Na série “Discos Cinquentões”: Led Zeppelin – “Houses of The Holy” (1973)
Tentar imaginar o mundo daqui a cinquenta anos é algo que provavelmente não passa em nossas mentes.
Imaginar as consequências e as mudanças que irão acontecer daqui a dezoito mil, duzentos e cinquenta dias é algo que foge de nossa imaginação e o simples fato de apenas pensar já causa um curto circuito em nosso cérebro.
Agora, voltemos no tempo e imaginemos uma banda entrando em estúdio e se preparando para gravar um disco a exatos cinquenta anos atrás, mais especificamente em 1973. Imaginou?
Numa época onde a tecnologia avançada em nada se compara aos dias atuais e as gravações seguiam os padrões analógicos, embora as gravadoras e os estúdios já pensassem e se preparassem para a era digital que viria nos anos subsequentes (na segunda metade dos anos 80) discos relevantes foram lançados e, em alguns casos, estes se tornaram clássicos absolutos.
Introdução
Neste quadro, vamos falar de alguns dos discos que completam cinquenta anos de vida, envelheceram bem, sendo os “vovôs” da música.
Uma abordagem sobre importância, relevância, o impacto causado na época de seu lançamento, os números de vendas e claro, as influências que estes registros causaram e causam até hoje na história da música, influenciando bandas de gerações futuras.
Apenas para constar: As primeiras ideias para o desenvolvimento do CD se apresentaram no início dos anos 80 por empresas como a Sony e a Phillips. O sucesso da nova mídia veio na metade dos anos 80. Em 1988 as vendas de CD ‘s ultrapassaram os velhos e queridos LP’ s.
Em nosso primeiro capítulo falaremos sobre “Houses Of The Holy” do quarteto britânico Led Zeppelin.
Lançado oficialmente em 28 de março de 1973, “Houses Of The Holy” é o quinto trabalho de inéditas do quarteto britânico, formado por Robert Plant (vocal), Jimmy Page (guitarras), John Paul Jones (baixo e teclado), assim como o saudoso John Bonham (bateria).
Jimmy Page & Eddie Kramer, juntos na produção
Produzido pelo guitarrista Jimmy Page, mixado por Eddie Kramer (Rolling Stones, Eric Clapton, Beatles, Jimmy Hendrix, Kiss, etc) e contendo oito faixas inéditas divididas em aproximadamente 41 minutos de duração, o sucessor de “Led Zeppelin IV”, álbum que atingiu a 2a posição da Billboard Americana, “House Of The Holy” marca algumas mudanças na sonoridade da banda que permanecia fazendo seu Rock’n Roll de outrora, porém experimentando e flertando com outros estilos.
Gravado no período de janeiro a agosto de 1972, nos estúdios Stargroves, na Inglaterra, mixado no Olympic Studios (Londres) e no Electric Lady Studios (Nova York), o disco foi o último registro lançado pela gravadora Atlantic Records, já que a banda criaria sua própria gravadora, a Swan Song Records, no ano seguinte, em 1974.
Mudanças na sonoridade
Apesar de um disco tipicamente Rock ‘n Roll, “Houses Of The Holy” mostra o Led Zeppelin mergulhando em estilos como o Reggae (D’yer Mak’er), Funk (The Crunge), aquele feito com maestria por artistas como George Benson, Heatwave, The New Mastersounds, Bootsy Collins, Kool and The Gang, Wild Cherry, James Brown, etc, além do uso de sintetizadores (No Quarter) e guitarras totalmente influenciadas pelo Blues.
Os números convicentes de “Houses Of The Holy”
Bem recebido, o álbum atingiu a 1a posição da Billboard Americana, emplacou os singles “D’Yer Mak’er” e “Over The Hills And Far Away” na parada da Billboard Pop Singles Hot 100 (20a e 51a posição respectivamente), contemplando a banda com 11 discos de platina pelas vendagens superiores a 11 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos.
O filme: The Song Remains The Same
A turnê de divulgação dos shows foram filmados resultando no álbum ao vivo e também o filme “The Song Remains The Same”, dirigido por Peter Grant, empresário da banda e produzido por Peter Cliffon e Joe Massot.
As gravações de The Song Remains The Same ( o filme) ocorreram em 27, 28 e 29 de julho de 1973. O local foi o Madison Square Garden, em Nova Iorque.
A estreia nos cinemas americanos aconteceu em 20 de outubro de 1976 e duas semanas depois em Londres, Inglaterra.
O filme do Led Zeppelin já era um projeto que vinha de 1970
A ideia de gravar um filme já havia sido cogitada pela dupla Peter Whitehead e Stanley Dorfman. A primeira tentativa aconteceu em 9 de janeiro de 1970 quando o quarteto se apresentou no Royal Albert Hall. Porém a iluminação era medíocre e o filme foi para o arquivo.
