High Roller Records
Para todos aqueles que duvidaram da longevidade das bandas pertencentes a NWOTHM e afirmaram que seria impossível que “meia duzia de moleques ousados” pudessem realmente ressuscitar o “Heavy datado dos anos 80” em pleno século 21. Bem, aqui estão elas – ou pelo menos a maioria delas – assistindo de camarote grande parte dos ditos críticos morderem a língua. E é preciso dizer que apesar de alguns excessos acontecidos aqui e acolá, o movimento foi realmente capaz de rejuvenescer a cena Heavy de maneira incontestável e, até mesmo, impensável. As novas bandas não apenas se mantém na ativa mesmo depois de mais de 20 anos do surgimento da nova onda, como também encorajaram grandes nomes do passado a voltarem à ativa.
Sabemos que nada disso seria possível sem o lançamento de grandes álbuns e é para falar sobre isso que nós estamos aqui. Os suecos do Air Raid possuem uma tragetória bastante peculiar, sendo uma das primeiras bandas desta nova geração ao qual eu realmente me identifiquei lá em meados de 2012 quando lançaram o seu disco de estréia. De lá pra cá, somente o guitarrista Andreas Johansson permanece em seu posto de origem e nos três primeiros trabalhos do grupo, tivemos três vocalistas diferentes. E é bom que se diga, três vozes absolutamente distintas, com estilos quase antagônicos, timbres bastante característicos e interpretações cheias de identidade. Pois bem, nada disso foi capaz de prejudicar a capacidade criativa da banda e todos os registros até o momento foram extremamente competentes em suas propostas.
O que temos de novo em “Fatal Encounter” é basicamente a afirmação de um núcleo base no line-up do Air Raid. O álbum foi lançado no último dia 24 de fevereiro via High Roller Records e, pela primeira vez, temos a repetição tanto da dupla de guitarristas formada pelo já mencionado Andreas Johanson e seu comparsa Magnus Mild, como também do vocalista Fredrik Werner, todos estes presentes no elogiadíssimo “Across The Line”, de 2017. Completando o time, os novatos Jan Ekberg (baixo) e William Seidl (bateria) são os responsáveis por revitalizar a parte rítmica do quinteto sem descaracterizar sua musicalidade.
Apesar deste ser o quarto full lenght da banda, é o primeiro em que notamos realmente uma continuidade em relação ao disco anterior. E por falar em continuidade, de cara precisamos mencionar a evolução dos vocais de Fredrik Werner. Se no trabalho anterior, o rapaz apresentou uma performance correta que funcionou como uma espécie de cartão de visitas, neste novo registro percebemos uma nítida evolução em todos os aspectos. Obviamente, este é apenas um dos acertos de “Fatal Encounter”, um outro que não pode deixar de ser mencionado é o tracklist enxuto e diversificado. Com apenas 9 músicas, sendo 1 delas uma introdução, temos cerca de 37 minutos de muitas alternâncias entre aquele Heavy/Speed Metal mais veloz e cortante, intercalando com canções mais voltadas ao Hard N’ Heavy e outras credenciadas a figurar no hall de composições mais tradicionais do Heavy clássico.
O disco abre com o single “Thunderblood” e esta não poderia ser uma melhor forma de fisgar o ouvinte. Com um riff certeiro, solos que esbanjam feeling e um refrão realmente marcante, “Thunderblood” te coloca na temperatura certa e prepara o terreno de forma brilhante para a matadora “Lionheart”. Esta segunda, um Speed Metal classudo novamente com um refrão de fácil absorção e um solo clássico que remete aos melhores momentos de guitarristas como Wolf Hoffmann (Accept) e o sueco Yngwie Malmsteen nos seus tempos áureos de Rising Force. Para os mais atentos, também é possível fazer uma ligação ainda que distante com o Rainbow de Ritchie Blackmore, principalmente, na fase em que Joe Lynn Turner era o cantor. Faixa absolutamente indispensável e candidata fortíssima a novo clássico da banda.
