Diversos caminhos foram explorados pelas mais variadas banda durante a famigerada década de 90, seja por conta e muito das gravadoras, seja por vontade própria. Mas, entre isso houve aquelas bandas que batiam o pé e não desistiam de suas propostas iniciais, quando fazia o seu barulho em meio à saudosa década de 80. A maior parte delas se viu prejudicada pelo que ocorria de 1993 em diante, por assim dizer. Afinal, um pouco antes tivemos vários presentes sensacionais de várias destas mesmas bandas que lançaram obras primas que perduram e nunca envelhecem de fato por serem realmente incríveis. Porém, é certo dizer que uma grande parcela delas seguiu um novo rumo, mesmo que experimental, para ver se retomavam as rédeas do mundo da música pesada. Quanto ao Sodom, esta se encaixa com perfeição no quesito ‘bandas que honraram a camisa’. Apesar de que isso eu vejo muito mais como humor do que como coisa séria. Até mesmo o Sodom mudou, claro que muito menos que seus compatriotas do Kreator, por exemplo, mas buscou beber de fontes mesmo que mais próximas e familiares ao Thrash Metal. Um dos braços que sempre pertenceu ao Sodom foi e é sua veia Punk, o que causa essa sujeira perfeita e necessária em sua sonoridade. Podemos notar influências mesmo que leves, de Kreator e Destruction, o que deixou as sonoridades mais atuais um pouco mais robustas. Estes são detalhes pequenos que se não ouvir com a devida atenção, passa despercebida até mesmo pelos próprios músicos.
Ao tratar dos músicos, se hoje o Sodom reina soberano ainda mais com a aposentadoria do Slayer e com o Kreator que ainda não lançou o seu novo disco que está a caminho de modo tranquilo e sem nenhum tipo de apelação, Tom Angelripper e sua nova trupe estão indo de vento em polpa, logo após o sucesso obtido com o já considerado clássico por muitos, “Genesis XIX” (2020). Este que vos digita também diria que se trata de um álbum marcante e incapaz de ser ouvido somente uma vez quando posto para tocar. Agora, voltando novamente no tempo, o Sodom parecia prever o que estava por vir na sequência da segunda metade dos anos 90 em diante, e continuou firme em sua jornada no universo do Thrash, explorando todos os elementos contidos nessa magnífica vertente do Metal, e também por conta de sua fidelidade quanto aos riffs poderosos intercalados por linhas de baixo precisas de Tom.
Em 1997 aconteceu mais um estrondo no certame underground através do lançamento de “’Til Death Do Us Unite”, que foi lançado no dia 24 de fevereiro via GUN Records. A engenharia e produção ficaram a cargo de Harri Johns, que também fez os backing vocals para as faixas “Fuck The Police”, “Hanging Judge” e “Hey, Hey, Hey Rock’n Roll Star”, sendo o dono do segundo solo desta última. Além de Tom, o power trio alemão era composto pelo excelente baterista Bobby e pelo super guitarrista Bernemann. Sucessor do álbum “Masquerade In Blood” de 1995, que inclusive passou batido por muita gente, “’Til Death Do Us Unite” traz um título imponente que realmente chama a atenção, isso sem contar a polêmica capa que é bastante conhecida por sinal. Obvio que à época de seu lançamento era uma coisa bem mais normal e aceitável, e que não rendia tantos comentários contrários como vem acontecendo nos dias atuais. Não digo com relação a esta mesma capa, mas com outras capas, além das próprias composições e adereços das bandas. Isso sem contar com as atitudes que são apontadas por imbecis com o claro intuito de prejudicar a carreira de determinado artista ou banda.
Aproveito para dizer que esta capa acabou contribuindo para algumas histórias não tão boas para mim, mas que acabaram resultando em um final tranquilo. Aproveitando este mesmo parágrafo, retrato uma dessas pequenas histórias, dizendo que essa capa quase me rendeu um belo de um cancelamento virtual por conta de uma postagem simples na internet, mais precisamente na rede (anti) social que eu chamo ‘carinhosamente’ de “facembrulho”, por embrulhar coisas boas em pacotes selados e enviar ao calabouço para que ninguém mais veja. A arte da capa como podem notar acima, aparece retratando a barriga de uma mulher grávida e o estômago de um homem pressionando um crânio humano, sendo que também existe outra versão dessa capa que substitui as figuras citadas e apresenta o mascote Knarrenheinz. Eu possuo um exemplar deste álbum, edição autografada pelo próprio Tom Angelripper, e que ao postar como sempre faço com o material que possuo em mãos, veio um comunicado que bania essa minha postagem por constar “conteúdo obsceno e apelativo”, dentre outras coisas nada a ver com nada. Em seguida fui averiguar o que havia ocorrido com minha postagem, e ela estava suspensa. Só não foi bloqueada de fato por eu não ter um agravante de postagens canceladas por “eles”, assim imagino. Isso aconteceu mais de uma vez, simplesmente por conta da capa. Ora, ora! Não pode mostrar isso, mas se tivesse alguma criança fumando um baseado, “tava de boa”, né?! Sim, concordo que exagerei neste comentário, mas se não tiver ninguém para puxar a orelha dessa turma, estaremos perdidos para sempre. Enviei um comunicado perguntando os motivos da proibição da postagem do meu CD, um item pertencente a mim que não agride ninguém por tratar simples e tão somente de arte, pois a música é uma arte conceitual e extremamente livre de amarras. Tanto que é utilizada em um palco, que é reservado e oferecido para a execução das mais variadas e belas artes.
