Começo esta resenha dizendo o seguinte: Onze entre dez bandas de Heavy Metal, sonham ou sonhou ter um disco gravado “Ao Vivo” no Japão (fato). O público japonês está entre os mais apaixonados por Heavy Metal e ao mesmo tempo (segundo consta) é o público mais quieto e mais comportado (assim dizem). O carinho dado às bandas por eles é algo que sai totalmente dos padrões de outros países, ao ponto de algumas bandas serem “gigantes” apenas no Japão é relativamente “pequena” em outros continentes.
A lista de grupos que gravaram discos na terra do sol nascente é longa e esta resenha teria linhas infindáveis, caso tentássemos lista-los (impossível). Outra característica das bandas que gravaram discos por lá, é o fato de que estes beiram a perfeição e em alguns casos, o mesmos entram na lista de perfeitos em suas discografias.
Para provar que esta teoria tem fundamento, ouçamos uma dessas maravilhas aqui descritas que como bem entrega seus títulos, todos foram gravados no Japão. Maiden In Japan (Iron Maiden), Live For Sale (Heavens Gate), Unleashed the East (Judas Priest), Live In Japan (Queen), Burning Japan Live (Glenn Hughes), Made In Japan (Deep Purple), Kaizoku-Ban (Accept), Live Japan 94 (Savatage) e Tokyo Tapes (Scorpions), para se ter uma noção do que é o público japonês.
Com os alemães do Blind Guardian não foi diferente. Após o sucesso de vendas dos quatro primeiros trabalhos e seu nome na lista das bandas de maior sucesso no país, o quarteto aportou em Tóquio para dois shows em dezembro de 1992. O resultado destas apresentações, rendeu-lhes um brilhante disco ao vivo em um dos momentos mais importantes (segundo a banda) na carreira do quarteto.
As apresentações aconteceram nos dias 04 e 06 de dezembro de 1992. A primeira delas no dia 04 no Koseinenkin Hall e a segunda no dia 06 realizada no NHK Hall, ambos, em Tóquio. Em seus dois shows a banda conseguiu levar cerca de 4 mil pagantes em cada noite, número expressivos e satisfatórios para um grupo que estava em início de carreira e que mesmo após quatro discos lançados, ainda era uma banda relativamente “nova” e desconhecida por muitos.
Contendo 12 faixas, distribuídas em aproximadamente 70 minutos de duração, o disco abrange os primórdios do Blind Guardian, formado na época por Hansi Kürsch (vocal), André Olbrich (guitarras), Marcus Siepen (baixo), Thomas Stauch (bateria), contendo faixas dos excelentes Battalions Of Fear (1988), Follow The Blind (1989), Tales From The Twilight World (1990) e Somewhere Far Beyond (1992).
Hora de conferir o disco e sentir uma certa “inveja” dos fãs que lá estavam, afinal de contas estamos falando de um show onde o setlist dispensa comentários, visto que suas músicas foram extraídas dos melhores trabalhos lançados pelo grupo. Após a breve introdução de “Inquisition”, o ataque sonoro tem início com “Banish From Sanctuary” e sua pegada Heavy/Speed chutando tímpanos e de cara temos aquele refrão cantando em uníssono pelo público presente.
“Journey Through The Dark” é mais uma paulada em mais um momento Speed/Heavy do quarteto. Claro que o público dá aquela força no refrão, fazendo bonito e evidentemente satisfeitos com os dois chutes na porta em forma de música. Já que falei de chute na porta, “Traveler In Time” é mais uma bordoada sonora em mais um momento monstruoso, onde os japoneses entoam seu refrão em um dos momentos mais animais do disco. A propósito, a trinca que abre o show é uma daquelas que dispensam comentários. Até aqui, o disco já valeria à pena.
Os acordes iniciais de “The Quest for Tanelorn” anunciam mais uma paulada, em uma música com andamentos ora lentos, ora acelerados e o refrão cantando em uníssono pelo público é simplesmente de arrepiar. Aqui, abrimos um parêntese: A qualidade sonora de Tokyo Tales é simplesmente impecável. Com sua produção cristalina, numa época onde os recursos em nada se comparam aos de hoje, o quarteto pode se orgulhar de ter lançado um dos melhores discos ao vivo do início dos anos 90. A propósito, que cozinha muito bem entrosada.
Abram alas para “Goodbye My Friend” onde a banda manda seu melhor momento Speed/Power, em mais uma aula de pancadaria para uma plateia ávida por Heavy Metal. Precisa dizer que o coro feito pelos fãs no refrão causa arrepios na espinha? A avalanche de riffs em “Time What Is Time” e sua pegada totalmente Thrash Metal é um dos melhores momentos do show. Destaques para a dupla Olbrich & Stauch. Enquanto um destrói sua bateria o outro destila riffs e solos excepcionais.
