Nos últimos anos, a cena Heavy Metal da Itália tem sido de suma importância para os amantes da boa música. Não é de hoje que o país figura na seleta lista de exportadores de bandas que ultrapassaram fronteiras encurtando a distância entre outros países, graças ao “boom” acontecido na metade dos anos 90, quando nomes como Rhapsody Of Fire (ex-Rhapsody), Luca Turilli, Labyrinth, Vision Divine, Eldritch, Whiteskull e Time Machine tornaram-se alguns dos representantes do Heavy Metal feito com qualidade na terra de Michelangelo.
O sucesso desses grupos, em especial, Rhapsody. Vision Divine e Labÿrinth, abriu portas para novos nomes que despontaram anos mais tarde dando continuidade ao legado iniciado lá nos anos 90 e desde então, o país passou a ser uma das referências quando o assunto é Power Metal e/ou Symphonic Power Metal.
Figurando na seleção dos grupos que praticam o Prog/Power (ou Power/Prog ), está o Even Flow, quarteto formado em 2000 em Sássari, situada na ilha de Sardenha (Itália), uma das cidades mais antigas da ilha, bem como a segunda maior da Sardenha em termos de população.
O grupo nasceu da ideia dos irmãos Pier Paolo Lunesu (guitarras) e Giorgio Lunesu (bateria), além do baixista Gavino Salaris e do vocalista Marco Pastorino (ex-Secret Sphere, Virtual Symmetry, Temperance, Wonders, Fallen Sancturay, etc).
Praticando um misto entre o Progressive Metal e Power Metal, o quarteto conta com dois EPs, além de dois álbuns oficiais, sendo “Life Has Just Begun” o segundo (e excelente) registro lançado em fevereiro de 2018.
Produzido por Bob Katsionis (Firewind, Outloud, Serious Black, etc), enquanto Tommy Hansen (Helloween, Pretty Maids, Rage, Pagan’s Mind, etc) se responsabilizou pela pela mixagem, o disco apresenta 10 faixas inéditas divididas em aproximadamente 49 minutos de duração, transitando entre os estilos supracitados, mostrando um equilíbrio musical predominante da primeira à última faixa, oferecendo aos apreciadores de Prog/Power canções muito bem escritas, melodias cativantes, belas harmonias, instrumental coeso e um vocalista dono de uma das mais belas vozes do Progressive/Power Metal dos últimos tempos.
Vale citar que além de produtor, Katsionis é também o responsável pelas parte de teclados no disco. Sua participação como músico dispensa comentários, já que o trabalho aqui demonstrado é de suma importância, pois deu ao disco uma qualidade musical absurda.
Apesar da proposta Prog, o quarteto adiciona de forma inteligente o Melodic Power Metal, executado com maestria num híbrido que nos remete a grupos como como Labÿrinth, Secret Sphere, Vanishing Point, Eldritch, Seventh Wonder, Time Machine, Temperance, Virtual Symmetry, Hollow Haze, Vision Divine, Poverty’s No Crime, Evergrey, dentre outros.
Apresentações feitas, é hora de mergulhar na sonoridade do Even Flow, uma das melhores bandas da Itália e uma grata surpresa aos amantes dos estilos e grupos supracitados.
Vem comigo!
O disco abre com “Secret Prayer”, faixa single cujo encontro entre o Prog e o Power Metal ocorre, proporcionando ao ouvinte belas harmonias e melodias que nos remetem ao que praticam nomes como Poverty’s No Crime, Evergrey, Secret Sphere, Labÿrinth e Vanishing Point.
Destaques para a dupla Gavino & Katsionis, que mostra a sintonia perfeita entre baixo e teclados, soando intensos e pesados em determinadas passagens.
Como de costume, vos digo: Excelente faixa de abertura.
Seguindo a linha Prog/Power, a espetacular (e curta) “Come To Life”, faixa que traz uma hibrido musical entre Evergrey, Pain Of Salvation ( fase “Entropia”) e os australianos do Voyager dos discos “Element V” e “UniVers”. Não se deixe levar pelas linhas pesadas de baixo e bateria em seu início, cuja impressão é que a banda irá embarcar nas ondas sonoras do chamado “Modern Metal”. A verdade é que mergulhamos nas melodias geniais de uma canção onde Pastorino atua perfeitamente entre linhas graves e agudas, auxiliado pelo baixo de Gavino e a bateria ultra pesada de Giorgio, numa música espetacular.
