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A viagem perigosa do Paradise Lost! Do experimentalismo à redenção

Na estrada desde 1988, os ingleses do Paradise Lost fazem parte de um seleto grupo de nomes que
foram do céu ao inferno em determinado momento de sua carreira.

   
PARADISE LOST / Reprodução / Acervo

Analisando a carreira musical do quinteto inglês, podemos classificar duas fases de sua carreira: O antes e o depois de “Draconian Times” (1995).

Desde sua estreia em 1990 com o ótimo “Lost Paradise” até “Obsidian”, seu mais recente registro
de inéditas editado em maio de 2020, foram 16 álbuns oficiais de estúdio, além de um vasto material
que inclui EP’s, live albums, coletâneas, videografia, inúmeros singles, etc, a banda passeou por vários
estilos em determinados momentos de sua carreira, adicionando inclusive o Eletrônico, flertando
com o Industrial e alguma coisa (pouca é verdade) de Synthwave.

PARADISE LOST / DARK WORLD / Acervo


As mudanças em sua sonoridade aconteceram principalmente na metade dos anos 90 quando
lançaram a trinca “One Second” (1997), “Host” (1999) e “Believe In Nothing” (2001),
trabalhos responsável por afastar os fãs mais antigos (sou um deles), golpeados com a
mudança drástica e espantosa de uma banda que havia lançado pérolas como “Lost Paradise”
(1990), “Gothic” (1991), “Shades Of God” (1992), “Icon” (1993)
, além do insuperável
“Draconian Times” (1995), em minha humilde opinião, o seu melhor e mais impactante álbum.


   

Para entender melhor o que aconteceu com o quinteto, é preciso voltar no tempo, revisitar a história e a mudança de comportamento desses tiozões ingleses.


Oriundos de Halifax, West Yorkshire, Inglaterra, e formado em 1988, o quinteto deu os primeiros passos ao lançar as demos “Morbid Existence” e “Paradise Lost”, seguido de “Frozen
Illusions”
, editadas em 1988 e 1989, respectivamente.

PARADISE LOST / Acervo / Reprodução


Em 1990, finalmente era lançado “Lost Paradise”, álbum de estreia editado oficialmente no dia 05 de fevereiro do citado ano, via Peaceville Records.


Os primeiros trabalhos mostravam uma banda totalmente fincada na sonoridade que mesclava o
Death Metal, passando pelo Doom e Gothic Metal. Faixas como “Deadly Inner Sense”, “Paradise Lost” e “Rotting Misery”, representam bem os exemplos das referidas sonoridades.


A boa receptividade de “Lost Paradise” preparou o terreno para “Gothic”, segundo (e excelente)
trabalho lançado em março de 1991, trazendo leves mudanças na sonoridade e como bem entrega o
título, o quinteto investiu e mergulhou profundo no Gothic Metal, embora o Death e o Doom caminhem paralelo em determinados momentos do disco.


Faixas como “Dead Emotion”, “Shattered”, “Rapture”, “Silent”, “Eternal” e “Gothic”, faixa
que batiza o álbum , representam com maestria a leve mudança no estilo do quinteto.

Vale lembrar que aqui a banda adicionou vozes femininas em algumas faixas, deixando sua
sonoridade moldada ao Gothic Metal, servindo de referência para grupos futuros.


Em julho de 1992, o grupo lança mais um trabalho de inéditas, “Shades Of God”, terceiro registro da carreira, e mais um disco contendo mudanças em sua sonoridade.

   


Com uma produção mais caprichada e agora numa nova gravadora (Music For Nations), o grupo
abandona as partes Death Metal e mergulha nas melodias do Gothic e Doom Metal.


Destaques para as incríveis “Mortals Watch The Day”, “Embraced”, “Pity The Sadness”,
“Your Hand in Mine”, “The Word Made Flesh” e a excelente “As I Die”.


O bom desempenho de “Shades Of God” colocou-o na 79a posição da Dutch Albums (Album
Top 100) garantido portas abertas e excelente receptividade para o magistral “Icon”, quarto registro
que chegou às lojas em setembro de 1993, mostrando a banda amadurecida com relação aos trabalhos anteriores.

