Você já parou pra pensar sobre quais seriam as maiores polêmicas do Heavy Metal? O gênero sempre foi sinônimo de rebelião, paixão e polêmicas. Atos inconsequentes e atitudes questionáveis fizeram parte do cotidiano de músicos e bandas desde o início. Desde crimes chocantes até batalhas contra a censura, o gênero coleciona momentos que transcenderam a música, moldando sua identidade contestadora, provocativa e capaz de sobreviver às décadas.
É verdade que em algumas ocasiões tivemos limites sendo ultrapassados e, nesta lista, mergulharemos nas 10 maiores controvérsias da história do Metal, explorando os detalhes, o contexto histórico, o impacto na cena e curiosidades que ainda ecoam entre os headbangers.
Prepare-se para uma viagem por episódios intensos e marcantes dentre deste gênero!
O Surgimento do Black Metal Norueguês e o Inner Circle (Anos 90)

No início dos anos 90, a cena Black Metal norueguesa, centrada em Oslo, ganhou notoriedade com o surgimento do Inner Circle, um grupo informal de músicos de bandas como Mayhem, Burzum, Emperor e Darkthrone. Liderado por figuras como Øystein “Euronymous” Aarseth, o grupo promovia ideais anticristãos, rejeitando o comercialismo do Metal no mainstream. A loja de discos de Euronymous, Helvete, era o ponto de encontro do Inner Circle.
A controvérsia explodiu com uma série de incêndios criminosos a igrejas históricas, como a de Fantoft (1992), atribuídos a membros como Varg Vikernes (Burzum). O ápice certamente foi o assassinato de Euronymous por Vikernes em 1993, motivado por disputas financeiras, ideológicas e pessoais. Condenado a 21 anos de prisão, Vikernes e outros membros, como Faust (Emperor), também enfrentaram acusações por crimes violentos.
Esses eventos transformaram o Black Metal em sinônimo de extremismo, atraindo mídia sensacionalista e polarizando fãs. Alguns viam o Inner Circle como uma revolta contra o cristianismo, enquanto outros o condenavam como um grupo criminoso (e de fato eram). A cena ganhou visibilidade global, mas a reputação violenta afastou patrocinadores e limitou shows. Documentários como “Until The Light Takes Us” (2008) e, principalmente, o filme “Lords Of Chaos” (2018), reacenderam o debate, embora fãs critiquem a dramatização.
Veja mais:
A Cena NSBM (National Socialist Black Metal, Anos 90-2020)
O National Socialist Black Metal (NSBM), uma subdivisão controversa dentro do Black Metal, surgiu nos anos 90 com bandas como Graveland (Polônia), Absurd (Alemanha) e Peste Noire (França), que incorporavam ideologias neonazistas e nacionalistas em suas letras. Sendo assim, o movimento ganhou força em círculos underground, com bandas promovendo supremacia branca e antissemitismo, muitas vezes sob o pretexto de “liberdade artística” ou “paganismo”.
A cena gerou repúdio generalizado, com festivais como o Inferno (Noruega) banindo bandas associadas ao NSBM e selos recusando contratos. Fãs e músicos, como os do Gorgoroth, condenaram publicamente o movimento, enquanto outros, como Varg Vikernes, apoiaram ideias próximas, intensificando o debate.

O NSBM dividiu a comunidade Black Metal, com muitos rejeitando qualquer associação com extremismo político. Dessa forma, a polêmica forçou a cena a confrontar questões éticas, levando a boicotes de bandas e debates sobre onde traçar a linha entre arte e ideologia. Apesar de marginal, o NSBM persiste até hoje em nichos underground, alimentado por plataformas online.
Algumas bandas NSBM, como Absurd, apesar de tudo, continuaram a lançar álbuns mesmo com membros presos por crimes, incluindo assassinatos.
Em janeiro deste ano, uma reportagem do Fantástico, na TV Globo, causou enorme polêmica e trouxe o debate sobre a cena NSBM à tona no Brasil. O Mundo Metal escreveu uma matéria sobre a famigerada reportagem, apontando os erros e acertos da mesma. Para ler, clique AQUI.
O Escândalo Sexual de David Ellefson (2021)

Em maio de 2021, David Ellefson, baixista e cofundador do Megadeth, foi demitido após o vazamento de vídeos íntimos em conversas com uma fã de 19 anos. As imagens, capturadas sem consentimento, circularam nas redes sociais, inclusive, gerando acusações de comportamento inadequado. Dave Mustaine, líder da banda, anunciou a saída de Ellefson, citando a necessidade de proteger a imagem do Megadeth, que estava finalizando o álbum “The Sick, The Dying… And The Dead!”.
Ellefson negou qualquer ilegalidade, afirmando que as interações foram consensuais, e processou a pessoa responsável pelo vazamento, alegando extorsão. É claro que isso não foi o suficiente para limpar a barra do músico, já que boa parte dos fãs evidenciaram o fato do músico ser casado, ter filhos, e ainda por cima atuar como pastor/pregador, gerindo cultos que ele batizou como “Mega Life”. O oposto do conhecido “Practice What You Preach”, não é mesmo?
O escândalo dividiu fãs: alguns defenderam Ellefson, argumentando sobre a invasão de sua vida pessoal, enquanto outros criticaram sua conduta como figura pública. A demissão marcou o fim de uma era para o Megadeth, e Ellefson formou bandas como Kings Of Thrash, Dieth, The Lucid, além de ter se envolvido em muitos outros trabalhos e projetos. Apesar de nenhum deles ter realmente emplacado qualquer coisa que chegue ao menos próximo do sucesso, manteve o músico ativo na cena.
O caso reacendeu discussões sobre privacidade e a pressão da cultura do cancelamento no Metal. Veja mais sobre o caso clicando AQUI.
A Prisão de Tim Lambesis (2013)