Os backing vocals não poderiam ficar de fora, já que são os responsáveis por darem a devida assistência, soando perfeitos quando necessários, tornando-se assim a cereja do bolo.
Os riffs inicias com cara de Heavy Metal de “Azure Haze” logo encontram as linhas sublimes de teclados de Katsionis, onde os vocais de Pastorino se aliam a voz de Mark Boals (ex Royal Hunt, ex Yngwie Malmsteen, Empire, Iron Mask, Holy Force, ect), convidado especial, e juntos formam um duo perfeito numa das músicas mais incríveis do disco. Em seus quase seis minutos e meio de duração, somos envolvidos por uma canção que explora seu lado Prog sem nenhum pudor.
Aqui, o quarteto explora a sutileza do Progressive Metal, ao mesmo em que explora toda sua técnica, aliada a uma pequena dose de virtuose. Tudo isso sem soar cansativo, maçante ou desinteressante, formando assim a trinca perfeita e pomposa do disco.
Destaques para o solo grandioso emanado das guitarras de Pier Paolo (que solo lindo), além dos teclados excepcionais de Katsionis (o cara toca muito).
Traçando meu primeiro paralelo, direi que os teclados iniciais nos remetem a “Sister Nightfall”, faixa presente no álbum de estreia dos noruegueses do Sirenia.
O primeiro momento calmo de “Life Has Just Begun” acontece em “Believe”, canção que traz uma certa similaridade sonora com os brasileiros do Wizard e Angra (fase Andre Matos), ao mesmo tempo que nos remetem ao Labÿrinth e Vision Divine quando Michele Luppi assumiu as vozes.
Apresentando harmonias carregadas de sentimentos, eis aqui uma bela composição cujos vocais, mais uma vez, são a atração principal, dividindo as atenções com as guitarras geniais de Paolo, formando assim uma combinação perfeita de voz e melodias que encantam o ouvinte logo nos primeiros segundos de audição.
*Esta é uma daquelas canções perfeitas para tocar nas FMs.
Em seu momento Seventh Wonder, “Writing a Memory, Part 1: Releasing My Mind” é mais uma faixa (longa), onde a banda dá uma aula de sonoridade e principalmente de virtuose. De cara, é preciso enfatizar que os trabalhos instrumentais apresentados são os grandes responsáveis por um dos momentos mais belos em todo o disco, principalmente os teclados (mais um show de Katsionis) e suas orquestrações.
Se apresentando como a canção mais longa do disco, comparada às suas antecessoras, mergulhamos numa composição extraordinária em todos os sentidos.
Com suas melodias intrincadas, bem como em suas mudanças rítmicas e de andamentos, somos envoltos nas linhas de vozes espetaculares que por breves momentos nos remetem a maravilhosa “Chances” da banda americana Savatage.
*Estas breves referências aparecem na metade da música, especificamente quando os vocais são sobrepostos, se repetindo em várias camadas de vozes. Uma clara referência aos americanos.
Que música excepcional!
*Aqui, mais uma faixa contemplada com um videoclipe no formato Lyric Video.
Um encontro musical entre Stratovarius da fase “Visions” e Labyrinth do extraordinário “Return To Heaven Denied”. Esta é a sensação imediata ao ouvir “Infinity”, certamente o momento Power Metal (literalmente) do disco.
Traçando um paralelo musical, é como se Rob Tiranti (Labyrinth) estivesse cantando as melodias de “Hunting High and Low” dos finlandeses do Stratovarius.
Em resumo: Mais um momento espetacular do disco, e mais uma faixa contemplada com belíssimo videoclipe, cuja fotografia já valeria a pena.
Mais um momento “Música para corações partidos”, já que a bola da vez é a belíssima “Oblivion”.
O impressionante domínio e a facilidade com que a banda executa sua música é algo que de fato surpreende, já que passeiam por estilos diversos como o Prog, Power e ainda conseguem aterrissar sutilmente nas melodias brandas e emocionantes de uma canção que consegue acertar o alvo em cheio.
Não bastasse suas harmonias sutis, somos agraciados com mais um videoclipe excepcional, dono de excelente fotografia e também de um belo enredo.
Destaques para os backing vocals, precisos e grandiosos.
O encontro entre o peso e a virtuose: esta é a definição perfeita para “Alternate State Of Mind”, certamente, a música Prog Metal propriamente dita em todo o disco. Comandando o peso, estão o trio composto pelas guitarras (rifferama animal), o baixo (super pesado) e a bateria (veloz e ultra pesada) com seus bumbos duplos, fazendo uma conexão sonora com a faixa de abertura.