Essa “maturidade” está evidente em todos os aspectos do disco. Da produção, passando pelas letras,
concepção, sonoridade definida e principalmente os vocais de Nick Holmes, que abandonou em
definitivo as vozes rasgadas do Death Metal, firmando-se enfim como um vocalista de
Gothic/Doom.


A boa recepção para o referido álbum trouxe bons frutos para o Paradise Lost que viu “Icon”
figurar na 80a posição das paradas musicais dos Países Baixos e 31a posição nas paradas da
Alemanha.

   


Vale ressaltar que para os padrões musicais, o quinteto definitivamente nadava contra a maré e este
era mais um motivo para ser comemorado já que na época a banda não havia lançado nada comercial.
Apesar de um disco espetacular, vale destacar canções como “Embers Fire”, “Remembrance”,
“Joys Of The Emptiness”, “Colossal Rain”
e “True Belief”.

A turnê de divulgação do disco trouxe a banda pela primeira vez ao Brasil, onde
tocaram na segunda edição do Monsters Of Rock, realizado em setembro de 1995 no
Estádio do Pacaembu, em São Paulo.


A banda tocou ao lado de nomes como Megadeth, Ozzy Osbourne, Faith No More, Therapy? e Alice Cooper.

PARADISE LOST / Reprodução / Facebook


Em um dos melhores momentos (à época) de sua carreira, foi lançado o impactante, surpreendente
e incomparável “Draconian Times”, quinto álbum de sua discografia e indiscutivelmente o disco
PERFEITO.


Oficialmente, o novo trabalho chegava às lojas em junho de 1995 e apresentava 12 faixas inéditas,
além do cover para “Walk Away” do Sisters Of Mercy.

   


Com uma sonoridade amadurecida de fato, o grupo entrega em “Draconian Times” não apenas um
grande disco, mas seu melhor trabalho e um dos grandes lançamentos daquele ano, figurando nas
paradas de países como Áustria (21a posição), Bélgica (24a), Holanda (47a), Finlândia
(24a), Alemanha (15a), Suécia (16a), Suíça (20a),
e Reino Unido (16a).


Apesar de trazer uma tracklist onde todas as faixas se destacam, os singles responsáveis por
representarem o disco foram “The Last Time” e “Forever Failure”, a qual traz um pequeno
diálogo proferido por Charles Manson, extraído do documentário “The Man Who Killed the
60s”
(O Homem que matou os anos 60), produzido pela Box Production para o Channel
Four Television Corporation. Ambos os singles foram contemplados com seus respectivos
videoclipes.



Finalmente, a banda atingiu o topo com um disco perfeito, elogiado pelos fãs e pela crítica que se rendia ao perfeccionismo musical do referido registro. O sucesso de vendas, os destaques nos charts e nas paradas musicais certamente era a garantia de que o grupo lançaria um trabalho tão bom ou no mesmo nível de “Draconian Times”, certo? Errado!


Numa infeliz tentativa de soar comercial, o grupo lança em julho de 1997, o diferente (e perigoso)
“One Second”. Seguindo uma linha totalmente diferente de seu antecessor, o disco apresenta a banda fazendo um meio termo entre o Heavy e o Gothic, resultando em uma sonoridade moderna e diferente de tudo que haviam gravado.


Aqui, acontece o grande erro e ao mesmo tempo o acerto. Eu explico!


O erro aconteceu quando o grupo começou a perder seus fãs mais antigos, aqueles que acompanharam
a evolução e o crescimento do quinteto, que aqui literalmente se distanciava de sua sonoridade.
O acerto (se é que podemos chamar assim), veio quando banda começou a ganhar uma gama de novos fãs, que receberam o novo trabalho de braços abertos, elevando o nome do Paradise Lost, que
continuava em ascensão.

   
PARADISE LOST – band photographed in Israel 1992. Photo credit: Tony Woolliscroft/IconicPix

A aposta de uma nova sonoridade estava evidente em todas as faixas de “One Second”, que assim
como seu antecessor invadia as paradas de sucesso em países como Alemanha, Áustria, Bélgica,
Países Baixo, Finlândia, França, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido.


Para representar o disco, os singles “One Second” e “Say Just Words”, faixas que ganharam
videoclipes e invadiram (na época) as programações Rockers da MTV.


Se no álbum “One Second” , a banda embarcou numa viagem eletrônica, em “Host”, álbum
lançado em maio de 1999, esta viagem continuava, e dessa vez o quinteto literalmente mergulhou
numa atmosfera eletrônica sem precedentes.


