“In Rock” é o quarto full lenght da banda britânica de Hard Rock, Deep Purple.
Após três álbuns com uma sonoridade, ao mesmo tempo, psicodélica e progressiva, “The Shades Of Deep Purple” (1968), “The Book Of Taliesyn” (1968) e “Deep Purple” (1969), o quinteto britânico parecia longe das glórias que, brevemente, alcançaria. Logo após o lançamento de seu homônimo, aconteceram as saídas do vocalista Rod Evans e do baixista Nick Simper. Em seus lugares entraram, respectivamente, Ian Gillan no vocal e o Roger Glover no baixo, ambos vindos de uma banda chamada Episode Six.
Como resultado dessa troca no line-up, em pouco tempo saiu o single “Hallelujah”, cover de Greenaway-Cook, a qual não conseguiu êxito algum na época. Em seguida, foi a vez da clássica “Black Night”, que tinha “Cry Free” no lado B. Contudo, ao contrário do single que lhe antecedeu, “Black Night”, que sequer veio a integrar o álbum “In Rock”, ficou em segundo posto nas paradas do Reino Unido. Pode parecer estranho, mas é Deep Purple sendo Deep Purple.
As sete faixas do “In Rock” foram assinadas pelos cinco membros.
Assim que “In Rock” saiu, já era possível saber que ele não tinha como dar errado. Desde a capa, que colocava os integrantes “dentro” do Monte Rushmore, uma escultura localizada na cidade americana de Keystone, no estado da Dakota do Sul. O monumento foi construído em homenagem aos pais da fundação e da independência da América, seus quatro primeiros presidentes: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. Dessa forma, Gillan, Blackmore, Lord e Glover ficaram no lugar de cada presidente. Enquanto Ian Paice ficou por último, ao lado de Glover. Já a sonoridade, essa mudou completamente. Pois o psicodélico e progressivo de outrora deram espaço ao Hard Rock que, para muitos, até hoje, beira o Heavy Metal. Nascia desde então a Mark II, como foi apelidado esse line-up, gerando um novo debut para um novo Deep Purple que estava nascendo e prestes a conquistar o mundo, subitamente.
As primeiras sensações da Mark II
Imagino a reação de quem comprou o disco na época e foi ouvir pela primeira vez, a espera daquele pacato Prog Rock Psicodélico. Assim que a agulha toca o vinil, surge a dilaceradora de almas, “Speed King”, dando o pontapé inicial daquele que se tornaria um dos maiores clássicos da música pesada.
Os riffs pesados de Ritchie Blackmore; a bateria acelerada e cheia de repiques de Ian Paice; o baixo de Roger Glover acompanhando a guitarra nota por nota e nos solos, sustentando o peso; Ian Gillan com seus berros ensurdecedores e o duelo de solos entre Blackmore e o gênio tecladista Jon Lord que deixa o ouvinte babando.
Raiz do Speed Metal
Se o Black Sabbath foi a raiz do Doom Metal em seu debut e música homônimos, o Deep Purple, com “Speed King”, pode ter sido o embrião do que chamaríamos Speed Metal, futuramente, embora a faixa título do álbum posterior, “Fireball”, tenha ido ainda mais longe nessa caracterização.
Até para mim que já conhecia o Deep Purple através do “Machine Head”, a audição causou surpresa, tamanha a intensidade do peso dessa canção. Sua letra é um verdadeiro hino em homenagem ao Rock’n’Roll anos 60, mas na velocidade 78 rpm.
O mais puro Hard Rock
Logo depois, “Bloodsucker” é a representação do mais puro Hard Rock. Novamente, as frases conjuntas entre Blackmore e Glover fomentam o peso; Os agudos de Gillan parecem ainda mais altos e perfeitos do que na canção de abertura. Além disso, os solos intercalados de Lord e Ritchie fazem o show à parte. Estava nascendo, portanto, uma banda que ajudaria a mudar a história do Rock.
Agora chegou a hora de… Bom, antes de mais nada, para falar dessa obra-prima, preciso contar uma história pessoal. Eu e dois amigos, Marcos Pópolo e Antônio Neto, embarcamos no mundo da música, montamos nossa primeira banda por causa dela, exatamente, para tentar tocá-la da maneira mais parecida com o Deep Purple. De verdade, não chegamos nem perto, pois estávamos só começando. Porém, isso nos fez amadurecer muito e deu um rumo diferente as nossas vidas. Estou falando de “Child In Time”, que é capaz de impressionar até quem não gosta muito de Rock por sua atmosfera sombria e, ao mesmo tempo, magnífica.
Como esquecer essa letra?
