Álbuns Injustiçados: Lucifer’s Friend – “Lucifer’s Friend” (1970)

“Lucifer’s Friend” é o debut da banda alemã de Hard Rock, Lucifer’s Friend.

Neste quadro destacamos discos que são excepcionais em qualidade musical, porém, não obtiveram o reconhecimento que mereciam. Muitos deles são absolutamente desconhecidos do grande público e, é neste espaço que tentaremos corrigir algumas injustiças históricas que aconteceram no universo do Heavy Metal.

Em meio a tantas bandas e obras consagradas que surgiram nos primórdios do que conhecemos hoje como Heavy Metal, uma banda e uma obra, um tanto obscuras e desconhecidas do grande público, se destacam com maestria. Lucifer´s Friend, e seu debut autointitulado, lançado em 1970.

Mas porque um álbum tão relevante e influente para o desenvolvimento do Heavy Metal seria injustiçado?

Digamos que, não apenas o debut da banda, mas todos os seus álbuns iniciais lançados na década de 70 são muito mais cultuados do que aclamados e reconhecidos de acordo. Decerto, muito disso, se deve a aquele velho conceito de se estar no lugar errado, na hora certa, ou vice versa. Os maiores expoentes e pioneiros do Hard Rock/Heavy Metal estavam concentrados basicamente no Reino Unido, alguns vindos de Birmingham (Sabbath), outros de Hertfordshire (Purple) e alguns das neblinas de Londres (Zeppelin,Heep) e todos os holofotes estão voltados para esse rapazes cabeludos que faziam esse som mais direto e alto, e com uma atitude diferenciada.

Então, uma banda alemã competir de frente com a cena britânica da época era algo inimaginável. Mas a verdade é que o maravilhoso e importantíssimo álbum de estreia do Lucifer´s Friend se tornou uma fonte de inspiração seminal para o surgimento de gêneros que ainda eram meros embriões na época, devido a sua sonoridade que catalisava todos os principais elementos do Rock psicodélico e o Blues Rock que se fazia no final da década de 60, letras sombrias e intrigantes e é claro, a misteriosa e incitante arte da capa, que com certeza está entre as melhores da década de 70.

Contexto histório do álbum

Creio que não seja necessário se aprofundar no contexto histórico em que estamos entrando aqui, então indo direto ao assunto sem mais rodeios, estamos nos primórdios da música pesada, ainda não havia dinheiro para cocaína, nem heroína ou groupies, só a necessidade de fazer música. No inicio, havia o Astherix, banda que era chegada do Lúcifer e tinha potencial, porém lhe faltava algo, um elemento importante e responsável pelo front da banda, então surgiu o ilustríssimo John Lawton e foi definido oficialmente o Lucifer´s Friend como um quinteto. Assim que, Peter Hesslein (guitarra), Dieter Horns (baixo), Joachim Rietenbach (bateria, percussão), Peter Hecht (piano, orgão, trompa) completam a formação clássica e original da banda, e cada um deles teve seu momento nesse registro.

“Ride The Sky”, canção absoluta

Como citado mais acima, a sonoridade do grupo era típica das bandas de Rock da época, porém havia algo genuíno no som dos alemães, algo que prende a atenção do ouvinte até os dias de hoje, logo de inicio em “Ride The Sky”, talvez a música mais conhecida da carreira da banda, temos o todo poderoso vocal do Sr. John Lawton a todo vapor abrindo o registro da melhor maneira possível.

Logo após, “Everybody´s Clown” da inicio ao deleite instrumental que é esse registro, linhas de baixo criam terreno para a guitarra e as teclas do órgão digladiarem fervorosamente entre si. Em contrapartida, em “Keep Goin” temos um dos momentos mais “bluzeiros” do álbum e, é inevitável fazer comparações com o gigante Led Zeppelin, que já dominava o mundo na mesma época. Aliás, a terceira faixa do debut tem um dos mais fantásticos riffs já tocados pelo homem, uma condução rítmica entre baixo e bateria excepcional, e é claro Sr, Lawton fortalecendo a firma como só ele fazia.

“Toxic Shadows” volta a abrir espaço para a dupla de Peters brilhar novamente, enquanto tudo é conduzido por linhas de baixo de cair o queixo, numa faixa basicamente instrumental, sete minutos de uma viagem lisérgica pelo entrosamento musical do grupo.

