro solo assinado por Eric. A sequência seque bastante animalesca e dilaceradora de almas ortodoxas. “Eis o crucifixo, símbolo de esterilidade / Eu sou o crucifixo – Satanás / Sacrifício suicida, prometendo noite má / Luxúria em realidade – Satanás / Anjo do abismo negro, Senhor Satanás, eu saúdo / Blasfêmia insana – Satanás / Suicídio sacrificial, ritual para acabar com minha vida / Behemoth infesta meu destino – Satanás” – baseando-se em metáforas e montagem de frases para fazer uma ligação mais direta, temos estes ditos favoráveis ao Senhor das Trevas e contrários à lenda mentirosa. O sacrifício se torna válido e honroso quando tudo simboliza e pertence à Satanás…

   

Completando o tridente do Rei do Inferno, temos “Oblivious To Evil” usando e abusando dos pedais, mas o que mais chama a atenção são os riffs quase fazendo uma alusão ao Slayer. Quando todos os instrumentos se apresentam a receita fica mais clara. Solos enraivecidos são despejados primeiro por Eric e depois por Brian. E toda a construção inicial retoma a dianteira até o seu final com Asheim aterrorizando com seu kit novamente. “Exorcizar o poder dos mortos / Inverta minha cruz do tempo / O reino da anarquia de Satanás / Dentro do meu sinal de medo” – a Majestade infernal lidera a corrida pela posse do mundo terreno. A oferta é das melhores e ao mesmo tempo em que a sementevdo demônio é alimentada, o mal é concedido a autor da composição. A quarta ponta de lança se chama “Dead By Dawn” e inicia o percurso após o urro de Glen com pitadas de blast beats e também com o próprio Glen tocando seu baixo ferozmente. Eric joga as cartas na mesa, mostrando o casal maior (quem joga truco sabe) e já afiando a faca junto ao solo inicial. As estrofes seguem após o solo arrebatador. A fervorosa canção mantém o tom agressivo até que um novo e distorcido solo de Eric acontece. “Livro dos mortos, páginas encadernadas em carne humana

Festejando a besta, do sangue as palavras foram ditas” – o rito da carne e do sangue foi feito. Parece um sonho dito em voz alta. Talvez seja um sonho mesmo.

Em quinto lugar na tábua de classificação aparece “Blaspherereion” com pinta de que derrubará qualquer exército inimigo. O linchamento em praça pública é iniciado e toda a linha sonora não dá trégua em nenhum momento. Talvez seja a bateria mais retilínea se comparada com as canções anteriores, mantendo sempre a agressividade e velocidade extrema, havendo espaço para um solo final de Eric após algumas mudanças de andamento. “A mais escura, a morte sangrenta, do além / A morte seja feita, sem regressão, não proibida / Você vai morrer – está escrito” – pausadas como se fossem coisas a serem decifradas e encaixadas umas nas outras. A figura de linguagem retrada como alvo oculto é mais claro do que qualquer outro dizer. Simplesmente se quer que Ele morra e nunca ressuscite. O debut homônimo também possui a sua faixa homônima, ou seja, é a vez de “Deicide” vociferar pelos alto falantes reforçada por uma breve intro que logo desencadeia e torna o clima denso, violento e empoeirado. Ou seja, “repetaculê”! Ao contrário de sua antecessora, esta traz mais elementos do estilo e varia bastante, evidenciando ainda mais a técnica dos músicos. Dessa vez quem comanda os solos é o Brian, que mantém o nível alto da faixa. “Eu posso acender a luz e ver através da verdade / Pois eu sou o Deicida, Dominus, o que voce poderia fazer / Você falhou com você agora, um de novo e sempre irá / Na cruz, filho esquecido, um sacrifício tinha que ser feito” – o sentido de Deicida, ou Deicide, para ficar mais bonito, diz sobre o pensamento que espalha a incredulidade e o ceticismo.

Os templos não significam nada. Os monumentos menos ainda. A figura crucificada em prol de todos, menos ainda. Resta apenas acontecer uma “Carnage In The Temple Of The Damned”, que começa uma intro referente ao tema e ao término dela já engata a 666° marcha do automóvel infernal. Na metade da emboscada temos Eric aprontando um dos dois solos da canção descrita. Os riffs se mostram bem eficientes e reforçam os vocais de Glen. O segundo solo se Eric se apresenta melhor que o primeiro. “No templo dos condenados / Beba o sangue, concentre-se na morte / A congregação está morta” – prosseguindo com o tema referente ao suposto suicídio de Cristo, é iniciada a carnificina dos mortos com cremações em massa dos abençoados, sermonizando o verdadeiro final através do templo dos condenados. Após a carnificina o ser é revelado sob a alcunha “Mephistopheles”. A “bateção de bolo” começa e logo muda a trajetória, sempre prezando pelos pedais duplos. Os riffs cortantes e sujos sangram os ouvidos dos cardeais sacripantas que temem a própria morte. Brian faz o primeiro solo antes da pancadaria retomar o prumo e a última estrofe ser cantada. Logo após é a vez de Eric incendiar a lareira com outro solo. “Mephisto está vindo para me reivindicar para o inferno” – a convocação é feita baseada em vários pontos históricos da linha do tempo aonde são citados os mirmidões ou mirmídones, que foram um dos lendários povos tessálicos que acompanharam Aquiles à Guerra de Troia.

A penumbra está presente com “Day Of Darkness” e Glen parece mesmo incorporado, urrando e berrando por diversas vezes. Funciona bem com o seguimento da música que se mostra bem pesada, veloz e contagiante. A alavanca da guitarra de Brian fala bem alto e o mesmo termina a canção com o solo. O dia da escuridão é representado por vários tópicos e ações que geram a total desgraça e o fim absoluto de tudo. A salvação é o fim. A redenção é a ida até o submundo e seguir os passos de seu líder para que em um futuro próximo, possa impedir a reencarnação do pecador máximo.

   

“Give praise to Satan, he has won”

Fechando o grimório da morte e do antidivino, surge das cinzas dos coitados, “Crucifixation”, conforme anunciado o seu primeiro verso acima, é outra faixa que dispensa comentários ruins. Todos os solos são de Brian e logo no primeiro, acontece junto aos vocais de Glen e toda a instrumentação, obviamente. Velocidade, peso e zero melodia… Conte as melodias do segundo solo, que mesmo de forma breve, enfeita e melhora ainda mais esta útima faixa, terminando com o fechamento dos portões. O conjunto de peças macabras foi lançado à época pela Roadrunner Records.

A primeira obra constituída pelo Deicide termina com seus exatos 33min36seg de duração. Detalhe curioso é que se somar os pares de números entre minutos e segundos, o resultado é 69. Será que foi planejado isso também ou foi pura coincidência? O importante é que cada segundo do disco vale o jarro com o éter sagrado até a tampa.

“Where’s my crucifix?

I can’t die without it”

Nota: 9,6

Integrantes:

  • Glen Benton (vocal, baixo)
   
  • Eric Hoffman (guitarra solo)
  • Brian Hoffman (guitarra solo)
  • Steve Asheim (bateria)
  •    

Faixas:

1. Lunatic Of God’s Creation

2. Sacrificial Suicide

3. Oblivious To Evil

4. Dead By Dawn

   

5. Blaspherereion

6. Deicide

7. Carnage In The Temple Of The Damned

8. Mephistopheles

9. Day Of Darkness

   

10. Crucifixation

Redigido por Stephan Giuliano

   

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