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Resenha: Frightful – “What Lies Ahead” (2025)

E lá vem a Polônia com mais um lança-mísseis carregado! A munição da vez atende por Frightful e a banda segue pelos caminhos do vale da morte e do mosh. Assim sendo, unem o Death ao Thrash Metal, provocando erosões no solo em que você pisa. Duvida? Então, me acompanhe nessa nobre empreitada.

O território polonês se tornou muito mais do que emergente dentro do Metal. Afinal, o país tem costumeiramente apresentado ótimas bandas e discos durante os últimos tempos. O universo polaco vai muito além de ótimas figuras tarimbadas como Vader, Hate e Behemoth. Contudo, acabo comparando de maneira positiva com a Grécia. Entretanto, a Grécia tende bem mais para o Black Metal e a Polônia finca a sua bandeira no Death/Black. Mas, desta vez a plumagem é outra e, mesmo estando dentro do Death Metal, o tempero buscado a mais é o Thrash. Tudo isso, em se tratando de Frightful.

A banda surgiu em dezembro de 2016, na cidade de Gdańsk, Pomerania. Logo no ano seguinte, os metalheads poloneses lançaram o primeiro EP “Born After Burial” (2017). Em seguida, veio o segundo EP intitulado “Cannibalistic Rites”, de 2018. Portanto, o álbum debutante somente veio em 2021. “Spectral Creator” marca, de fato, o pontapé inicial do Frightful em questão de álbuns de estúdio. E se hoje tocam Death/Thrash Metal, antes a banda percorria os caminhos do Death Metal/Grindcore. Ainda bem que mudaram, pois ficaram bem melhores.

O segundo amuleto maligno do Frightful

Se antes tivemos uma ótima surpresa com o grande lançamento do compatriota Embrional, a força foi aumentada com o lançamento do Frightful. Embora a resenha do Embrional tenha sido redigida antes, o “What Lies Ahead” foi lançado antes do trabalho da banda citada. Mais precisamente em 20 de fevereiro via Godz ov War Productions. O álbum foi gravado, mixado e masterizado no Studio 147. A arte de capa ficou a cargo da Belial NecroArts, comandada por Nuno Zuki e seu ótimo pseudônimo Belial Necro.

As suas influências ditas partem para o lado de Carcass, Exhumed, Demolition Hammer e Sepultura. Porém, também foram identificadas outras bandas nesse molho perverso e eficaz. Costumo chamar isso de semelhanças ao invés de influências, já que são elementos encontrados por quem ouve o disco. Diferentemente de quando a banda cita suas reais influências das quais foram destacadas acima. A banda é formada pelo baterista Krzysztof Pochranowicz, o guitarrista Paweł Snarski, o vocalista e baixista Oskar Wańka, além do estreante guitarrista Eryk Jakubczyk. O músico está na banda desde 2023 e este é o primeiro álbum em que participa. Ele entrou na vaga do também guitarrista Mateusz Mencel.

Frightful/Facebook

Início assustador do Frightful com uma tríade nefasta

Os integrantes se mostram sabedores do assunto ao iniciar o novo álbum com “Cloaked by Nothingness”, passando por “Disincarnate Sower” e culminando em “What Lies Ahead”, faixa que carrega o nome do novo full length. Ou seja, três estrondos de trombeta viscerais que te fariam comprar o disco na hora, caso tenha versão nacional e de fácil acesso por aqui.

1ª trinca

Em “Cloaked by Nothingness”, ao ser encoberto pelo nada e abraçado por uma negação espectral, temos um rito em marcha denso e atrativo. Os movimentos percussivos, alinhados aos agudos de guitarra, pavimentam o caminho infernal para uma linha devastadora. O comboio chega com toda a pompa maléfica e violenta para te abraçar e vê-lo apodrecer na vastidão da escuridão. A harmonia impetuosa invade o local e apresenta dedilhados insanos semelhantes ao que encontramos no Virtual Void, da Tchéquia, e o clássico Master, de Paul Speckmann. Quanto aos movimentos mais insanos, estes são semelhantes ao Morbid Angel e ao Sinister. Uma excelente cartada inicial em anúncio à extinção inevitável da humanidade.

Já em “Disincarnate Sower”, temos uma marcha triunfal para martelar em seu crânio e cravar na sua mente cada trecho dessa insanidade sonora. O tempero de enxofre exala por entre as palhetadas precisas de um dedilhado simples, porém envolvente. O formato da canção é adequado ao pensamento sobre a imensa corrosão da realidade. Resultado obtido através dos atos injuriados. O mundo está em queda e com ele temos o Fraightful encarnando simplesmente o Unleashed e tornando o ambiente altamente inflamável. Os solos são o pedaço suculento de carne da sopa de trevas.

