Eu gosto muito de afirmar que discos injustiçados não são somente aqueles que tem uma boa qualidade, mas não caíram na graça do público em geral. Para mim um disco injustiçado também é aquele que por algum motivo se manteve obscuro ou esquecido por muitos, ou seja não teve visualização no público em geral. Por isso, muitas boas bandas autorais que se mantém fiéis ao som clássico da velha escola acabam simplesmente sumindo do mapa. Aquele som sujo, aquela bateria simples, vocal realmente marcante, e riffs que parecem ter vindo das mentes de mestres como Hendrix, Page ou Iommi. Eu sinto falta na era atual de ouvir sons assim, as bandas parecem ter trocado o simples pelo difícil, o clássico pelo diferente. Isso não quer dizer que o som tenha ficado ruim, nada disso. Mas aquele gostinho de saudosismo ainda fica em nossa mente, aquela vontade de ouvir um som novo, mas que tenha a mesma fórmula do som antigo. É nessas horas que eu me refugio no Züül. Não importa qual o seu estilo favorito de metal, esses garotos vão agradar a qualquer pessoa, desde quem curte um Metal mais pesado até que curte um som mais melódico.
Vindo dos subúrbios americanos de Illinois, conheci essa banda através de sua bela capa do primeiro álbum, que me chamou atenção pela sua complexidade, parecendo traços grosseiros em um “esboço”, porém completos de uma qualidade incrível, sem falar no logo da banda, que é único, e passa um ar de antiguidade. Sem mencionar que o estilo transcrito na arte se relaciona muito bem com a audição do primeiro álbum de 2010, que se inicia com a ótima “Out of Time” (título do álbum também), que nos traz uma guitarra mais clássica, carregada de overdrive, se mesclando muito bem ao som do baixo, e uma bateria totalmente voltada para clássicos do Hard n’ Heavy, ou músicas da época de ouro do NWOBHM. Mas o que mais me surpreendeu neste álbum foi o vocal, que não se trata de uma voz aguda demais, ou uma voz grave, mas sim uma voz suave e presente, agradável e totalmente diferente de vozes mais comuns no mundo do Metal.
Na audição do álbum contamos com esse estilo maravilhoso do começo ao fim, músicas simples, com baterias rítmicas, bases que predominam o ritmo da música, e um vocal com eco, como o de gravações mais antigas, que nos deixa um pouco mais empolgados, como no caso das músicas “Warhammer”, “Backstreet Crawler”, “Darkness On The Ice”, e “Return To Yagi”. Um disco impecável do começo ao fim, que dá um gostinho de quero mais.

Mas o álbum que realmente mudou a minha mente foi o de 2012, chamado “To The Front Lines”. Para começar, a capa é um espetáculo a parte, literalmente me levando a associar com os trabalhos do Omen e do Brocas Helm. Um pouco mais bem produzido, o disco vem para mostrar que você pode produzir bem um bom compacto sem perder a essência do old school, como mostra a faixa de abertura, a “Show No Mercy”, que realmente não mostra nenhuma misericórdia pra bandinhas que se dizem clássicas. As guitarras da dupla Mike Bushur e Jared Mileger combinam perfeitamente com o resto dos instrumentos da banda, tudo funciona de acordo e sem perder seu estilo próprio. Esse estilo fica ainda mais evidente na segunda faixa do compacto, a majestosa “Guilloutine”. Não é exagero dizer que essa é a canção mais empolgante que já ouvi em anos (no estilo dela), ela resgata todo o valor 70’s, é uma composição rápida, simples, pegajosa, com um refrão extremamente eficaz. Tenho certeza que a ouvir ela, ficará cantarolando o seu refrão sem fim por onde passar. O resto do álbum se torna cada vez mais “épico” e muito bem executado, como na faixa “In The Celar”, que apresenta uma banda madura e que sabe o que quer. Bases pesadas trabalhadas em power accords, e preenchidas com overdrive. A bateria clássica é fenomenal, os duetos de guitarra são fenomenais também, lembrando bem nomes da NWOBHM que marcaram sua época.
“Smoldering Nights” possui uma composição que vai do mais melódico ao rápido de forma progressiva, com solos que são um deleite para o ouvinte. Já “Heavy Lover” é enérgica, contagiante e rápida. Com guitarras contínuas, baixo presente e bateria que aproveita bastante dos chimbals, o vocal inunda a audição com uma qualidade incrível! A voz de Brett Batteau é assustadoramente apaixonante.
Já em “SkullSplitter”, ouvimos as guitarras contínuas abusando de graves e tendo passagens com bastante cavalgadas, o baixo novamente não fica sumido, ele é bem presente e da um toque a mais de peso na obra. A bateria de Morgan Demling não foge ao clássico pedal-caixa-prato, dando ainda mais força a composição. Aquela composição instrumental épica é “Of The Fallen”, e não se enganem que o baixo de Bob Scott é deixado de lado, ele tem papel fundamental em dar peso e profundidade ao som aqui apresentado. Porém, a faixa serve como uma introdução de “Bounty Land”, um épico de 7 minutos com bases cavalgadas e peso na medida certa. Vocais diretos e encaixados com precisão. Guitarras profundas e que com toda certeza irão conquistar você. Um show único em uma faixa, ouçam com moderação, e tentem não se viciar. Para fechar o compacto, ouvimos a acelerada e agitada “Waste of Time”. Assim como a segunda faixa do compacto, ela é excepcional e consegue te transportar diretamente para o início dos anos 80, em algum show underground em um barzinho de procedência duvidosa, com aquela cerveja quente e talvez um petisco mais duvidoso ainda. Mas acima de tudo, aquela música contagiante e que te toca a cada nota. Um espetáculo de arrepiar os pelos do mais insensível dos corações. Um disco literalmente completo e maravilhoso.
Infelizmente a banda apenas lançou alguns singles e foi desfeita em 2016 e reformada em 2017, mas desde então não deu um sinal de vida, apenas shows locais na região de Illinois. Espero de coração poder ouvir algum novo lançamento do quinteto, pois eles tem muito a nos apresentar ainda.
Nota: 9,0
Integrantes:
- Bob Scott (baixo)
- Morgan Demling (bateria)
- Mike Bushur (guitarra)
- Jared Mileger (guitarra)
- Brett Batteau (vocal)
Faixas:
- Show no Mercy
- Guillotine
- In The Cellar
- Smoldering Nights
- Heavy Lover
- SkullSplitter
- Of The Fallen
- Bounty Land
- Waste of Time
Redigido por Yurian ‘Dollynho’ Paiva