Em maio de 2013, Tim Lambesis, vocalista do As I Lay Dying, foi preso em San Diego, Califórnia, acusado de tentar contratar um assassino de aluguel para matar sua ex-esposa, Meggan Murphy. O plano foi descoberto em resumo quando Lambesis abordou um policial disfarçado, oferecendo US$ 20 mil pelo crime. Ele se declarou culpado em 2014, foi condenado a seis anos de prisão e libertado em 2016.
Lambesis atribuiu seu comportamento ao uso de esteroides e problemas pessoais, mas a justificativa foi amplamente rejeitada. O caso certamente chocou a cena Metalcore, especialmente por Lambesis liderar uma banda cristã, conhecida por letras de superação. O As I Lay Dying entrou em hiato e tentativas de retorno após a soltura enfrentaram resistência de fãs e ex-membros, que questionaram sua redenção.
O escândalo levantou debates sobre saúde mental e a imagem fake de algumas bandas cristãs no Metal. Após a prisão, Lambesis declarou que havia abandonado o cristianismo, o que gerou ainda mais controvérsia entre os fãs. Recentemente, o músico se envolveu em uma nova polêmica, desta vez, tendo um vídeo vazado onde ele agride e promove maus tratos a seu cachorro.
Para saber mais sobre este escândalo, clique AQUI.
O Assassinato de Dimebag Darrell (2004)

Em 8 de dezembro de 2004, Darrell Abbott, mais conhecido como Dimebag Darrel, lendário guitarrista do Pantera e Damageplan, foi assassinado durante um show em Columbus, Ohio. O atirador, Nathan Gale, um fã desequilibrado, subiu ao palco e disparou contra Dimebag, matando-o e outras três pessoas, incluindo um segurança, antes de ser abatido pela polícia.
Gale, obcecado pelo Pantera, acreditava que a banda “roubava” suas ideias e culpava Dimebag pelo fim do grupo.
A tragédia abalou a comunidade Metal, levando a homenagens como o evento anual “Dimebash” e igualmente reforçando a necessidade de mais segurança em shows. O assassinato marcou o fim do Damageplan e intensificou o luto pela dissolução do Pantera. Fãs e músicos continuam celebrando o legado de Dimebag.
Vinnie Paul, irmão de Dimebag e baterista do Pantera, nunca superou a perda e recusou reuniões da banda até sua morte em 2018. Vinnie correlacionava uma entrevista do vocalista Phil Anselmo concedida alguns dias antes com o fatídico acontecimento.
O Mundo Metal tem uma matéria onde você pode ler a entrevista de Anselmo na íntegra e tirar as suas próprias conclusões. Para acessar clique AQUI.
Veja mais:
A Polêmica Racial de Phil Anselmo (2016)
Em 22 de janeiro de 2016, durante o Dimebash, evento em homenagem a Dimebag Darrell, Phil Anselmo, na época ex-vocalista do Pantera, fez um gesto nazista e gritou “white power” ao público. O incidente foi capturado em vídeo e dessa maneira, viralizou na internet e gerou indignação. Anselmo pediu desculpas, atribuindo o ato ao excesso de álcool, ao clima pesado e ao humor nos bastidores daquele dia, mas a justificativa foi amplamente criticada.
Diversas bandas e festivais cortaram laços com ele na época e shows do Down foram cancelados. A polêmica reacendeu discussões sobre racismo no Heavy Metal, com artistas como Robb Flynn denunciando Anselmo publicamente. A reputação de Anselmo foi severamente abalada e muitos fãs questionaram sua sinceridade. O incidente expôs tensões raciais latentes na cena Metal.

Apesar de diversos músicos terem se manifestado criticando Phil na época, grande parte destes artistas parecem já ter superado o ocorrido. Phil Anselmo nunca repetiu o gesto novamente, mas ficou marcado para sempre. Ele ainda é odiado por uma quantidade considerável de headbangers.
Anselmo gravou um vídeo de desculpas e pediu uma segunda chance, mas a reação negativa continuou, com alguns fãs boicotando seus projetos.
Veja mais:
O Julgamento do Judas Priest (1990)
Em 1990, o Judas Priest enfrentou um processo em Reno, Nevada, acusado de inserir mensagens subliminares na música “Better By You, Better Than Me” (cover do Spooky Tooth, do álbum “Stained Class”). A família de dois jovens, que tentaram suicídio em 1985 (um morreu), alegou que a música continha comandos como “do it” que incitavam o ato.