Enquanto em “What Lies Ahead”, você se depara com uma vida fria e aflita de alma desolada e miserável. O início é naquele formato em dedilhado sinistro de violão para abrilhantar e incendiar a sua visão musical. Blast beats são bem-vindos logo de cara. Ao ser arrebatado pelo divino inverso, temos uma sequência magistral que mistura bases faiscantes e dedilhados flamejantes. Estes sim, muito inspirados no Sepultura do “velho testamento”. Por conta da agressividade mais acentuada ao Death Metal, temos boa dose de Krisiun, além de solos gélidos e profanos para alimentar “la bestia”.

Uma “meiuca” consistente

A partir da quarta faixa, “No Fear”, o disco só melhora e evidencia a evolução notória da banda polonesa. “Into the Phantom Hearts” funciona como um complemento definitivo e “Farewell” fecha a parte central com a sabedoria de um feiticeiro maligno. E além disso, optei por deixar você ouvir e encontrar elementos musicais que te façam lembrar de outras bandas ou até mesmo as bandas que já citei aqui neste pergaminho.

2ª trinca

“No Fear” destaca mais uma poesia tirada do âmago das trevas e petrificada pela escuridão definitiva. O céu enegrecido e sem lua, portanto pleno, serve de fator condutivo para que a armada do mal profane em verso e prosa sem precisar de nenhuma intro. Direta ao ponto, literalmente, a faixa ascende e desperta o mal em fúria. Os intervalos na canção funcionam como lembrete ao Thrash, além da própria trepidação insana de bateria. Os dedilhados maquiavélicos atravessam paredes e rompem selos de proteção como um verdadeiro contragolpe e acertam em cheio a luz. Os solos são breves, conforme manda a cartilha do Thrash direto, mas é acobertado por variações sonoras precisas. Sentiu um toque de Slayer na condução das baquetas em algum momento? Claro!

O Death Metal invade o território sem bater na porta, ou melhor dizendo, destrói casas e vilarejos sem precisar avisar que acabou de chegar. “Into the Phantom Hearts” mostra todo o seu potencial na sua primeira parte, porém sofre ótima variação com uma condução mais cadenciada e com dedilhados precisos mais uma vez. A partir da metade da canção entra um lance quase progressivo, trazendo o Pestilence para a lista de convidados ilustrativos com suas semelhanças. Corações são perfurados por esta sonoridade e se transformam rapidamente em gelo. Assim, tornando-se um coração fantasma em meio aos dedilhados angustiantes e instigantes.

“Farewell” completa a segunda trinca e traz consigo mais agressividade com aquele excelente molho old school, com ervas malditas polacas. Enquanto se sussurra mentiras, os fragmentos da vida são carregados pelo humano mais famoso da biblioteca que muitos carregam embaixo dos seus braços cheirosos e nada ardilosos. Deixa eu citar uma banda aqui: Torture Squad, com Vitor Rodrigues nos vocais. Exceto na parte dos solos, já que estes foram customizados de acordo com o enredo.

O momento de maior glória e devoção ao fim de tudo

Notas dissonantes surgem de um ponto jamais visto e atingem o infinito com tanta força, que o céu se quebra como se fosse um espelho fino. Agora, a escuridão está completa e você só tem duas missões a partir de agora. Adentrar à bela valsa e bailar com sua amada por toda a extensão territorial, agora sem limites. Afinal, “quem tem limite é município”! E o Frightful, não!

“Cathedrals of Creation” não é uma faixa de Black Metal, muito longe disso. Mas o seu riff em sustentação de notas dissonantes trazem esse mar mais sombrio para o meio da poça ensanguentada e dos bastões manchados por conta das pancadas desferidas em “posers que infestam a cena”. Para o dono do nanquim virtual aqui, ela é o ápice do belo álbum “What Lies Ahead”. Funciona como uma explosão máxima do poder de ataque do Frightful e você fica atônito, caso ouça ela de forma repentina.

Fragmentos de uma viagem alucinante

O contrabaixo de “Cathedrals of Creation” pulsa formidavelmente e faz até o gárgula mais petrificado sorrir de felicidade. Enquanto isso, duas perguntas são feitas nesse hino:

“Que solução o medo pode trazer?
No final, o que você tem que pensar?”

