Tobias Sammet é um dos maiores compositores do Power Metal e certamente nada pode tirar isso dele. Após fazer sucesso com o Edguy, Sammet conseguiu emplacar o Avantasia de uma forma que poucos imaginariam.
Se pararmos para pensar, é a única grande Metal Opera realmente duradoura e que nunca deixou de ser grandiosa. Desde os primeiros discos, os convidados especiais foram sempre músicos da primeira prateleira e isso nunca retrocedeu. As turnês se tornaram gigantes, os shows são experiências realmente incríveis e os álbuns seguem com padrões elevados mesmo que uma boa parcela do público se recuse a admitir isso.
Em um post feito nas suas redes socias no ano passado, Tobias foi um tanto irônico e, dessa forma, deixou transparecer que sofria algum tipo de pressão (seria da gravadora?). Foi algo enigmático onde os fãs mais atentos apenas perceberam que algo estava acontecendo, mas não entenderam direito o que era. Coincidência ou não, pouco tempo depois o Avantasia deixou a Nuclear Blast e, desse modo, assinou com a Napalm Records.
Em uma nova entrevista concedida a David E. Gehlke do Blabbermouth, o líder do Avantasia esclareceu um pouco sobre o que aconteceu nos últimos tempos. A princípio, ele mencionou a insegurança que tinha quando era mais jovem e como isso se virou ao seu favor mais de 30 anos depois passando pelos mesmos processos. Ele disse:
“Lembro que depois que fiz as primeiras demos do Edguy e estávamos trabalhando na segunda, eu disse a Jens Ludwig, ‘não tenho certeza se minhas músicas serão tão boas quanto as primeiras’. Enquanto isso, 33 anos depois, pelo menos tenho experiência para saber que já lutei e duvidei de mim mesmo antes e sempre deu muito certo. É muito razoável pensar que haverá outros discos do Avantasia e, novamente, será o disco do século (Risos).”

O entrevistador insentivou Sammet ao dizer que ele realmente precisa se sentir dessa maneira. Afinal, por que fazer isso durante tanto tempo se não for esse o pensamento? Tobias respondeu:
“Absolutamente. Tenho que te dizer: Não é sobre o que eu falo para outras pessoas. Não é tanto sobre o produto que eu entrego. Tenho que dizer: Sendo um músico, a maior alegria que eu obtenho é do que eu faço na frente do meu piano. Estou sentado lá e despejando meus pensamentos, emoções e sentimentos. Qualquer nuvem negra ou céu ensolarado que eu tenha pairando sobre minha cabeça eu transformo em música. É assim que eu processo. É como terapia.
Então, percebendo, ‘oh, essa foi uma ótima melodia’, ‘essa é uma ótima harmonia’, ‘oh, isso vai ser um ótimo refrão’. Ter todas as coisas se juntando, todos os aspectos de uma boa música se juntando na sua cabeça, ouvir o que a bateria está fazendo, as guitarras, aqueles momentos, aquele processo inocente e criativo, é o que eu acho mais precioso hoje em dia. Então, é claro, o disco é um subproduto dessa autoterapia. Tenho muito orgulho do que faço. Sou mais grato do que orgulhoso. Sou grato por poder processar meus pensamentos dessa forma, em vez de ter que ver um psiquiatra ou nadar com golfinhos.”
‘Otimista’ é frequentemente confundido com ‘alegre’
Questionado se o novo álbum, “Here Be Dragons”, possui uma vibração mais otimista, o músico concordou. E foi nesse momento que, inesperadamente, podemos perceber qual o tipo de pressão que Sammet estava sofrendo. Ele respondeu o seguinte:
“Com certeza. ‘Otimista’ é frequentemente confundido com ‘alegre’ e eu não gosto desse termo, ‘Happy Metal’. Tem uma grande variedade de humores. É sombrio em algumas passagens e é emocionante e aventureiro em outras. Existem todos esses tipos diferentes de humores, mas o que posso dizer é que é um disco muito forte. Não é pesado liricamente. A maneira como abordei o álbum foi bem diferente dos dois anteriores. Eu tive que tirar alguns pensamentos pesados da minha mente. Era sobre essa criatura incompreendida que estava entrando em colapso sob a pressão e algumas das merdas que recebi, também por não fazer um disco do Edguy, que algumas pessoas achavam que eu deveria fazer.
Não estou falando sobre meus companheiros de banda. Estou falando sobre a concepção geral de mim perante ao público e como eu decepcionaria as pessoas e não faria o que deveria fazer — todo esse tipo de coisa. Eu disse: ‘Ninguém trilhou o meu caminho. Ninguém pode julgar o quão perto eu estava de me esgotar por 10 anos e o quão sobrecarregado eu estava’. Ninguém parecia se importar. Eu tinha que tirar esses pensamentos do meu peito. Estava em ‘Moonglow’ e ‘A Paranormal Evening With The Moonflower Society’. Uma vez que tirei essa mentalidade do meu sistema com esses discos, é como eu disse, a música é muito importante para eu tirar as coisas do meu peito e olhar para frente e limpar minha mente.”

O músico ainda comenta como o processo de composição do novo trabalho foi mais leve e permitiu explorar novas formas de criar para o Avantasia sem se atrelar a fórmulas:
“Eu acho que, com esse disco, eu estava sentado diante de uma tela em branco. Eu até tomei uma decisão corajosa. Eu não acho que seja necessariamente corajosa, mas é uma decisão que não era de se esperar. Eu disse, ‘Ok, pela primeira vez na história do Avantasia, eu não vou inventar um conceito’. Eu tinha essa música, ‘Here Be Dragons’, que era meio que um resquício de um disco anterior, bem, não a música toda, mas partes dela sobraram do álbum anterior. Eu pensei que ‘Here Be Dragons’ era um título tão bom. Ele vem de um antigo mapa marítimo para indicar território desconhecido como um aviso: ‘Não venha aqui. Pode haver dragões. Lá espreita o inimaginável’. Eu pensei, ‘Parece um convite’. Deixe-me me jogar no processo de trabalho. Criar um álbum. Escrever músicas, músicas individuais, sem ter a bola e a corrente que um conceito ou uma ópera rock às vezes são.
Eu só queria me jogar na aventura e compor como se estivesse compondo para uma banda. Parecia tão natural. De repente, me senti confortável até mesmo permitindo um lado longo e oculto de mim mesmo, esse meu lado irônico e bobo na música novamente. Como uma música como ‘Creepshow’. Eu não teria feito isso no Avantasia por sete anos. Agora, eu estava confiante. A vida é muito curta para se preocupar com o que você tem permissão para fazer, especialmente quando é o mundo que você criou. Não quero dizer que sou o ditador do Avantasia. Sou o rei benigno. Isso soa muito melhor (Risos). Se você falar com meus companheiros de banda, não sou um ditador. Sou um rei benigno. Foi assim que abordei e é por isso que o álbum parece tão compacto e vigoroso e edificante e otimista.”
“Here Be Dragons” será lançado no próximo dia 28 de fevereiro, sexta feira, através do selo Napalm Records.
Três singles já foram disponibilizados: “Creepshow”, “Against The Wind” e “The Witch”. Confira: