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Resenha: Sodom – “The Arsonist” (2025)

Décimo sexto álbum da extensa e proveitosa discografia do Sodom, “The Arsonist” é o segundo trabalho que conta com um lineup no formato de quarteto, após a reconstrução — vamos chamar assim — que aconteceu depois do lançamento de “Decision Day”, disco editado em 2016.

O Sodom conta atualmente com Tom Angelripper (baixo e vocal), Frank Blackfire e Yorck Segatz (guitarras) e Toni Merkel (bateria). E para aqueles que dizem que o grupo alemão, um dos pioneiros do Thrash Metal, se repete bastante, saiba que “The Arsonist” é muito diferente de seus dois antecessores, principalmente, se pensarmos no que a banda apresentou em “Genesis XIX” (2020).

Enquanto no álbum passado, tínhamos algumas músicas de maior duração e com trechos instrumentais mais longos — alguns exemplos são “Genesis XIX”, “The Harpooneer” e “Waldo & Pigpen” — nesse novo disco temos basicamente uma coleção de composições mais diretas e todas com minutagem curta. As músicas de “The Arsonist” estão na marca dos 3 e 4 minutos e, com isso, temos uma audição muito mais fluída e direta.

Reprodução/Facebook

Fiéis desde o começo

Apesar de algumas críticas afirmarem que o álbum anterior é melhor, além de ser algo subjetivo, também é um pouco cedo para cravar algo assim. Afinal de contas, estamos discorrendo sobre 13 músicas que ainda não tiveram um tempo adequado para maturação. Fuja desse tipo de análise. Caso seja necessário afirmar algo, podemos concluir que temos mais um álbum onde a musicalidade do Sodom segue intacta e mais afiada do que nunca.

Sabemos que Tom Angelripper pretende desacelerar os trabalhos com o grupo e, provavelmente, depois desta nova turnê, vai entrar em um período de hiato por tempo indeterminado. Se isso acontecer, o Sodom será a única banda de Thrash que seguiu na ativa desde sua fundação e nunca se desviou do DNA original. E convenhamos, isso é um grande feito.

Sobre “The Arsonist”, provavelmente esta exaustão de Tom Angelripper tenha contribuído um pouco para que o álbum fosse mais direto e menos trabalhado. Isso de maneira alguma é um demérito, até porque o Sodom tem diversos registros na discografia com estas características. Inclusive, muitos deles são considerados grandes clássicos ou, no mínimo, ótimos trabalhos.

Reprodução/Facebook

Sodom ou Slayer?

A audição começa com “The Arsonist”, uma introdução com 1 minuto de duração e emenda com “Battle Of Harvest Moon”, a real faixa de abertura. Podemos dizer que o disco começa muito bem, com um típico Thrash Metal old school, acelerado, visceral e carregado com a assinatura musical do Sodom. O trabalho de bumbos de Toni Merkel é bem interessante e ainda destaco os backing vocals na parte do refrão. Os solos da dupla Frank Blackfire e Yorck Segatz funcionam muito bem e o álbum certamente começa do jeito certo.

“Trigger Discipline”, o primeiro single disponibilizado, chega na sequência. E esta é a música mais Slayer que o Sodom já gravou, principalmente, por conta dos vocais de Angelripper que soam até como uma homenagem a Tom Araya. Apesar das semelhanças, é sem dúvidas uma das melhores do track e um dos pontos altos da audição. “The Spirits That I Called” começa com um riff classudo que te engana, quando você pensa que trata-se de uma música mais cadenciada, os caras engatam aquele “tupa” bonito de se ouvir. Música bem curtinha, direta ao ponto e soa como um rolo compressor que quando você começa a entender o que está acontecendo ele já te atropelou e foi embora. Bela trinca, do jeito que gostamos e do jeito que deveria ser em todo bom disco de Thrash Metal.