Por entre o sopro demoníaco da eternidade, a figura santificada é tida como principal alvo refletido no solstício do destino. A base musical de sustentação funciona como um exército trombeteiro em busca da glória eterna. Sendo assim, os atrasados sempre perdem dentre inúmeros caminhos a serem criados através dos pilares do destino.

“O gorduroso sempre foi alimentado
Enquanto milhões devem procurar o pão
No domínio da angústia crua
Quando a bondade deve descansar”

A agressividade sonora exala a visão sobre o semeador da luxúria, de pensamentos proibidos e criado do pó. Entretanto, os blast beats e as viradas técnicas e vorazes, revelam e destacam uma moral tão tênue com sorriso horrível em pele de cordeiro. A parte final, com vários elementos diferenciados, mas sem fugir da sua premissa habitual, incita que ninguém tem permissão para ver o que a criação fez contigo, comigo e com tudo à nossa volta. Pois, tudo é colorido até cair em completa desgraça. Eis então, a catedral da criação…

Inexplicável apoteose demoníaca com classe

Eu posso até colocar a canção anterior como a melhor do disco, mas jamais posso me esquecer de “Inexplicable”, síntese do Metal da morte. Essa canção possui várias das estruturas pertencentes ao estilo de forma sublime. A massa sonora invade o cenário e provoca briga com todo o plano terreno. Após uma primeira parte mais ríspida e tradicional, temos dedilhados médio/agudos que promovem ótima nuance para a mesma. E não para por aí, pois a sequência entrega incríveis melodias contemplativas e elegantes.

Em um mundo que decide quem tem e quem não tem, o Metal não olha o quanto de poder você tem. Você pode ouvir, desde que tenha ouvidos resistentes à morbidez das guitarras em meio a um massacre de bateria e um baixo que mais parece o motor de um carro veloz.

A canção pega o seu melhor smoking e se prepara para mais uma parte da valsa de enredo lamuriante, com destaque para o lado negativo da criação. Entretanto, a parte final ainda apresenta solos bem provocativos e condizentes com a trama. Afinal, através dos séculos, a vida continua passando e brilhando como uma estrela cadente. Portanto, enquanto você consegue observar a vasta escuridão, ouça o novo álbum do Frightful com a devida atenção.

Conclusões criativas nada essenciais

“What Lies Ahead” é um disco com temática que explora o lado depreciativo da criação. Ou seja, as falhas constantes da humanidade; o lado sombrio da realidade; a vocação do ser para se autodestruir; a implacável corrida do tempo com previsão para o fim; o ímpeto da morte em dizer chega para qualquer iniciativa; o padrão mórbido que atravessa eras e não evolui; a ala carniceira do ser humano que só sobrevive se tiver alguém para pisotear. Portanto, um tema delicado para quem não possui uma visão aprofundada com relação ao significado real da escuridão intensa.

Sobre a banda, a formação atual se mostra muito entrosada e o Metal percorrendo as veias. Portanto, trata-se de um álbum muito promissor para que faça a banda se tornar cada vez mais relevante. O cenário extremo necessita de bandas com esse calibre. E o Frightful possui qualidade de sobra em relação a tais requisitos.

Oskar Wańka possui um vocal muito expressivo e com identidade própria, ao mesmo tempo que traz à mente outras vozes marcantes. Todavia, as suas construções estruturais de contrabaixo são um primor e trazem muito mais do que peso à musicalidade da banda. Apresenta muita qualidade, principalmente.

Os guitarristas Paweł Snarski e Eryk Jakubczyk formam uma dupla formidável e acrescentam muito para o estilo. Bases, variações, harmonias, pontes e solos de muito bom gosto. Isso, com toda a certeza, faz das músicas algo que você deseja ter contato mais e mais vezes.

Por fim, a máquina de moer ossos, o baterista Krzysztof Pochranowicz é extremamente versátil e sem fugir das tradições do subgênero.

“A forma humana é tão submissa
Estabelecida nas linhas de milhões
Rastejando de volta à forma da simplicidade
Pensando que eles nunca morrem
A terra prometida está cuspindo direto em
Rostos de sua espécie inútil
Desprovidos de todas as leis e fundamentos
Reunindo-se além de nossas linhas”

nota: 9,0

Integrantes:

Faixas:

1. Cloaked by Nothingness
2. Disincarnate Sower
3. What Lies Ahead
4. No Fear
5. Into the Phantom Hearts
6. Farewell
7. Cathedrals of Creation
8. Inexplicable

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