Além da música e das experimentações de “Houses Of The Holy”, algumas peculiaridades fazem parte da história do disco.
Uma delas está na arte da capa inspirada no romance “Childhood ‘s End” de Arthur C. Clarke, que mostra uma família vinda do mar. Em seguida, escalando uma calçada conhecida como “Calçada dos Gigantes”. Este local está a cerca de 3 quilómetros da vila de Bushmills, condado de Antrim, na Irlanda do Norte.
A capa é a compilação de várias fotografias tiradas em Giants Causeway (Irlanda do Norte). As fotos são do fotógrafo Aubrey Powell da Hipgnosis, grupo britânico de design gráfico artístico especializado em criar arte de capa para álbuns de músicos e bandas de rock. Dentre seus mais notáveis trabalhos, UFO, Yes, Wishbone Ash, Pink Floyd, 10CC, Bad Company, Genesis, The Alan Parsons Project, dentre outros.
O título e o seu significado
O título do disco segundo os músicos, é uma homenagem aos seus fãs que estiveram em vários locais/shows, cuja banda batizou de “Casa do Sagrado”. Ele (o álbum) representa o ponto de partida para novas sonoridades mostrando como o quarteto começou a usar mais técnicas de produção ao gravar suas canções.
Outra homenagem aos fãs aparece no encerramento do disco. A faixa “The Ocean”, de acordo com a banda, é uma homenagem ao “Oceano” de fãs que assistiram aos shows do Led Zeppelin.
Durante as sessões de gravações, a banda gravou as músicas:
“Walter ‘s Walk”, “The Rover”, “Black Country Woman” e “Houses Of The Holy”, porém elas ficaram de fora da tracklist oficial do disco.
Salvo “Walter ‘s Walk”, as demais canções integrariam Physical Grafitti, álbum subsequente editado em 1975.
Não obstante, o quarteto foi contemplado com disco de ouro em países como Argentina, Alemanha, Espanha. Assim como também recebera ouro duplo na França, disco de platina no Reino Unido e platina duplo na Austrália.
Em seu mais de meio século de existência, “Houses Of The Holy” figura como um dos discos mais importantes (e aclamados) na história do Rock Mundial. Sendo responsável por influenciar bandas que buscaram em sua musicalidade a fórmula simples, porém perfeita de se fazer boa música.
Algumas observações acerca do disco:
- Parte do álbum foi gravado em 1972 em Berkshire, sudeste da Inglaterra em uma área rural, na antiga propriedade de Mick Jagger do Rolling Stones.
- Em 1974, o álbum recebera a indicação ao Grammy Awards na categoria de Melhor Álbum (não venceu). Mas em 2003, sua capa foi classificada como número 6 na lista 50 Melhores Capas de Álbuns da VH1.
- Houses Of The Holy foi o primeiro álbum do grupo a conter um título que não fosse o homônimo, tal qual os trabalhos anteriores, porém assim como os demais registros, nem o nome da banda nem o título do álbum estavam impressos na capa.
- As gravações de The Song Remains The Same ( o filme) ocorreram em 27, 28 e 29 de julho de 1973, no Madison Square Garden, em Nova Iorque. Enquanto a estreia nos cinemas americanos aconteceu em 20 de outubro de 1976 e duas semanas depois em Londres, Inglaterra.
- Em 1990, a versão em VHS chegou e em 2002, a primeira edição em DVD contendo o filme e um trailer.
Em formato DVD
- Em novembro de 2007, ele saiu no formato DVD uma reedição do filme, incluindo cenas inéditas como bônus, e um DVD extra. A trilha sonora no formato vinil igualmente ganhou lançamento em um conjunto de caixas com 4 unidades em 180 gramas.
- Em 2003, o disco recebeu a classificação em 148° lugar na lista dos 500 Melhores Álbuns, segundo a revista Rolling Stones.
- Em outras listas como a Pitchfork Media, Rock Roll Hall Of Fame, Classic Rock e The Book Of The Rock List, ele aparece na 75a posição da “Top 100 Albums Of 1970’s”, 51a posição na “The Definitive 200: Top 200 Albums of All-Time”, 90a posição na “100 Greatest British Rock Album Ever” e 13a posição na “The Top 40 Albums”.
- A Calçada do Gigante: designação dada a um conjunto de cerca de 40 000 colunas prismáticas de basalto, encaixadas, formando uma enorme calçada de pedras gigantescas, formadas por uma grande massa de lava basáltica, como resultado de uma erupção vulcânica ocorrida há cerca de 60 milhões de anos.
Excelente álbum e excelente resenha. Parabéns, Gigio!
Parabéns! Adorei a resenha. Amo este disco.