Segundo a banda, a sonoridade de “Follow The Blind” foi inspirada nos americanos do Testament. Ouvindo a versão ao vivo de “Majesty” talvez esta impressão seja melhor captada, uma vez que os riffs de guitarras e a velocidade da bateria de fato lembre nomes como Metallica, Overkill e Testament, quando estes também iniciavam suas carreiras. Com sua introdução trazendo trechos de uma musiquinha de Parque de Diversão, talvez tenhamos em “Majesty” a música mais agressiva e mais rápida do Blind Guardian. E sim, os japoneses entoam o refrão em alto e bom som, abrilhantando ainda mais esta que se transformou em um dos clássicos dos “Guardiões Cegos”.
E já que falamos em riffs, agressividades e clássicos, falemos de “Valhalla” uma das músicas mais espetaculares na carreira dos alemães. Com seu refrão grudento e pegajoso, riffs matadores e aquela combinação perfeita entre o Heavy e o Speed Metal, temos aqui não apenas um clássico da banda, mas um verdadeiro hino, obrigatório em todos os shows do quarteto. E o que dizer dos nipônicos entoando aquele refrão monstruoso?….”Valhalla, Deliverance, Why’ve you ever forgotten me..Valhalla, Deliverance, Why’ve you ever forgotten me..Valhalla, Deliverance, Why’ve you ever forgotten me..Oh oh oh, Valhalla..”. É necessário falar sobre a química entre banda e público? Acredito que não.
Se “Valhalla” proporcionou o momento mais espetacular do show, o que dizer de “Welcome To Dying”, uma das músicas mais espetaculares da banda? O melhor teria que ser deixado para o final (e o assim o fizeram), onde Hansi anuncia “Welcome To Dying” como a última música do setlist e o público indo ao delírio (por motivos óbvios) afinal de contas o show encerra com uma das melhores (senão a melhor) música do poderoso Tales From Twilight World. Embora a inclusão de “The Last Candle” no setlist não fosse uma má ideia, mas sabe-se lá porquê, ela foi deixada de lado.
Com a bateria bombástica e destruidora de Thomas Stauch, somos agraciados com uma das melhores músicas do grupo. Assim como na versão em estúdio, os riffs, os solos e a bateria em forma de rolo compressor, estão lá. Alguém aí tem dúvidas de que o público daria aquela “forcinha” no refrão? Absurdamente lindo. Destaque para a performance perfeita de Hansi Kürsch, dono de vocais agressivos, precisos e únicos.
Claro que o show teria o famoso Bis e ele não poderia começar de forma melhor, senão com os acordes da estupenda “The Lord Of The Rings” e suas melodias épico medieval em um dos momentos serenos e geniais do disco. Destaque para as linhas de teclados de Marc Zee, músico convidado que também engrossou os coros e os backing vocals.
“Lost In The Twilight Hall”, retoma a veia Heavy/Speed da banda e mais uma vez o público japonês faz a diferença, respondendo em uníssono e mandando bem no refrão, numa espécie de vocais de apoio/backings vocals para Hansi Kürsch. Que coisa linda isso aqui.
Em clima de festa, o show chega ao final com a dançante “Barbara Ann”, música originalmente gravada em 1958 pelo quinteto americano The Regents e que convenhamos, ficou bem bacana (e divertida) na versão dos alemães. Mais que um disco obrigatório e oficialmente o primeiro ao vivo do quarteto, “Tokyo Tales” é aquele registro obrigatório na Cdteca de qualquer amante do Heavy/Power/Speed Metal e principalmente aos aficionados pela banda.
Outros trabalhos viriam em seguida, porém o setlist de “Tokyo Tales” é o que podemos chamar de PERFEITO.
Você pode até não gostar da música atual do Blind Guardian, porém, é inegável a importância que álbuns como Battalions Of Fear, Follow The Blind, Tales from the Twilight World, Somewhere Far Beyond e Imaginations From the Other Side, foram importantes para as bandas de Melodic Power Metal que surgiram nos anos seguintes. Poucas bandas conseguem criar um estilo próprio e servir de influência para novos nomes. Sejamos francos? Esses caras conseguiram.
Integrantes:
- Hansi Kürsch (baixo e vocal)
- Marcus Siepen (guitarra)
- André Olbrich (guitarra)
- Thomas Stauch (bateria)
Faixas:
- 1. “Inquisition”
- 2. “Banish From Sanctuary”
- 3. “Journey Through the Dark”
- 4. “Traveler In Time”
- 5. “The Quest For Tanelorn”
- 6. “Goodbye My Friend”
- 7. “Time What Is Time”
- 8. “Majesty”
- 9. “Valhalla”
- 10. “Welcome to Dying”
- 11. “Lord Of The Rings”
- 12. “Lost In the Twilight Hall”
- 13. “Barbara Ann”
Redigido por Geovani Vieira
Bons tempos, valeu!!!!