“Criança meiga no tempo / Você verá a linha / O limite que é desenhado entre o bom e o mau / Veja o cego / Atirando no mundo (atirando para todos os lados) / Balas voando Ohh / Cobrando a passagem / Se você foi mal, oh senhor / aposto que você foi / E você não foi atingido (ainda) / Oh, as balas estão voando / É melhor você fechar os olhos / baixar a cabeça / Esperar pelo ricochete.”
Em resumo, uma canção forte com um tema lírico formidável, que foi gravada pela primeira vez, ao vivo, no “Concerto For Group and Orchestra” (1969). Isso jamais daria errado e não deu mesmo. Principalmente, porque os agudos de Gillan são tão altos e impressionantes que o transformaram em uma lenda viva. Ele só teve outra performance parecida com a faixa “Born Again”, que ele gravou com o Black Sabbath, treze anos mais tarde, mas nada superou “Child In Time” em toda a sua vasta carreira.
Lado B
O Lado B começa com “Flight Of The Rat”. Eu posso jurar que quando comprei o disco, eu lia “Flight Of The Bat”, que na minha cabeça fazia muito mais sentido (rs). Posteriormente, conheci “Rat Bat Blue” do “Who Do We Think We Are”. Foi ai que passei a confundir ainda mais (rs). Além desse fato estranho com o nome, ela é um agradável Hard Rock, típico da década de 70, com todos os ingredientes contidos nesse subgênero, inclusive com o uso de wah wah por Blackmore, ou seja, Deep Purple colocou uma música bem diferente de tudo que estava presente no outro lado do disco e digo que funcionou muito bem. Não surpreendentemente, também destaco o show de bateria do canhoto Ian Paice, com direito a um solo no encerramento. Aliás, seus solos sempre foram sua marca registrada.
Hard Rock acima do bem e do mal
Vamos à outra canção que se tornou clássica e parte do set list das turnês. “Into The Fire” tem o estilo bem parecido com “Bloodsucker” , segunda do lado A, porém ela soa mais simples e acessível, sem “excesso” de berros do Gillan (Ian Gritan, como diria alguém que conheci), com um refrão grudento , um solo a la Blues de Blackmore, tudo isso junto faz com que o ritmo conduza o corpo a passear por seus riffs.
Na sequência, a introdução de bateria já torna “Living Wreck” totalmente apaixonante. Embora sua sonoridade se assemelhe com que o Deep Purple faria nos três registros seguintes da Mark II, “Fireball” (1971), “Machine Head” (1972) e “Who Do We Think We Are” (1973), ela cabe bem demais no contexto do “In Rock”. Inclusive, com o passar do tempo, ela se tornou uma das minhas favoritas. Pérola de valor imensurável é o que eu posso dizer.
O fim é mais uma pedrada
Um full lenght desse nível não poderia encerrar com uma canção que não tivesse o seu altíssimo nível. “Hard Lovin’ Man” é a união da sonoridade Prog que o quinteto fez em seus três primeiros trabalhos com o peso proposto por esse novo line-up, pois digo que os dois estilos se encaixaram com extrema perfeição. Mas, se alguém disser que o Deep Purple abandonou completamente os seus primórdios a partir do “In Rock”, precisa ouvi-lo com maior atenção.
Além do mais, ela tem um ritmo de cavalgada que, posteriormente, se tornaria comum no Heavy Metal, propriamente dito. Eu poderia escrever um livro de tantas coisas que teria pra falar do “In Rock”, entretanto, textos excessivamente longos não fazem muito o minha cabeça.
Fora isso, acho impossível alguém que bata no peito dizendo que ama música pesada, dizer que não conhece esse disco, mas, se esse for o caso de algum de vocês, queridos leitores, peço que corrijam essa falha gravíssima, imediatamente!
Deep Purple In “Hard” Rock
Nota: 9,6
Integrantes:
- Ritchie Blackmore (guitarra)
- Roger Glover (baixo)
- Ian Paice (bateria)
- Ian Gillan (vocal)
- Jon Lord (teclados)
Faixas:
- 1.Speed King
- 2.Bloodsucker
- 3.Child In Time
- 4.Flight Of The Rat
- 5.Into The Fire
- 6.Living Wreck
- 7.Hard Lovin’ Man
Redigido por Cristiano “Big Head” Ruiz
Belo texto sobre um álbum tão pouco lembrado…… Até hoje ouço com emoção o in rock. Aliás, perdi a conta de quantas passagens de ano tive o prazer de passar ouvindo child in time com meu hj no céu……. Amado irmão.
Obrigado pelo comentário meu amigo, sim, In Rock é pouco lembrado e é um excelente álbum!