Rob Halford e a banda testemunharam, demonstrando que os sons eram acidentais. O caso foi arquivado, mas gerou ampla cobertura midiática. Desse modo, o julgamento foi um marco na luta contra a censura no Metal, destacando a perseguição do gênero nos anos 80. A absolvição fortaleceu a imagem do Judas Priest como defensores da liberdade artística, mas reforçou o estigma do Metal como “perigoso”.
Halford precisou cantar trechos da música ao contrário no tribunal, em uma cena que certamente virou ícone da resistência do Metal ante as tentativas de censura.
O PMRC e a Censura contra o Metal (1985)
Em 1985, o Parents Music Resource Center (PMRC), liderado por Tipper Gore, esposa do senador Al Gore, lançou uma campanha contra o Heavy Metal, acusando bandas como W.A.S.P., Venom e Twisted Sister de promoverem violência, sexo e satanismo. A famigerada “Filthy Fifteen”, uma lista de músicas consideradas ofensivas, incluía faixas como “We’re Not Gonna Take It” (Twisted Sister) assim como “Eat Me Alive” (Judas Priest) e outras.
Dee Snider testemunhou no Congresso, defendendo a liberdade de expressão em um discurso memorável. A pressão do PMRC levou ao selo “Parental Advisory” em álbuns, que se tornou um símbolo de rebeldia para o Metal. O selo, ao contrário do que imaginavam os congressistas, aqueceu a vendagem dos álbuns. A campanha expôs a hostilidade cultural contra o gênero, mas uniu bandas e fãs contra a censura.

O legado do PMRC ainda é debatido em discussões sobre liberdade artística. Dee Snider foi elogiado por sua articulação no Congresso, surpreendendo políticos que esperavam um “roqueiro ignorante”, mas se depararam com uma pessoa extremamente inteligente e sagaz, capaz de colocar todos ali em cheque.
O Mundo Metal escreveu um artigo completo sobre o PMRC, para ler clique AQUI.
Mensagens Subliminares em “Suicide Solution” de Ozzy Osbourne (1985)
Em 1985, Ozzy Osbourne foi processado pela família de John McCollum, um jovem que se suicidou após ouvir “Suicide Solution”, do álbum “Blizzard Of Ozz”. Os pais alegaram que a música continha mensagens subliminares, como “get the gun, shoot, shoot, shoot”, que incitavam o suicídio.

Ozzy defendeu que a canção era sobre os perigos do alcoolismo, inspirada em sua própria luta, e o caso foi enfim arquivado por falta de provas. A polêmica intensificou a cruzada do PMRC contra o Metal e reforçou a imagem de Ozzy como figura provocadora e perigosa para os jovens.
O processo destacou o pânico moral dos anos 80, mas também solidificou o status de Ozzy como um ícone de sua época. O baixista Bob Daisley revelou que a música foi escrita em minutos, sem intenção de colocar mensagens subliminares.
Veja mais:
Show do Megadeth censurado na China (2015)
Em outubro de 2015, durante uma turnê pela Ásia, o Megadeth enfrentou censura em um show em Pequim, na China. As autoridades exigiram a remoção de músicas como “Holy Wars” e “Angry Again” do setlist por terem letras consideradas politicamente subversivas assim como “perigosas”.
Mesmo com o repertório adaptado, minutos antes do show, Dave Mustaine e banda foram informados que mais músicas não poderiam ser tocadas pelo mesmo motivo. Dave então resolveu tocar as músicas somente com sua parte instrumental e sem os vocais. Foi o que ocorreu em “Skin O’ My Teeth”, “Take No Prisioners” e “Poison Was The Cure”, que apesar de não terem suas letras cantadas, mesmo assim irritou as autoridades. A banda precisou parar o show e sair do local imediatamente após tocarem “Peace Sells” (com as letras), pois havia um risco real de que poderiam ser presos em cima do palco.

Sem explicações claras, frustrando fãs e músicos, Dave Mustaine expressou decepção, mas evitou críticas diretas ao governo chinês. O incidente destacou os desafios de bandas ocidentais na China, onde o governo inegavelmente controla rigorosamente conteúdos culturais. A censura gerou debates sobre liberdade artística assim como limitou a expansão do Megadeth no mercado asiático.
Fãs chineses protestaram online, mas a cena Metal local permanece restrita até os dias atuais. O Metallica enfrentou restrições semelhantes na China em 2017, não podendo tocar “Master Of Puppets” e outras canções, dessa forma, sugerindo um padrão de censura. Outra banda que precisou mudar versos de suas letras para poder se apresentar foi o Iron Maiden. Recentemente, Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, revelou em uma entrevista que o grupo está banido de tocar no país por conta do conteúdo lírico das músicas.