Das vezes em que fui barrado por conta desse disco, eu consegui dar a volta por cima e até hoje mantenho essa foto em um álbum específico, na qual eu gosto de armazenar fotos dos CDs que possuo. Infelizmente a opção de trocar a ordem das fotos sem ter de editar o mesmo foi retirada pelos mandatários “retardas” dessa plataforma que se desintegra dia após dia. Agora, sobre o trabalho contido no álbum em si, não é daqueles álbuns que os adeptos costumam lembrar tanto. “Fuck The Police” talvez seja a canção mais lembrada pelos fãs e uma das mais executadas pelo Sodom em seus shows. A faixa-título, “Wander In The Valley” e “Gisela” também costumam aparecer de vez em quando nas listas de audições do pessoal e também no set list da banda, mas com menos frequência que “Fuck The Police”, até por esta ser verdadeiramente clássica e bastante atual.
O álbum como um todo, traz características do Crossover praticado pelos americanos do Suicidal Tendencies, porém, nos moldes aceitos pelos padrões do Sodom, ou seja, mais pesado, mais ríspido e mais sujo. Poucos citam as influências dos discos mais antigos do Sodom e focam mais nas questões lineares praticadas pela banda, mas até mesmo os mestres do Thrash tradicional possuem suas nuances, mesmo que mais sutis que o convencional. Até por isso o Sodom se destaca por se manter fiel às suas raízes, não que outras bandas do mesmo estilo estejam erradas ao tentarem novos voos por outros caminhos, até por que ninguém sabia para aonde prosseguir. Eram outros tempos e quem vivenciou isso de perto sabe que era muito difícil conseguir êxito, apenas se mantendo na mesma linha sonora sem modificar absolutamente nada em seu repertório criativo. Há quem diga que o Sodom retornou definitivamente ao Thrash através deste que viria a ser o seu oitavo full length à época de seu respectivo lançamento. Entre 1990 e 1996, Tom e seus comparsas buscaram sim novos ares para somar com o seu jeito de tocar. “Better Off Dead”, álbum de 1990, possui músicas mais cadenciadas do que seus antecessores. Já em “Tapping The Vein”, de 1992, os alemães se arriscaram ao juntar elementos do Death Metal em seu som, o que torna esse o álbum mais pesado de toda a carreira, de acordo com muitos fãs e veículos de informação. Em 1994 veio o disco “Get What You Deserve”, bastante influenciado pelo Punk. E por fim, o já citado “Masquerade In Blood (1995), sofreu fortes influências do Groove Metal. Particularmente, até concordo com tais informações, só que no caso do Sodom, estas prováveis influências foram utilizadas sob medida e de modo que não descaracterizasse o som tradicional da banda. Diferentemente do que o Kreator fez ao se aprofundar muito mais em outras direções. E eu acho isso excelente, pois temos os dois exemplos claros de bandas que seguiram caminhos diferenciados, mas que puderam se reencontrar na virada da nova década, e hoje são duas das maiores representantes do Thrash Metal teutônico e mundial.