Revisitando e homenageando o passado

Witchhunter é outra que foi lançada como single e trata-se de uma composição em homenagem ao baterista original do Sodom, Christian “Witchhunter” Dudek. Consequentemente, a faixa remete justamente aos primeiros álbuns da banda e resgata muito bem a essência daqueles tempos. O refrão é muito bom, a bateria de Toni Merkel se destaca novamente, e aqui faz bastante sentido isso, já que o músico disse em uma entrevista recente que tentou se inspirar nas linhas de Witchhunter para gravar esta faixa. Homenagem mais do que merecida.

“Scavenger” traz aquela mistura que quando é feita com competência — e aqui é — traz resultados excelentes. Estou me referindo a famosa mescla entre cadência e peso. Sabe aquela música que quando toca o pescoço começa a bangear no piloto automático? É isso. “Gun Without Groom” começa com o apocalipse sonoro em forma de música. Com uma introdução cheia de técnica e, mais uma vez, com aquele tipo de linha vocal que lembra Tom Araya, essa música tem trechos de bateria que partem quase para o Metal extremo. Inegavelmente uma das melhores do álbum e também uma das mais agressivas, além de ser provavelmente a mais técnica.

Chegamos a Taphephobia, outro single lançado um pouco antes da chegada do disco e mais um arrasa-quarteirão. É impressionante como Sodom sendo Sodom já impacta demais. Não tem nada que nunca ouvimos, mas essa identidade e assinatura faz a banda ser o que ela é. O refrão traz referências aos discos mais icônicos do passado e a parte cadenciada no meio da composição é extremamente acertada. Até aqui temos o Sodom gabaritando.

Speed – Thrash – Sodom

“Sane Insanity” possui um riff inicial a lá Slayer, mas depois percebemos uma leve referência ao Kreator da época do álbum “Coma Of Souls”, será que tem algo a ver com a presença de Frank Blackfire? O que acham? Seguindo, temos “AWTF”, que começa bem diferente com uma marcação de bateria e vocais falados, mas depois explode num baita Speed Metal. E para quem tem dúvidas sobre as diferenças entre Speed e Thrash, basta ouvir o “tupa” da bateria na faixa anterior e depois retornar a esta música. Embora o Sodom tenha outras composições com essa veia Speed Metal aflorada em sua carreira, confesso que não esperava algo nesta linha, ainda mais neste ponto da audição. Revitalizou o tracklist e abriu a quadra final que por sinal é um dos pontos altos do trabalho.

“Twilight Void” possui um início cadenciado e um peso descomunal, mas logo depois o quarteto alemão resolve subverter tudo e o negócio se transforma numa locomotiva Thrash atropelando todos que ousem ficar na frente. Música com muitas variações rítmicas, e eles sabem criar esse tipo de faixa muito bem. “Obliteration Of The Aeons” começa despretensiosa e vai ganhando força, vai acelerando e é outra que te faz bangear no piloto automático.

E no encerramento, no apagar das luzes, os caras chegam com nada menos que “Return To God In Parts”, remetendo diretamente a fase do ótimo “M-16”. É mais ou menos o seguinte: você pensa que está saindo quase ileso da audição e é atropelado pelo rolo compressor alemão (mais uma vez). E o título da canção é bem propício, pois depois de acompanhar uma discografia tão visceral durante tantos anos e depois de fazer a audição do disco novo, só nos resta retornar para Deus… em pedacinhos, é claro!

Reprodução/Facebook

Não demore para voltar

Depois de um álbum como este, só podemos esperar que Tom Angelripper e seus comparsas aproveitem bem as férias e não demorem para retornar deste hiato autoimposto. Nós entendemos que os músicos precisam de descanso, principalmente, quando trata-se de uma banda que jamais parou. São mais de 40 anos lançando disco atrás de disco e sempre representando o gênero em seu estado mais bruto. Mas sejamos francos, o Thrash Metal não está preparado para ficar órfão do Sodom neste momento. Não mesmo.

Até logo, rapazes!

Nota: 9

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