As mudanças não estavam fadadas apenas a sua música, já que os ingleses também mudaram de
visual seguindo a hype do Metallica. É certo que eles tenham pensado o seguinte:

“Ok! Se eles podem usar o cabelinho da moda, maquiagem e roupas da moda, nós
também podemos”.

E o fizeram!

   

A mudança brusca de estilo (e visual) certamente assustou até mesmo o fã mais incrédulo,
que talvez ainda imaginasse vê-los fazendo a música que fizeram no passado ou que algo próximo.
Ledo engano.

PARADISE LOST / Acervo

Se no passado o grupo soava pesado, sombrio, melancólico, aqui eles apostaram numa sonoridade
totalmente diferente de tudo que fizeram. Citando exemplos e traçando paralelos, o quinteto era agora um clone de nomes como Orgy, Depeche Mode, Radiohead, KMFDM, Zeromancer, Babylon Zoo, Information Society, The Kovenant, Dope Stars Inc, Neon Synthesis, 3Teeth, Rammstein, Emigrate, Prodigy, Ministry, etc. Com isso, podemos dizer que a banda estava pronta para ser a atração principal de qualquer festa RAVE.


O disco marca a decadência musical de uma banda que se perdeu durante sua caminhada e
certamente mentira para si próprio ao gravarem um dos piores registros de sua discografia, bem como
um dos piores trabalhos daquele ano (opinião pessoal).


Apesar de pavorosos e totalmente desconexos, “So Much Is Lost” e “Permanent Solution”, por
algum milagre, conseguiram a condição de single trazendo consigo a difícil missão de representar o
disco. Por incrível que possa parecer, ambos ganharam seus respectivos videoclipe (desnecessários).


É difícil acreditar que apesar de tenebroso, “Host” figurou nas paradas de sucesso de países como:
Alemanha, Áustria, Finlândia, França, Noruega, Suécia e Reino Unido.

   


Em fevereiro de 2001, o quinteto lança mais um trabalho de inéditas. “Believe In Nothing”, oitavo
álbum da carreira e o terceiro capítulo do pesadelo musical iniciado em 1997 com o já mencionado “One Second”. O álbum segue os mesmo rumos de “One Second” e “Host”, formando assim uma das piores trincas de todos os tempos e, consequentemente, os três piores discos da banda que vergonhosamente ainda assinavam como Paradise Lost.


Inexplicavelmente, o disco figurou nas paradas de sucesso da Alemanha, Áustria, Finlândia,
França, Suécia, Suíça
e Reino Unido.


Não obstante, o disco ainda conseguiu apresentar “I Am Nothing”, “Fader” e “Mouth”, como
singles com direito a videoclipes…


Outubro de 2002: era lançado “Symbol Of Life”, álbum responsável pelo início das mudanças
de sonoridades, já que aparentemente a banda acordava de um pesadelo que parecia não ter fim.
Apesar de trazer todos os elementos eletrônicos de seus antecessores, o novo trabalho começava a
trazer mudanças principalmente nas guitarras e nas linhas de bateria.


O disco dá mostras de que a banda já ensaiava mudanças e que a fase vergonhosa apresentada nos
trabalhos anteriores estava com seus dias contados (para nossa alegria).

“Erased”, “No Celebration” e “Symbol Of Life”, música que batiza o disco, foram escolhidos para singles e ambas ganharam seus respectivos videoclipes.

Não se pode dizer que “Symbol Of Life” seja um trabalho primoroso, porém comparado aos
pesadelos sonoros de outrora, já tínhamos algo infinitamente melhor e mais convincente.

   


A boa repercussão do novo trabalho resultou positivamente nas paradas de sucessos de países como
Alemanha e França, despontando inclusive na 166a posição da UK Albums Charts.


O disco marca a despedida de Lee Morris, que após longos anos deixou o posto de baterista. Aliás, em
todos os anos de carreira, o posto de baterista foi o único que sofreu alterações.


O disco ainda apresenta um cover para “Smalltown Boy”, originalmente gravada pela banda
britânica de Synthpop, Bronski Beat.


Em março de 2005, o álbum “Paradise Lost”, décimo trabalho de inéditas do quinteto, chega às lojas.