O início de “In Solitude” remete a “Aiming For The Sky”, do registro anteirior, mas a semelhança fica apenas na forma em que a banda apresenta o título da faixa em forma de coro. “In Solitude” chega para diminuir a velocidade propositalmente e nem por isso deixa de ser uma ótima música. Os riffs cavalgados, as linhas vocais e a construção arrojada com um belíssimo breque seguido de um solo cheio de feeling, é capaz de arrancar aquele sentimento de satisfação quando percebemos que uma banda encontrou a sua fórmula. Depois de uma trinca de respeito, “See The Light”, cover do Trazy, uma banda obscura da Suécia que gravou apenas uma demo tape em 1989 e apareceu na coletânea Rock of Sweden Volume 1, chega para adicionar velocidade e, certamente, homenagear as muitas bandas promissoras que caíram antes mesmo de poder mostrar seus trabalhos ao público na saudosa, porém impiedosa década de 80.
Partindo para o que seria o lado B do vinil, a intro “Sinfonia” faz a ponte perfeita para a sensacional “Edge Of A Dream”. Caso “Thunderblood” não tivesse sido escolhida como primeiro single, fatalmente, a escolha óbvia seria “Edge Of A Dream”. Esta é uma faixa que preenche todos os pré-requisitos para se tornar um daqueles hinos do Metal. Uma pena os tempos serem outros e as grandes arenas provavelmente não vão presenciar uma multidão cantando este refrão a plenos pulmões. Na sequência, “Let The Kingdom Burn” apresenta a melhor performance de Fredrik Werner desde que entrou na banda e, confesso, foi a faixa que mais me impressionou nas primeiras audições. Talvez por “Black Dawn”, canção presente em “Across The Line” (2017), ter passado despercebida durante boa parte das minhas primeiras audições na época e tempos depois ter se tornado a minha canção favorita do disco, desta vez me certifiquei que isto não acontecesse. “Let The Kingdom Burn” é marcada por linhas vocais perfeitas e, através de seu ritmo cadenciado, vai crescendo em termos de construção até que você está completamente envolvido com a natureza mais emocional da faixa.
Chegando no final, “One By One” traz toda a energia e aceleração de volta. E é preciso deixar registrado que em todas as vezes que isso ocorre em um álbum do Air Raid, temos um único resultado possível: Heavy/Speed Metal do mais alto quilate. Neste caso não é diferente e “One By One” nasceu para ser tocada ao vivo. Para o encerramento, uma grande brincadeira/homenagem que nós, brasileiros, conhecemos bem. Assim como o Angra, o Air Raid também gravou a sua versão para “Pegasus Fantasy”, o eterno tema do anime Cavaleiros do Zodíaco. Um final divertido e, de certa forma, inesperado para o disco.
“Fatal Encounter” desponta como principal lançamento do gênero neste início de ano e se posiciona algumas casas na frente de seus principais concorrentes. Ainda que seja muito cedo para falarmos de listas de melhores do ano, podemos afirmar que este disco coloca o sarrafo lá em cima e estabelece um padrão de qualidade altíssimo para os próximos lançamentos vindouros que quiserem entrar na disputa. Para não dizer que não falei das flores, este disco também coloca o Air Raid em definitivo entre as principais do Heavy tradicional da atualidade e legitima a nova formação como a melhor da carreira. Nossos votos são que não demorem mais 5 anos até a chegada do próximo.
Pontos fortes: duração, ordem das faixas, quantidade de faixas, musicalidade, criatividade, músicas marcantes, performances individuais e produção no ponto.
Ponto fraco: quando acaba… ou seja, nenhum.
Nota: 9,3
Integrantes:
- Andreas Johansson (guitarra)
- Magnus Mild (guitarra)
- Fredrik Werner (vocal)
- Jan Ekberg (baixo)
- William Seidl (bateria)
Faixas:
- Thunderblood
- Lionheart
- In Solitude
- See the Light (Trazy cover)
- Sinfonia
- Edge of a Dream
- Let the Kingdom Burn
- One by One
- Pegasus Fantasy (Make-Up cover)
Redigido por Fabio Reis