“Free Baby” é aquela dor de corno indispensável num registro de uma banda Rock setentista que se preze…-“Hey baby, essa cama em que você dorme, é minha ou de outra pessoa? / Se for outra pessoa, garanta que ele irá lhe tratar bem.”

A melhor canção do disco

Em seguida, temos “Baby You Are A Liar”, a melhor música deste primoroso álbum, de acordo com este com vos escreve.

Temos novamente um riff simples, porém eficiente e potente que abre a faixa, novamente discutindo feio com o órgão, num conflito violento que se estende durante alguns segundos, até a voz do Sr. Lawton surgir e impor respeito e ordem novamente.

“In The Time of Job When Mammon Was a Yippie” é uma das faixas mais energéticas do álbum, tem uma energia diferenciada e cheia de peso, novamente uma cortesia da ilustre dupla de Peters.

Chegamos então nos últimos minutos do registro, onde podemos ouvir uma bizarra e sinistra introdução indistinta, algo que parece ter saído da trilha sonora de um filme do diretor Alfred Hitchcock, mestre do suspense. Logo em seguida, temos linhas de baixo que ditam o ritmo dessa faixa, do inicio ao fim, é como se o instrumento conversasse livremente com as guitarras e o órgão, e todos eles tivessem vida própria, é uma experiência surreal se ainda adicionarmos os altíssimos agudos que o Sr. Lawton alcança em alguns segundos aqui, sem palavras pra essa canção como um todo.

“Venha e pegue minha mão, eu sou amigo de Lúcifer / Esta noite será o fim do seu caminho.”

Inegavelmente, Lucifer´s Friend cravou seu nome com êxito na história do Metal e o Rock, apesar das inconsistências e mudanças de direcionamento na carreira, a desvalorização absurda por parte da indústria, eles conseguiram se tornar uma longeva fonte de inspiração para bandas e músicos até os dias de hoje.

O retorno do Lucifer’s Friend em 2016

Após quase 25 anos de hiato sem um registro de inéditas, a banda retoma oficialmente em 2016, com o ótimo “Too Late To Hate”, trazendo uma parcela da formação original de volta. Posteriormente, em 2019, a banda lança seu décimo full-lenght intitulado “Black Moon”, e facilmente um dos melhores registros da discografia da banda e da extensa carreira de John Lawton, reunindo elementos clássicos presentes no cultuado debut, com uma sonoridade mais atual.

No entanto, infelizmente, em dezembro do ano seguinte, vem a falecer o baixista e membro fundador do Lucifer´s Friend, Sr.Dieter Horns, deixando seu legado em todos os registros de estúdio da banda.

Enfim, no final de junho deste ano, John Lawton vem a falecer, deixando também seu legado como uma das maiores e mais emblemáticas vozes da história do Rock, tendo gravado todos os registros do Lucifer´s Friend e sua conhecida e aclamada passagem pela banda Uriah Heep, entre os anos de 1976 e 1978.

“Nós do Mundo Metal, agradecemos a John Lawton pelo grande legado que deixou ao mundo do Rock e Metal…R.I.P”

Nota: 8,8

• Integrantes:

• John Lawton (vocal) **R.I.P**
• Peter Hesslein ( guitarra)
• Peter Hecht (piano, teclados)
• Dieter Horns (baixo) **R.I.P**
• Joachim Rietenbach (bateria) **R.I.P**
   
• Faixas:
• 1.Ride The Sky
• 2.Everybody´s Clown
• 3.Keep Goin´
• 4.Toxic Shadows
   
• 5.Free Baby
• 6.Baby You Are A Liar
• 7.In The Time of Job When Mammon Was a Yippie
• 8.Lucifer´S Friend
   
• ***Faixas bônus de relançamento do álbum em 1990
• 1.Rock ´n´Roll Singer
• 2. Satyrs ´s Dance
• 3.Horla
• 4. Our World is a Rock ´n´Roll Band
   
• 5.Alpenrosen
• ***Faixas bônus de relançamento do álbum em 2010
• 1.Horla
• 2. Lucifer´s Friend (Radio Edit)
   
• Redigido Por: Vaz
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