“=1”, vigésimo segundo full lenght da carreira do Deep Purple, está chegando hoje, 19/7/2024, pelo selo earMUSIC, ou seja, quase quatro anos após seu sucessor, “Whoosh!”. Nesse hiato, em 2021, ainda saiu um disco de covers, “Turning To Crime”, que foi o último a contar com o guitarrista de longa data, Steve Morse. Tão logo Morse, guitarrista mais longevo da história do Deep Purple, deixou o quinteto, Simon McBride (ex-Sweet Savage) o substituiu.
“=1” e a expectativa de alguém que é fã de Deep Purple desde que tinha 13 anos
Assim como ocorreu quando resenhei “Whoosh!” em 2020, a expectativa pelo novo álbum do Deep Purple estava enorme. Conforme mencionei várias vezes anteriormente, o meu início no Rock/Metal se deu logo que ouvi “Highway Star” pela primeira vez na casa de um tio, quando eu tinha somente 13 anos. Muitas outras bandas do coraçao vieram depois, mas o lugar do Deep Purple jamais deixou de ser especial. Por conta disso, no catastrófico ano pandêmico de 2020, enquanto eu redigia o texto sobre “Whoosh”, pensei que poderia estar resenhando o derradeiro álbum desse fantástico quinteto. Felizmente, eu me equivoquei, já que “Turning to Crime” e “=1” o sucederam.
Line-up atual do Deep Purple
Embora 4 dos 5 membros do atual line-up estejam em idade avançada, a vontade de compor e gravar parece interminável. Sorte dos que vivem na mesma época que eles e, dessa forma, podem celebrar juntos essa história que continua a ganhar mais capítulos. Além deles, o mais novo membro do Deep Purple, o guitarrista Simon McBride, não soa como Steve Morse e tampouco como Ritchie Blackmore, contudo, soando a sua própria maneira, ele conseguiu se encaixar perfeitamente à atual sonoridade da banda que, há tempos, busca fixar-se de volta as suas raízes na década de 1970.
Ainda que eu seja seu fã assumido, sei que Ian Gillan jamais reproduzirá o alcance que teve outrora. Assim mesmo, a Silver Voice mantém seu charme e seu timbre característicos. Certamente, Gillan nunca deixará de ser ele mesmo. Quanto a Ian Paice, ele continua sendo tecnicamente um monstro, pois nem o AVC que ele sofreu recentemente foi capaz de baixar o nível de suas performances.
Dividindo seus solos entre as suas próprias características e sons que homenageiam o legado de Jon Lord, Don Airey parece melhor a cada novo lançamento. Airey nunca quis ser Lord no Deep Purple, até porque ele sequer precisava disso, mas, por outro lado, sempre fez questão de cultuar as suas lembranças através de seus lindos solos.
Deep Purple é = música de alto nível
A ótima “Show Me”, canção que faz lembrar a pegada no álbum “Who We Do We Think We Are”, é a responsável pela abertura de “=1”. Destacamos os solos de McBride, Airey e, da mesma forma, a melodia grudenta, a qual Gillan impôs através de sua perfeita interpretação. Em seguida, vem “A Bit On The Side”, que é mais dançante e conta com uma surpreendente linha de baixo de Roger Glover. Riffs intensos de guitarra dão vida a “Sharp Shooter”, ao propósito de levar a mente a uma viagem rumo aos primeiros anos da década de 70. Através de sua voz, Ian Gillan, por sua vez, mostra toda a sua influência Blues, mesmo que a serviço ao Classic Hard Rock.
“Portable Door”, a grande canção de “=1”
A belíssima canção “Portable Door”, que carrega nossas memórias com lembranças dos mais bem sucedidos clássicos do Deep Purple, é o que, primordialmente, chamamos de fan service. Um canção que doravante, decerto, fará parte do set list do Deep Purple nos shows. Logo depois, “Old Fangled Thing”, inicialmente, passeia entre o Classic e o Hard Rock. Mas depois, de maneira surpreendente, ela alterna com momentos que nos remetem ao álbum “Come Taste the Band”, de 1975, o qual Ian Gillan sequer fazia parte da banda.
A balada “If I Were You” é um lindo Blues ao melhor estilo Ian Gillan, que remete a composições como “Place In Line”, “When Blind Man Cries” e, porque não, “Wasted Sunsets”, já que o solo de guitarra de Simon McBride soa fantástico nesse contexto. “Pictures Of You”, segundo single do novo álbum, do mesmo modo que o single de estreia, “Portable Door”, tem certo apelo comercial quando o assunto é Deep Purple, podendo também frequentar os futuros set lists. Aliás, não há como não mencionarmos o lindo solo melódico de baixo de Roger Glover.
Deep + Purple = Classic Hard Rock de qualidade
O bom e velho Deep Purple segue com “I’m Saying Nothin'”, faixa que não está entre os destaques do disco, entretanto não há necessidade alguma de “ser pulada”. Enfim, é a hora do terceiro single, “Lazy Sod”. Não é a toa que a palavra Lazy está ai, já que essa canção nos faz lembrar a pegada das faixas mais cadenciadas do “Machine Head”, inclusive mesclando um pouco daquele Jazz/Blues/Rock de sua canção quase homônima, uma das clássicas do disco mais bem sucedido da história do Deep Purple. Outra característica de “Lazy Sod” é que ela lembra, discretamente, a recém aposentada banda britânica, U.F.O.
A fim de trazer mais “Machine Head” à lembrança, chega “Now You’re Talkin'”. Essa música faz com que “Never Before” venha a nossa cabeça com o plus dos exuberantes solos de Simon McBride e Don Airey. Já “No Money to Burn” tem uma levada mais cadenciada, um Hard Rock com um pouco mais de modernidade e, ainda assim, com a alma do Deep Purple completamente presente.
“I’ll Catch You” é mais um momento no qual o espírito do Blues vive nesse registro, ora conduzido pela voz de Gillan ora pelo feeling da guitarra de McBride, acompanhados, no ritmo e na harmonia, pela já conhecida competência de Glover, Paice e Airey. Finalizando o ótimo vigésimo segundo disco do Deep Purple, temos a alto astral “Bleeding Obvious”. Essa canção encerra esse álbum de forma tão acertada quanto o mesmo iniciou, acrescentando um boa dose de Prog Rock.
Conclusão
A solução da equação “=1” é Deep Purple sendo Deep Purple, através da décadas, tornando vidas mais felizes, através da magia intensa do Rock’n’Roll presente em todos os corações que juntos ajudaram a manter essa chama acessa e ainda mais viva do que nunca.
Nota 8,6
Integrantes:
- Ian Paice (bateria)
- Roger Glover (baixo, vocal)
- Ian Gillan (vocal)
- Don Airey (teclado)
- Simon McBride (guitarra)
Faixas:
- 1.Show Me
- 2.A Bit on the Side
- 3.Sharp Shooter
- 4.Portable Door
- 5.Old Fangled Thing
- 6.If I Were You
- 7.Pictures of You
- 8.I’m Saying Nothin’
- 9.Lazy Sod
- 10.Now You’re Talkin’
- 11.No Money to Burn
- 12.I’ll Catch You
- 13.Bleeding Obvious