Apesar dos “barulhinhos eletrônicos” que permeiam suas harmonias, é preciso dizer que de certa forma, eles até se encaixam bem e não comprometem a qualidade sonora da música.
Além da dose extra de peso na parte instrumental, há também uma injeção de agressividade nos vocais de Marco Pastorino ao soarem mais “irados” e nervosos, em um clipe que poderia estar facilmente na videografia do Fear Factory, por exemplo.
Apesar da citação à banda americana, musicalmente temos o Even Flow soando na mesma linha sonora de seus compatriotas do DGM.
Em sua reta final, “Mystical Inside” é mais um momento cujo trabalho instrumental é absurdamente belo. Talvez tenhamos aqui uma das canções mais introspectivas do álbum. Responsável por ser a música mais difícil de se rotular, ouso dizer que estamos diante uma composição muito bem construída, onde a banda flerta com várias sonoridades, soando ora simples, ora complexa, porém, sem distanciar-se ou deixar de lado a essência Prog que permeia o disco.
O resultado é uma música extraordinária, cativante e dona de um refrão grudento, daqueles onde ao final da última nota, automaticamente, nos pegamos cantarolando suas melodias.
*Ao final, a tecla “repeat” pode ser usada sem moderação.
É meu costume dizer que um trabalho grandioso tem a obrigação de encerrar com uma música perfeita (fato).
Seguindo essa linha de raciocínio, “Season Never Changes” traz consigo a grande missão de fechar com chave de ouro um disco grandioso, espetacular e adicionando uma pequena dose de exagero, ouso chamá-lo de…
PERFEITO.
Trazendo em suas melodias uma dose pesada de sentimento e emoção, o disco fecha com uma canção onde a sutileza dos teclados encontram a elegância da voz de Pastorino, proporcionando aos nossos ouvidos um momento especial.
Ao final, é quase impossível não se apaixonar por cada nota emanada e cada frase proferida.
Chamam a atenção as belas notas de piano em seu início, dando-nos a impressão de estarmos numa sala de cinema, lendo os créditos finais de algum filme romântico, embalados pelas harmonias que tocam ao fundo.
*Em síntese: Uma música deveras emocionante!
Algumas (boas) observações são necessárias ao falar do quarteto italiano. Diferente da grande maioria dos grupos de Progressive Metal, a banda escolheu um caminho diferente ao traçar um equilíbrio para suas canções. Ou seja, não espere músicas que servirão de trilhas sonoras para hibernação e/ou que resolveram descobrir novas notas musicais. Não! definitivamente não temos isso aqui.
Virtuoso e melódico ao mesmo tempo, “Life Has Just Begun” traz consigo a incrível capacidade de não cansar e não ser um disco enfadonho, ostentando ainda uma produção impecável e cristalina.
Não bastasse toda a beleza sonora que o envolve, é impossível não se atentar ao timbre encorpado na voz de Marco Pastorino, lembrando a escola italiana de ótimos vocalistas. Dentre eles, Roberto Messina (Secret Sphere), Michele Luppi (ex-Vision Divine), Nick Fortarezza (Time Machine), Dan Keying (Cydonia), Pino Tozzi (Time Machine), Rob Tiranti (Labyrinth), etc.
Mais que um trabalho excepcional , “Life Has Just Begun” é o que podemos chamar de uma obra prima musical, composta por um grupo que traz em seu line up músicos excepcionais (sem exceção), responsáveis pelo surgimento de um melhores discos de Progressive Power Metal, lançado nos últimos quatro anos.
N do R: Caso esse disco fosse lançado neste ano, ao final desta resenha eu teria que classificá-lo com uma nota, seguindo os protocolos da escala que vai de 01 ao 10.
Não tenho dúvidas de que minha nota seria “Onze”, já que este tornou-se um dos meus discos prediletos e um dos mais ouvidos nos últimos tempos.
Sem dúvidas, um registro excepcional que me conquistou de imediato.
Integrantes:
- Marco Pastorino (vocal)
- Pietro Paolo Lunesu (guitarra)
- Gavino Salaris (baixo)
- Giorgio Lunesu (bateria)
Convidado especial:
Bob Katsionis (teclado)
Faixas:
- 1.Secret Prayer
- 2.Come to Life
- 3.Azure Haze
- 4.Believe
- 5.Writing a Memory
- 6.Infinity
- 7.Oblivion
- 8.Alternative State of Mind
- 9.Mystical Inside
- 10.Seasons Never Change
Redigido por: Geovani “Vírgula” Vieira