“Fuck The Police” videoclip
O álbum descrito proporcionou à banda um videoclipe para a faixa “Fuck The Police”, e serviu de reforço para que esse álbum não ficasse perdido nas areias do destino por seus fãs mais assíduos, daqueles que apenas lembram os clássicos “Persecution Mania” e “Agent Orange”, ao mesmo tempo em que bradam aos quatro cantos sobre esta ser a melhor banda de Thrash do planeta. Eu considero como uma das melhores, e a melhor é coisa de momento, pois a melhor para minha persona é aquela que eu estiver ouvindo no exato instante. Não consigo apontar quem é melhor por encontrar coisas boas em várias bandas desse estilo que eu gosto tanto. Sobre o disco de 1997 em si, jamais podemos descartar uma obra que inicia com o dois pés do Robert Garcia na cara do bandido com “Frozen Screams”, e que logo na sequência temos a presença da poderosíssima “Fuck The Police”. Fechando a trinca inicial surge a esplêndida “Gisela” com sua atitude e roupagem Punk, e peso absurdo de ótimo. Depois temos uma “múzga” de nome bem grande e bonito, “That’s What An Unknown Killer Diarized”, mais cadenciada e com linhas de baixo mais aparentes. Se engana quem pense que essa faixa destoa das outras, muito pelo contrário, ela acrescenta e aumenta o tempero do disco.
Sem deixar o ouvinte respirar direito, “Hanging Judge” chega de retro escavadeira consertando todo modismo exacerbado que infesta o quadrante musical que envolve o Metal. Um dos melhores solos do disco é encontrado bem aqui nesta faixa, contribuição do exímio Bernemann. A continuação do álbum é pura empolgação que vem somada graças a mais uma canção de qualidade intitulada “No Way Out”. Se o solo de guitarra anterior era ótimo, este é ainda melhor. E o que dizer de Bobby, que trata o seu kit como um grande domador de bateria. Esse trio realmente soube fazer barulho, e barulho do bom, com toda a certeza. “Polytoximaniac” é a próxima e mantém a chama da pira olímpica acesa e vibrante. Outra mais cadenciada é aquela que leva o nome do disco, “’Til Death Do Us Unite”, sob compassos mais vagarosos com linhas potentes de Tom Angelripper e seu baixo. Mais um solo de respeito providenciado por Bernemann e assim segue o álbum na mais ampla destruição sonora costumeira dos residentes de Gelsenkirchen, terra do tradicional Schalke 04, tradicional time de futebol local.
A continuação da caminhada traz a vibrante “Hazy Shade Of Winter”, e se você a reconheceu está certo, pois se trata de um cover para a clássica canção de Simon & Garfunkel. O álbum completo é composto por quinze músicas, o que assusta o ouvinte mais distraído e também aquele mais canastrão que prefere álbum com nove faixas ou menos. “Suicidal Justice” chega para jogar tais regras inúteis para longe. Sodom sendo Sodom, simples assim. Quem gosta, aplaude de pé. Quem não gosta, toma soco na boca e nem vê. Calma! Sem violência! Alegria, pessoal! A festa está apenas começando e a quadrilha já está dançando! E esta é uma das faixas que mais gosto no álbum. Intercalando com mais uma canção objetiva e sensata, “Wander In The Valley” é uma daquelas canções que alternam entre o mais visceral e rápido com o mais andante sem pressa, mas com a mira perfeita pronta para acertar o alvo em cheio. Deixarei o restante das canções ao deleite dos excelentíssimos senhores leitores e das magnânimas donzelas apreciadoras da boa “múzga”. O dito “não há faixas ruins” pode ser bradado ao redor de todo o universo, pois o Sodom cumpre com maestria o seu papel em mais um dos seus grandes discos.
Se para alguns e também para a mídia especializada é considerado o álbum de retorno ao Thrash puro e moedor de ossos, para outra parcela destes grupos, se trata de um álbum que recolocou o Sodom no mapa das grandes bandas do Metal mundial, angariando mais fãs ao redor do globo terrestre. E o que dizer de sua capa? Segue sendo cada vez mais genial, principalmente por incomodar seres sem alma, sem cérebro e sem estrutura emocional para viver uma vida digna que não seja a de encher o saco de alguém. A capa consegue mostrar o quanto o mundo está doente com tantos imbecis poluindo este maravilhoso planeta. “’Til Death Do Us Unite” neles!!!
“This will the first and the last act
Inside your mind
It’s useless to save yourself
And don’t try to hide
You got a message to kill
From a higher place
The horrors of war
Switched off your brain
Take revenge!”
Nota: 9,0
Integrantes:
- Tom Angelripper (vocal, baixo)
- Bobby (bateria)
- Bernemann (guitarra)
Faixas:
- Frozen Screams
- Fuck The Police
- Gisela
- That’s What An Unknown Killer Diarized
- Hanging Judge
- No Way Out
- Polytoximaniac
- ‘Til Death Do Us Unite
- Hazy Shade Of Winter (Simon & Garfunkel cover)
- Suicidal Justice
- Wander In The Valley
- Sow The Seeds Of Discord
- Master Of Disguise
- Schwerter zu Pflugscharen
- Hey, Hey, Hey Rock’n Roll Star
Redigido por Stephan Giuliano