Quando surgiu no início da década de 70, o Black Sabbath causou verdadeiro burburinho entre parte da sociedade britânica. Principalmente os mais puristas e tradicionalistas sentiram-se, no mínimo, intimidados com a sonoridade densa, o visual soturno e as temáticas assustadoras que a banda trazia.
Com um nome desses – oras, Black Sabbath é um nome forte pra caramba, vamos concordar – e uma capa que trazia um cenário sinistro com uma bruxa mais sinistra ainda espreitando, certamente, não poderia ser coisa boa. Foi o que religiosos fanáticos pensaram na época, chegando inclusive a perseguir o grupo por isso.
Se pensarmos na sonoridade, aí que não fica qualquer dúvida. A chuva caindo torrencial, trovões ecoando ao fundo, os sinos e, minha nossa, aquele riff capaz de causar arrepios em qualquer ser humano. Olhando para tudo isso, é fácil chegar a uma conclusão que deve se tratar de uma banda satanista, não é mesmo?
Nem sempre é o que parece! E no caso do Black Sabbath…
O grupo carregou essa alcunha durante muito tempo. Até mesmo nos dias de hoje e dentro do próprio público roqueiro, o Sabbath é visto por muitos como uma banda que trata de assuntos ligados ao cara lá de baixo, se é que você me entende…
Mas espere um pouco, deixe-nos examinar isto a fundo.
Ozzy Osbourne encerra todos os seus shows com um estrondoso, “god bless you all”, não é mesmo? E Tony Iommi carregando aquele crucifixo católico durante toda sua carreira soa suspeito para você? Ei, espere, o que esta letra quer dizer? “After Forever” soa quase como um hino de louvor gospel!
Parece que temos alguns equívocos sendo cometidos aqui. Mas felizmente, o baixista Geezer Butler, responsável por boa parte das letras do Black Sabbath, resolveu explicar o que realmente aconteceu naqueles primeiros dias e como as pessoas foram levadas ao engano de classificá-los como uma banda satanista.
Geezer concedeu uma nova entrevista para a revista Life Minute e assumiu que os membros clássicos eram apaixonados por temas de terror e pela estética macabra. Mas que a alcunha de ligação com o satanismo em grande parte veio do marketing e não da intenção real da banda.
Embora o nome do grupo e algumas imagens tenham gerado acusações de satanismo para o Black Sabbath, Butler usou de ironia para falar dessas afirmações. Ele explicou como músicas como “After Forever” carregavam temas profundamente espirituais e cristãos:
“Eu acho que Muitas coisas foram mal interpretadas, apenas por causa do nome da banda, Black Sabbath. veja A música ‘After Forever’, ela É a coisa mais cristã que você poderia ouvir. Trata-se de perder a fé. As pessoas pensam que perderam a fé e, no leito de morte, o que vão fazer no leito de morte? Será que vão adquirir a fé e de repente acreditar na coisa toda de novo ou não?”
Sobre a clássica faixa homônima, Butler revelou:
“E a música ‘Black Sabbath’ era contra a magia negra. Porque havia uma grande onda de magia negra acontecendo na Inglaterra no final dos anos 60, todo mundo estava se envolvendo com magia negra e satanismo e todo esse tipo de coisa. a música ‘Black Sabbath’ estava na verdade alertando as pessoas sobre não entrar na magia negra e no satanismo.”
Sobre como a música do Black Sabbath foi interpretada nos EUA, ele revelou que foi algo diferente:
“ninguém realmente se importava com isso na Europa e na Inglaterra. Então, quando cheguei à América, não pude acreditar o quão grande o Cristianismo ainda era. E todas essas pessoas que estavam tentando transformar letras em algo pró-Cristianismo. Eles tentaram fazer algo contra nós, mas eles nos interpretaram completamente mal.”
Crucifixos contra o mal
Em seu livro, o guitarrista do Black Sabbath, Tony Iommi, menciona que por conta deste equívoco ocorrido no início da carreira, a banda foi convidada para participar de diversos grupos ligados a magia negra e ao satanismo, mas recusou todos os convites.
Em um destes convites, quando os músicos recusaram a oferta de se associarem ao culto, nesse ínterim, foram prontamente amaldiçoados pelos participantes. Pode soar bobo, mas Iommi disse que todos ficaram com medo na época:
“Levamos isso muito a sério. Foi aí que começamos a usar nossas cruzes”
Em 2019, Geezer confirmou a história contada por Iommi no livro. Dessa forma, em entrevista ao Louder Sound, Geezer foi questionado por que a banda sempre usava pingentes em formato de cruz no pescoço. Ele disse:
“Existia uma organização de magia negra que queria que tocássemos em um círculo de pedras. Dissemos não – éramos contra Satã, e não o promovíamos de fato – então eles nos lançaram uma maldição.”
Em uma entrevista ao The Weeklings, Geezer foi questionado sobre como seus colegas de banda se sentiram ao ver a letra que ele escreveu para “After Forever”. O baixista disse:
“Eles gostaram. Nós todos fomos educados na religião cristã. Todos nós acreditamos em Deus.”
Pois é, caro amigo leitor, a partir de agora nunca julgue um livro por sua capa.