O novo registro homônimo conta com 12 faixas inéditas e aqui, já é possível perceber uma volta (gradual) ao passado glorioso do grupo, já que algumas faixas nos remetem a trabalhos como “Shades Of God” e “Icon”.

   


Os trabalhos seguintes foram: “In Requiem” (2007), “Faith Divides Us – Death Unites Us”
(2009), “Tragic Idol” (2012), The Plague Within” (2015),
onde a banda retorna às origens, seguido de “Medusa” (2017) e “Obsidian” (2020)
, discos que gradualmente
moldaram a sonoridade do quinteto fazendo com que os mesmos revisitassem seu passado glorioso,
extraindo dele os momentos sombrios, agressivos e melancólicos, deixando de lado enfim aquela fase de insanidade e extrema vergonha pela quais passaram entre 1987 e 2001.


Os discos pós “Symbol Of Life” (sem exceção) receberam boas críticas, figurando nas paradas de
sucesso (e vendas) de vários países. Singles e videoclipes também foram lançados, representando estes trabalhos.

PARADISE LOST / Divulgação / Facebook


Seu mais recente trabalho, o excelente “Obsidian”, lançado em 15 de maio de 2020, figura na lista dos grandes álbuns lançados pelo quinteto, bem como um dos melhores registros do chamado
Gothic/Doom Metal, eleito pela Metal Hammer como o 11o “Melhor Álbum de Heavy Metal de 2020”.


Após o lançamento de “Obsidian”, o grupo aproveitou o momento de pandemia que assolou
o mundo impedindo algumas bandas de realizarem shows, para lançar, em março de 2021, o álbum
“Gothic – Live At Roadburn 2016”, seguido de “At The Mill’ (julho de 2021) e “The Lost In
The Painless”, Boxed Set composto por 05 CD’s, 02 Live albums e 01 DVD, editado em 21 de
novembro do referido 2021
.


Numa lista imensa de grupos que tentaram inovar ao mudar drasticamente sua sonoridade, o Paradise Lost foi sem dúvidas um dos poucos que conseguiram abandonar as experimentações, se moldar e voltar enfim ao estilo que os revelou ao mundo.

PARADISE LOST / Reprodução / Facebook


Respeitados por sua musicalidade, grupos como My Dying Bride, Anathema, The Gathering,
Amorphis, Cradle of Filth, Katatonia, Moonspell, Lacuna Coil, HIM, Nightwish
, etc, citam
o quinteto inglês como grandes influências e referências para suas composições.

   
PARADISE LOST / Divulgação / Facebook

Redigido por: Geovani “Sandy & Junior” Vieira

   
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Comentários

  1. Excelente artigo, porém, parece que acabou o seu gás e empolgação, quando chegou no In Requiem.
    Poxa, poderia ter seguido a mesma linha, falando da sonoridade de cada album e das faixas preferidas.
    E os álbuns são bem diferentes entre si, o próprio Tragic Idol é Heavy Metal pra caramba.
    Tenho muito carinho pelo Faith divide us, death unite us, tem uma pegada mais depressiva.
    Agora o The Plague Within foi uma BOMBA!
    A banda voltou com todo o peso, mas com muito mais maturidade e qualidade que os antigos.
    Ali foi banda de Doom ensinando como que faz Doom. Som lento, pesado, opressivo, melancólico. Tenho certeza que os fãs antigos morreram de paixão kkkkkk.
    Padadise é uma das minhas bandas favoritas.
    Você poderia fazer um parte dois, abordando melhor os álbuns que só citou.
    E para mim, a banda se divide em 5 momentos distintos.
    1 Death/doom dos primeiros trabalhos
    2 Draconians Times
    3 Parte popzera
    4 Tentaiva de retorno (fim dos anos 2000)
    5 Retorno a glória (The Plague Within/ atual)

  2. TENHO TODOS LPS .. FÃ D ANTIGA.. O DISCO BELIVE E A CANÇÃO MOUTH É MUTIO FODA.. UMA VIAGEM AO TEMPO… TODOS OS DISCOS E CANÇÕES SÃO ÓTIMAS;; EM QUALQUER FASE.

  3. Rapaz, já havia escutado o 1 album deles, mas hj resolvi escutar até a fase 2001, ainda não terminei mas quando terminar voltarei aqui pra dar meu feedback a respeito.

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